SóProvas


ID
3718849
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
Prefeitura de Betim - MG
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Conto: uma morada

O sonho de uma velha senhora

Juremir Machado da Silva


Contava-se que ela havia passado a vida lutando contra homens, doenças e intempéries. Dizia-se que criara sozinha onze filhos e enfrentara oito tormentas de derrubar casas e deixar muita gente desesperada. Durante muito tempo, teve um apelido: a flagelada. Era alta, magérrima e de olhos muito negros, duas bolas escuras que pareciam cintilar à beira do abismo. Era uma mulher de fala forte, voz rouca, agravada pelo cigarro, não menos de trinta por dia, do palheiro ao sem filtro, o que viesse, qualquer coisa que lhe permitisse sair do ar.

– Meu silêncio diz tudo – era o máximo que concedia a algum vizinho.

Apesar do seu jeito esquisito, era amada por quase todos. Gostava-se da sua coragem, da sua franqueza, alguns até falavam de uma ternura escondida por trás dos gestos de fera indomável. Muitos nem sabiam mais o nome dela. Era chamada simplesmente de “a velha”. Contava-se que prometera a si mesma viver cem anos para debochar das agruras da vida. Servira durante décadas de parteira, de benzedeira e até de responsável pela ordem nas redondezas. Impunha respeito, resolvia litígios, dava bons conselhos, sentia pena das jovens apaixonadas. Com o passar do tempo, ficou mais impaciente e menos propensa a ouvir longas e repetitivas histórias.

      (...)

Destino – Não se contava, porém, quando havia perdido tudo. Ficara sem casa. Vivia na cidade num quarto emprestado por um velho conhecido. Quando se imaginava que estava esgotada, que só esperava o fim para se livrar dos tormentos, ela se revelou mais firme do que nunca. Queria viver. Mais do que isso, deu para dizer a quem quisesse ouvir que tinha um sonho.

– Um sonho?

– Sim, a Velha tem um sonho.

A notícia espalhou-se como um acontecimento improvável. Com o que podia sonhar a velha? Contava-se que homens faziam apostas enquanto jogavam cartas ou discutiam futebol, mulheres especulavam sobre esse sonho, crianças se interessavam pelo assunto, todos queriam entender como podia aquela mulher árida ter um sonho, algo que a maioria, mais nova, já não tinha. Por alguns meses, pois ela fazia do seu novo silêncio um trunfo, foi cercada de atenção na busca obsessiva por uma resposta. Teriam até lhe oferecido dinheiro para revelar o seu sonho num programa de rádio.

Conta-se que numa tarde mormacenta de janeiro, com um temporal prestes a desabar, ela disse com a sua voz grave um pouco mais vibrante para quem pudesse ouvir (nunca se soube quem foi o primeiro saber):

– Quero voltar para casa.

Que casa era essa? A velha queria retornar ao lugar onde havia nascido, um lugar perdido na campanha onde vicejava solitário um cinamomo. Sonhava em ter uma casinha ali para viver os seus últimos anos. Desse ponto de observação, podia-se enxergar um enorme vazio. A comunidade, sempre tão dispersa, mobilizou-se como se, de repente, tudo fizesse sentido. O dono da terra aceitou que lhe erguessem um rancho no meio do nada para que ela fincasse suas raízes por alguns anos. Um mutirão foi organizado para erguer a morada. Até políticos contribuíram para a compra do modesto material – tábuas, pregos, latas – necessário à construção da residência. Num final de semana de fevereiro, a casa foi erguida.

Um rancho de duas peças: quarto e cozinha. Uma latrina a dez passos do cinamomo. Caía a noite quando tudo ficou pronto. Os homens embarcaram na carroceria de um velho caminhão e partiram. Ela ficou só no lugar que escolhera para viver depois de tantas lutas encarniçadas com o destino. Sentia-se vitoriosa. A lua cheia banhou os campos naquela noite. Ela passeou até onde as velhas pernas lhe permitiram. Deitou-se no catre com colchão novo. Fez questão de manter a sua cama. Morreu ao amanhecer com o sol faiscando na cobertura de lata reluzindo de tão nova e duradoura.

Adaptado de:<https://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/conto-uma-morada-1.392657>. Acesso em 26 jan. 2020.

Em “Num final de semana de fevereiro, a casa foi erguida.”, a vírgula foi utilizada para

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: D

    ✓ “Num final de semana de fevereiro, a casa foi erguida.”

    ➥ A vírgula está separando um adjunto adverbial de tempo de longa extensão que vem deslocado, não está na ordem canônica (=ordem direta). Uso obrigatório da vírgula para separá-lo.

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • ADJUNTO ADVERBIAL DE TEMPO DE LONGA EXTENSÃO - IN CASU, VÍRGULA OBRIGATÓRIA.

  • A questão quer saber o motivo de a vírgula ter sido usada em “Num final de semana de fevereiro, a casa foi erguida.”. Lembrando que na ordem DIRETA a oração fica assim: "A casa foi erguida num final de semana de fevereiro". Analisemos as alternativas.

    A demonstrar uma adversidade.

    Não há que se falar em adversidade. Adversidade seria se houvesse uma oposição, um contraste, o que não há nessa oração.

    B isolar orações que dependem uma da outra para terem sentido completo.

    Esse período é composto por uma oração, pois só há um verbo (foi). Há uma oração absoluta e não orações que dependem uma da outra.

