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ID
4880833
Banca
FEPESE
Órgão
Prefeitura de Lages - SC
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto.

Brasileiro, homem do amanhã

Há em nosso povo duas constantes que nos induzem a sustentar que o Brasil é o único país brasileiro de todo o mundo. Brasileiro até demais. Colunas de brasilidade, as duas colunas são: a capacidade de dar um jeito; a capacidade de adiar.
    A primeira é ainda escassamente conhecida, e nada compreendida, no exterior; a segunda, no entanto, já anda bastante divulgada lá fora, sem que, direta ou sistematicamente, o corpo diplomático contribua para isso.
    Aquilo que Oscar Wilde e Mark Twain diziam apenas por humorismo (nunca se fazer amanhã aquilo que se pode fazer depois de amanhã), não é no Brasil uma deliberada norma de conduta, uma diretriz fundamental. Não, é mais, bem mais forte do que qualquer princípio da vontade: é um instinto inelutável, uma força espontânea da estranha e surpreendente raça brasileira.
    Para o brasileiro, os atos fundamentais da existência são: nascimento, reprodução, procrastinação e morte (esta última, se possível, também adiada).

Adiamos em virtude dum verdadeiro e inevitável estímulo inibitório, do mesmo modo que protegemos os olhos com a mão ao surgir na nossa frente um foco luminoso intenso. A coisa deu em reflexo condicionado; proposto qualquer problema a um brasileiro, ele reage de pronto com as palavras: logo à tarde; só à noite; amanhã; segunda-feira; depois do Carnaval; no ano que vem. Adiamos tudo: o bem e o mal, o bom e o mau, que não se confundem, mas tantas vezes se desemparelham. Adiamos o trabalho, o encontro, o almoço, o telefonema, o dentista, o dentista nos adia, a conversa séria, o pagamento do imposto de renda, as férias, a reforma agrária, o seguro de vida, o exame médico, a visita de pêsames, o conserto do automóvel, o concerto de Beethoven, o túnel de Niterói, a festa de aniversário da criança, as relações com a China, tudo. Até o amor. Só a morte e a promissória são mais ou menos pontuais entre nós. Mesmo assim, há remédio para a promissória: o adiamento bi ou trimestral da reforma, uma instituição sacrossanta no Brasil.
    Quanto à morte, não devem ser esquecidos dois poemas típicos do Romantismo: na Canção do Exílio, Gonçalves Dias roga a Deus não permitir que ele morra sem que volte para lá, isto é, para cá. Já Álvares de Azevedo tem aquele poema famoso cujo refrão é sintomaticamente brasileiro: “Se eu morresse amanhã”. Como se vê, nem os românticos aceitavam morrer hoje, postulando a Deus prazos mais confortáveis.
    Sim, adiamos por força de um incoercível destino nacional, do mesmo modo que, por obra do fado, o francês poupa dinheiro, o inglês confia no Times, o português adora bacalhau, o alemão trabalha com furor disciplinado, o espanhol se excita com a morte, o japonês esconde o pensamento, o americano escolhe sempre a gravata mais colorida.
    O brasileiro adia; logo existe.
    A divulgação dessa nossa capacidade autóctone para a incessante delonga transpõe as fronteiras e o Atlântico. A verdade é que já está nos manuais. Ainda há pouco, lendo um livro francês sobre o Brasil, incluído numa coleção quase didática de viagens, encontrei no fim do volume algumas informações essenciais sobre nós e nossa terra. Entre endereços de embaixadores e consulados, estatísticas, indicações culinárias o autor intercalou o seguinte tópico:

DES MOST (*palavras)
  •  Hier: ontem
  •  Aujourd’hui: hoje
  •  Demain: amanhã

Le seul importante est le dernier (*a única palavra importante é a última)

A única palavra importante é amanhã. Ora, esse francês astuto agarrou-nos pela perna. O resto eu adio para a semana que vem.
Paulo Mendes Campos

Assinale a alternativa correta.

Alternativas
Comentários
  • Gab.: A) No período “O brasileiro pensa; logo existe” temos um processo de coordenação com uma oração sindética conclusiva.

    Conjunções Coordenativas Conclusivas:

    Ligam orações ou palavras, com sentido de conclusão ou consequência: logo, portanto, então, por isso, assim, por conseguinte, destarte, pois (quando vem deslocado).

  • GABARITO A

    A) No período “O brasileiro pensa; logo existe” temos um processo de coordenação com uma oração sindética conclusiva.

    Uma oração pode ser coordenada ou subordinada.

    Nas orações subordinada - Há uma dependência entre as orações.

    ex: É necessário que você venha.

    Se eu disser somente: é necessário o sentido é incompleto...

    Nas orações coordenadas - as orações são independentes.

    Ex: João trabalha e Maria estuda.

    Se eu digo : João trabalha. O sentido é completo.

    As coordenadas podem ser :

    Sindéticas - Com conjunção

    Assindéticas - Sem Conjunção

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    B) No período “A verdade é que já está nos manuais” temos um processo de subordinação com uma oração subordinada substantiva subjetiva.

    É uma oração predicativa.

    A predicativa possui verbo de Ligação.

    Oração predicativa é aquela que exerce a função de predicativo do sujeito da oração principal.

    A verdade é ( isso ) que já está nos manuais

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    C) Na coesão textual, as duas palavras sublinhadas no segundo parágrafo assumem um sentido catafórico, já que retomam a palavra “colunas” do primeiro parágrafo.

    Anáfora - Retoma o que já fora dito

    Catáfora - Antecipa o que vai ser dito.

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    D) A palavra sublinhada no sexto parágrafo traz a ideia de conclusão diante do que se expressa no período imediatamente anterior.

     Só a morte e a promissória são mais ou menos pontuais entre nós. Mesmo assim, há remédio para a promissória: o adiamento bi ou trimestral da reforma, uma instituição sacrossanta no Brasil.

    Traz ideia concessiva.. Poderia pensar em uma permuta : Ainda sim ..

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    E) No período “Como se vê, nem os românticos aceitavam morrer hoje, postulando a Deus prazos mais confortáveis”, a oração subordinada destacada traz a ideia de comparação.

    Para ser comparativa é necessário que haja comparação entre dois termos.

    o que aparenta ser é conformativa.

    Conforme se vê.....

    Consoante se vê...

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    Eventuais equívocos ? Mande msg...

    Bons estudos!