SóProvas


ID
3935407
Banca
Instituto Excelência
Órgão
Prefeitura de Tremembé - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto abaixo e responda a questão.

O Homem Nu 


Ao acordar, disse para a mulher:

— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.

— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.

— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.

Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscarse a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.

Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:

— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa. Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.

Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares...

Desta vez, era o homem da televisão!

Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão: 

— Maria, por favor! Sou eu! 

Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.

Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.

— Ah, isso é que não! — fez o homem nu, sobressaltado.

E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!

— Isso é que não — repetiu, furioso. 

Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.

— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.

Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:

— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso. — Imagine que eu...

A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:

— Valha-me Deus! O padeiro está nu!

E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha: 

— Tem um homem pelado aqui na porta!

Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava.

— É um tarado!

— Olha, que horror!

— Não olha não! Já pra dentro, minha filha! 

Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.

— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.

Não era: era o cobrador da televisão. 

Assinale a alternativa CORRETA para a classe de palavras dos termos sublinhados.

“ Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava”.

Alternativas
Comentários
  • ✅ Gabarito: C

    “Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava”.

    ➥ O termo "elevador" é um substantivo, pois nomeia uma máquina que se movimenta na vertical e serve para transporte de passageiros e carga. Substantivo: classe de palavras com que se atribui nome aos seres, ações, objetos, características, sentimentos, estados. Exemplo: "minha geladeira está cheia."

    ➥ O termo "entre" é uma preposição, já que conecta os termos da oração. Preposição: palavra invariável que liga dois elementos numa oração, ou frase, criando e mantendo uma relação entre esses dois termos. Exemplo: "minha geladeira está cheia de refrigerante".

    ➥ O termo "parar" é um verbo, pois exprime uma ação.

    ➥ O termo "momentânea" é um adjetivo, pois qualifica o substantivo "ilusão".​ Adjetivo: termo que qualifica, caracteriza ou classifica o substantivo. Exemplo: na frase "minha geladeira está cheia.", o termo em destaque caracteriza o substantivo "geladeira".

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • estranho o A MOMENTANEA --- este a não torna momentânea como substantivo não ?

  • Gabarito provavelmente está incorreto tendo em vista que palavras depois de artigos, necessariamente virará substantivo.

  • "momentânea" é um adjetivo, está qualiicando, caracterizando o nome "ilusão"

    "A ilusão é que momentânea".

    Gabarito letra C!

  • O gabarito está correto.

    “ Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava”.

    Temos respectivamente um substantivo, uma preposição, um verbo e um adjetivo. A única classificação que pode ensejar alguma duvida é a do termo "momentânea". Percebam que embora este esteja precedido de artigo, o termo substantivo está localizado logo após, de modo que "momentânea" é um adjetivo anteposto ao substantivo que qualifica. Tal fato pode ser facilmente percebido pela possibilidade da troca de posição do adjetivo sem alteração da construção, " para ter a ilusão momentânea de que sonhava”.

    Guilherme Rodrigues, não. Não existe regra que prescreva a substantivação obrigatória de adjetivos pela simples existência de artigo. Nos casos em que tivermos adjetivo anteposto ao substantivo não há que se falar em substantivação.

    O gabarito é corretamente a assertiva C.

  • É que, na verdade, há uma troca na ordem do período, por isso o artigo permanece ali antes do adjetivo. Como o verbo ter aqui é transitivo direto, você está certo que só artigo depois dele. Ilusão é objeto direto e momentânea caracteriza o momento, ou seja um adjunto adnominal e não complemento nominal, já que não há preposição. Posso estar errada sobre o adjunto, claro, mas percebo desta maneira. Veja quanto à ordem:

    Respirou fundo para ter a ilusão momentânea de que sonhava, fechando os olhos.

    Ou seja, a personagem teria uma ilusão em curto tempo, no momento, naquele instante. Mesma coisa o exemplo: "Os estilhaçados cacos de vidros no chão... Que lástima!" (Você entende que são os cacos de vidro que estão estilhaçados no chão certo? Ainda assim o artigo permanece na frente do adjetivo, tal como a questão)

  • Macete simples para distinguir entre Adjetivo e Substantivo. Usar o TÃO vs TANTO.

    Coloque-os antes das palavras que têm dúvidas. Em adjetivos, o tão fará sentido e para substantivos o tanto.

    >Ex.: A bela corrida de amanhã será imperdível. (Tão bela - adjetivo ) / (Tanta corrida - substantivo )

    "(...) para ter a momentânea ilusão de que sonhava." (Tão momentânea - adjetivo)

  • Essa banca: só Deus.