    C demarcar um aposto explicativo, pois se informa quando a casa foi erguida.

    Não há que se falar em aposto explicativo. "Num final de semana de fevereiro" não é aposto explicativo, mas, sim, um adjunto adverbial de tempo.

    Aposto é um termo acessório ligado a substantivos, pronomes ou orações. O aposto explicativo é um termo que se junta a outro para explicá-lo ou especificá-lo melhor. Na frase, aparece destacado por vírgulas, parênteses ou travessões. Ex: Bolinha, o cachorro da vizinha, é fujão.

    D sinalizar um adjunto adverbial de tempo que não obedece à ordem direta da frase, visto que aparece no início.

    Certo. "Num final de semana de fevereiro" é um adjunto adverbial de tempo e aparece deslocado.

    A ordem direta das orações deve ser: SUJEITO + VERBO + COMPLEMENTOS (OD/OI/Predicativo do sujeito) + ADJUNTO ADVERBIAL. Quando o adjunto adverbial é deslocado, ele deve ser isolado por vírgula!

    Adjunto adverbial: é sempre um advérbio ou uma locução adverbial. Caracteriza melhor a ação expressa pelo verbo, acrescentando ou especificando uma circunstância qualquer (modo, lugar, tempo...)

    Ex.: Nós estudamos muito bem ontem no curso. (“muito” é adjunto adverbial de intensidade. “bem” é adjunto adverbial de modo. “ontem” adjunto adverbial de tempo. “no curso” adjunto adverbial de lugar.)

    E separar orações independentes, as quais possuem sentido completo isoladamente.

    Esse período é composto por uma oração, pois só há um verbo (foi). Há uma oração absoluta e não orações independentes.

    Gabarito: Letra D

  • Adjunto Adverbial deslocado

  • Colegas , simplificando o assunto :

    Usamos vírgulas quando estamos diante de adjuntos adverbiais deslocadas.

    Peço sua atenção ao detalhe , por vezes, cobrado :

    Em adjuntos adverbiais deslocadas apartir de 3 palavras vírgulas obrigatórias.

    Nos demais casos = facultativas

    Ontem estávamos só eu e ela.

    Ontem, estávamos só eu e ela.

  • Num final de semana de fevereiro, a casa foi erguida.” (Termo deslocado - Vírgula obrigatória)

    “ A casa foi erguida num final de semana de fevereiro.” (Ordem Direta, vírgula facultativa)

  • GAB D

    Ordem Direta: A casa foi erguida num final de semana de fevereiro. (não usa vírgula)

    Ordem indireta: Num final de semana de fevereiro, a casa foi erguida. (Vírgula obrigatória) adjunto adverbial deslocado de longa extensão.

    "desistir jamais"

  • GABARITO: D

    Usamos vírgula para separar um adjunto adverbial antecipado ou intercalado entre o discurso. Ex: Naqueles tempos, havia uma maior interação entre as pessoas.

  • Para isolar um Adjunto Adverbial temporal, o qual está fora da ordem direta.

    GAB: D (Para os não assinantes :)

  • Já corta as orações pois não existe verbo.
  • Lembrando que a vírgula é facultativa no adjunto adverbial de curta extensão deslocado, nesse caso é de longa extensão considerado por alguns gramáticos a partir de 3 palavras vírgula obrigatória.

    Ordem direta, sujeito, verbo, complemento e adjunto adverbial.

  • Tal Banca Considera vírgula Obrigatória Para Adverbio de Pequena Extensão Quando Deslocado!!!

  •  “Num final de semana de fevereiro, a casa foi erguida.

    A CASA FOI ERGUIDA NUM FINAL DE SEMANA DE FEVEREIRO - ORDEM DIREITA

  • Adjunto adverbial no inicio da oração deve-se colocar virgula.

    Assertiva: D

  • fiquei entre D e C..

    confunde um pouco... logo, errei.

  • ahhhh: de novo cara. fiquei entre D e C....

    kkkk vamos lá.

  • "AGURA FOI MAMINHOO"

  • Resposta: sinalizar um adjunto adverbial de tempo que não obedece à ordem direta da frase, visto que aparece no início.

    Aposto explicativo - É usado para explicar ou esclarecer um termo da oração anterior. O aposto explicativo sempre vem isolado na frase, podendo aparecer entre sinais de pontuação como vírgulas, parênteses ou travessões. Exemplos: -Priscila, estudante muito dedicada, conseguiu notas altas nas provas.

  • #RevisãoAtiva

    Em “Num final de semana de fevereiro, a casa foi erguida.”, a vírgula foi utilizada para:

    Explicação: No período temos apenas um verbo, ou melhor, uma locução verbal (foi erguida) presente na oração principal, que na ordem direta tem a seguinte reescrita: A casa foi erguida num final de semana de fevereiro. Perceba que o trecho em sequência "num final de semana" não apresenta verbo e, portanto, não pode ser classificado como oração. Além disso, tal trecho adiciona à locução verbal (foi erguida) ideia circunstancial de tempo. Como o adjunto adverbial é classificado como uma expressão que altera a ideia de um verbo, adjetivo ou outro advérbio, podemos marcar corretamente a letra D. Ademais, se a letra D mencionasse que a expressão seria uma oração adverbial, estaria incorreta conforme explicação acima.

    D) Correta, sinalizar um adjunto adverbial de tempo que não obedece à ordem direta da frase, visto que aparece no início.