SóProvas


ID
3720013
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
UFRB
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A cidade caminhava devagar
Henrique Fendrich

    Então você que é o Henrique? Ah, mas é uma criança ainda. Meu filho fala muito de você, ele lê o que você escreve. Mas sente-se! Você gosta de ouvir sobre essas coisas de antigamente, não é? Caso raro, menino. A gente já não tem mais com quem falar, a não ser com os outros velhos. Só que os velhos vão morrendo, e com eles vão morrendo as histórias que eles tinham para contar. Olha, do meu tempo já são poucos por aqui. Da minha família mesmo, eu sou o último, não tenho mais irmão, cunhado, nada. Só na semana passada eu fui a dois enterros. Um foi o do velho Bubi. Esse você não deve ter conhecido. Era alfaiate, foi casado com uma prima minha. E a gente vai a esses enterros e fica pensando que dali a pouco pode ser a nossa vez. Mas faz parte, não é? É assim que a vida funciona e a gente só pode aceitar. 
    Agora, muita coisa mudou também. A cidade já é outra, nem se compara com a da minha época. As coisas caminhavam mais devagar naquele tempo. Hoje é essa correria toda, ninguém mais consegue sossegar. Mudou muita coisa, muitos costumes que a gente tinha foram ficando para trás. Olha, é preciso que se diga também que havia mais respeito. Eu vejo pelos meus próprios netos, quanta diferença no jeito que eles tratam os pais deles! Se deixar, são eles que governam a casa. Consegue ver aquele quadro ali na parede? Papai e mamãe… Eu ainda tinha que pedir bênção a eles. A gente fazia as refeições juntos todos os dias, e sempre no mesmo horário. Hoje é cada um para um lado, uma coisa estranha, sabe? Parece que as coisas mudam e a gente não se adapta. E vai a gente tentar falar algo… Ninguém ouve, olham para você como se tivessem muita pena da sua velhice.
    Aqui para cima tem um colégio. Cinco horas da tarde, eles saem em bando. A gente até evita estar na rua nesse horário. Por que você pensa que eles se preocupam com a gente? Só falta eles nos derrubarem, de tão rápido que eles andam. As calçadas são estreitas e, se a gente encontrar uma turma caminhando na nossa direção, quem você acha que precisa descer, eles ou nós, os velhos? É a gente… Nem parece que um dia eles também vão ficar velhos como a gente. A verdade é que as pessoas estão se afastando, não estão se importando mais umas com as outras. Nem os vizinhos a gente conhece mais. Faz mais de um mês que chegou vizinho novo na casa que era do Seu Erico e até agora a gente não sabe quem é que foi morar lá. A Isolda veio com umas histórias de a gente ir lá fazer amizade, mas eu falei para ela que essa gente vive em outro mundo, outros valores, e é capaz até de pensarem mal da gente se a gente for lá.
    Mas você deve achar que eu só sei reclamar, não é? Tem coisa boa também, claro que tem. Hoje as pessoas já não sofrem como na nossa época. Ali faltava tudo, a gente não tinha nem igreja para ir no domingo, imagine só. O padre aparecia uma vez a cada dois meses e olhe lá. E viajar para o centro? Só de carroça, e não tinha asfalto, não tinha nada. Se chovia, a estrada virava um lamaçal e a gente tinha que voltar. Isso mudou, hoje está melhor. Hoje tem todas essas tecnologias aí, é mais fácil tratar doença também. Olha, se eu vivesse no tempo do meu pai, acho que não teria chegado tão longe assim, porque ali não tinha os remédios que eles precisavam, né? Só que também tem essa questão da segurança, que hoje a gente não tem quase nenhuma. A gente tem até medo que alguém entre aqui em casa. São dois velhos, o que a gente vai poder fazer contra o ladrão?
    Mas vamos sentar e tomar um café, a Isolda já preparou. Tem cuque, lá da festa da igreja. Se você viesse ontem, teria encontrado meu filho, ele quem trouxe. Depois quero te mostrar o álbum de fotos do papai. Está meio gasto, as fotos estão amarelas… Mas é normal, né? São coisas de outro tempo. Do tempo em que a cidade caminhava mais devagar.

Adaptado de: <http://www.aescotilha.com.br/cronicas/henrique-fendrich/a-cidade-caminhava-devagar>  . Acesso em: 28 jun. 2019.

Considerando o “que” usado nas orações a seguir, relacione as colunas e assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

I. “Mudou muita coisa, muitos costumes que a gente tinha foram ficando para trás.”
II. “E a gente vai a esses enterros e fica pensando que dali a pouco pode ser a nossa vez.”
III. “Por que você pensa que eles se preocupam com a gente?”

a. Pronome interrogativo.
b. Pronome relativo.
c. Conjunção subordinativa integrante.

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: A

    I. “Mudou muita coisa, muitos costumes que a gente tinha foram ficando para trás.” → PRONOME RELATIVO. Ele retoma o substantivo "costumes" e equivale a "os quais". Quando conseguirmos trocar o "que" por o qual, os quais, a qual, a quais, ele será pronome relativo.

    II. “E a gente vai a esses enterros e fica pensando que dali a pouco pode ser a nossa vez.” → CONJUNÇÃO SUBORDINATIVA INTEGRANTE. Equivale a "isso" e dá início a uma oração subordinada substantiva objetiva direta (=pensando ISSO).

    III. “Por que você pensa que eles se preocupam com a gente?” → PRONOME INTERROGATIVO. Preposição "por" + pronome interrogativo "que" (=por qual motivo, faz parte de uma pergunta direta). 

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • A questão é sobre a palavra "que" e quer que o classifiquemos em a. Pronome interrogativo. b. Pronome relativo. c. Conjunção subordinativa integrante. Vejamos:

     .

    I. “Mudou muita coisa, muitos costumes que a gente tinha foram ficando para trás.” 

    Neste caso, "que" é pronome relativo e equivale a "os quais": costumes os quais a gente tinha...

    "QUE" pronome relativo equivale a O(A) (S) QUAL (IS) Ex.: O livro que eu li é ruim. (que = O QUAL)

    Pronome relativo: introduz oração subordinada adjetiva. Exerce função sintática de sujeito, obj. direto, obj. indireto, complemento nominal, predicativo do sujeito ou aposto. A palavra pode ser trocada por "o qual, a qual, os quais, as quais". Ex.: O livro que li era péssimo. (que = o qual)

     .

    II. “E a gente vai a esses enterros e fica pensando que dali a pouco pode ser a nossa vez.” 

    Neste caso, "que" é conjunção integrante e equivale a "isso": fica pensando o quê? "ISSO" (= que dali a pouco pode ser a nossa vez.)

    "QUE" conjunção integrante equivale a ISSO / ESSE (A) Ex.: Estou certo de que você passará nas provas. (= Estou certo DISSO)

    Conjunção integrante: introduz oração subordinada substantiva. É mero conectivo oracional. As conjunções integrantes são representadas pelas conjunções "QUE" e "SE”. A oração pode ser trocada por "isso, nisso, disso". Ex.: Necessito de que me ajude. (= Necessito disso).

     .

    III. “Por que você pensa que eles se preocupam com a gente?”

    Neste caso, o primeiro "que" é pronome interrogativo. Já o segundo "que" que aparece é conjunção integrante = "ISSO" (= que eles se preocupam...)

    Pronomes interrogativos são usados na formulação de perguntas, sejam elas diretas ou indiretas. Assim como os pronomes indefinidos, referem-se à 3ª pessoa do discurso de modo impreciso. São eles: que, quem, qual (e variações), quanto (e variações).

     .

    Referência: CEGALLA, Domingos Pascoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, 48.ª edição, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.

     .

    Gabarito: Letra A

  • No Item 3

    “Por que você pensa que eles se preocupam com a gente?”

    O "que" que eu destaquei também seria um conjunção subordinativa integrante.

  • O examinador deve tá falando do primeiro QUE, na parte POR QUE. Sendo assim, poderia ser substituído por POR QUAL MOTIVO ... Se estiver errado, me avisem que apago o comentário
  • PRONOME RELATIVO --> VEJA SE PODE SUBSTITUIR POR "O QUAL, AS QUAIS",

    CONJUNÇÃO INTEGRANTE --> SUBSTITUI POR "ISSO"

  • GABARITO: A

    1-----> so trocar o QUE por os quais

    2------>substitui o QUE por isso

    3------->por+que dando uma ideia de pergunta

  • Ótima questão !

    por eliminação acertei

    raciocínio lógico ajuda muito nesse tipo de questão e um pouco de conhecimento das regras ...

  • APENAS ACERTEI PELA CONJUNÇÃO INTEGRANTE TROCANDO O QUE POR ISSO/ISTO, POIS AINDA NÃO ESTUDEI OS PRONOMES.

    “E a gente vai a esses enterros e fica pensando que dali a pouco pode ser a nossa vez.”

    E A GENTE VAI A ESSE ENTERRO E FICA PENSANDO OQUE? ISTO DALI A POUCO PODE SER A NOSSA VEZ

    ASSERTATIVA: A

  • CONSIDERAÇÕES SOBRE A QUESTÃO:

    DE FATO O GABARITO É A ALTERNATIVA A!! PORÉM ELA É A MENOS ERRADA! VEJA:

    O POR QUE NÃO É PRONOME INTERROGATIVO, MAS SIM UM ADVÉRVIO INTERROGATIVO DE CAUSA!!!!

    CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA DOS PORQUÊS:

    PORQUE = CONJUNÇÃO CAUSAL OU EXPLICATIVA

    PORQUÊ = SUBSTANTIVO

    POR QUE = ADVÉRBIO INTERROGATIVO DE CAUSA

  • Dica: Ache a  Conjunção subordinativa integrante, vc mata a questão.