SóProvas


ID
4880851
Banca
FEPESE
Órgão
Prefeitura de Lages - SC
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto.

Brasileiro, homem do amanhã

Há em nosso povo duas constantes que nos induzem a sustentar que o Brasil é o único país brasileiro de todo o mundo. Brasileiro até demais. Colunas de brasilidade, as duas colunas são: a capacidade de dar um jeito; a capacidade de adiar.
    A primeira é ainda escassamente conhecida, e nada compreendida, no exterior; a segunda, no entanto, já anda bastante divulgada lá fora, sem que, direta ou sistematicamente, o corpo diplomático contribua para isso.
    Aquilo que Oscar Wilde e Mark Twain diziam apenas por humorismo (nunca se fazer amanhã aquilo que se pode fazer depois de amanhã), não é no Brasil uma deliberada norma de conduta, uma diretriz fundamental. Não, é mais, bem mais forte do que qualquer princípio da vontade: é um instinto inelutável, uma força espontânea da estranha e surpreendente raça brasileira.
    Para o brasileiro, os atos fundamentais da existência são: nascimento, reprodução, procrastinação e morte (esta última, se possível, também adiada).

Adiamos em virtude dum verdadeiro e inevitável estímulo inibitório, do mesmo modo que protegemos os olhos com a mão ao surgir na nossa frente um foco luminoso intenso. A coisa deu em reflexo condicionado; proposto qualquer problema a um brasileiro, ele reage de pronto com as palavras: logo à tarde; só à noite; amanhã; segunda-feira; depois do Carnaval; no ano que vem. Adiamos tudo: o bem e o mal, o bom e o mau, que não se confundem, mas tantas vezes se desemparelham. Adiamos o trabalho, o encontro, o almoço, o telefonema, o dentista, o dentista nos adia, a conversa séria, o pagamento do imposto de renda, as férias, a reforma agrária, o seguro de vida, o exame médico, a visita de pêsames, o conserto do automóvel, o concerto de Beethoven, o túnel de Niterói, a festa de aniversário da criança, as relações com a China, tudo. Até o amor. Só a morte e a promissória são mais ou menos pontuais entre nós. Mesmo assim, há remédio para a promissória: o adiamento bi ou trimestral da reforma, uma instituição sacrossanta no Brasil.
    Quanto à morte, não devem ser esquecidos dois poemas típicos do Romantismo: na Canção do Exílio, Gonçalves Dias roga a Deus não permitir que ele morra sem que volte para lá, isto é, para cá. Já Álvares de Azevedo tem aquele poema famoso cujo refrão é sintomaticamente brasileiro: “Se eu morresse amanhã”. Como se vê, nem os românticos aceitavam morrer hoje, postulando a Deus prazos mais confortáveis.
    Sim, adiamos por força de um incoercível destino nacional, do mesmo modo que, por obra do fado, o francês poupa dinheiro, o inglês confia no Times, o português adora bacalhau, o alemão trabalha com furor disciplinado, o espanhol se excita com a morte, o japonês esconde o pensamento, o americano escolhe sempre a gravata mais colorida.
    O brasileiro adia; logo existe.
    A divulgação dessa nossa capacidade autóctone para a incessante delonga transpõe as fronteiras e o Atlântico. A verdade é que já está nos manuais. Ainda há pouco, lendo um livro francês sobre o Brasil, incluído numa coleção quase didática de viagens, encontrei no fim do volume algumas informações essenciais sobre nós e nossa terra. Entre endereços de embaixadores e consulados, estatísticas, indicações culinárias o autor intercalou o seguinte tópico:

DES MOST (*palavras)
  •  Hier: ontem
  •  Aujourd’hui: hoje
  •  Demain: amanhã

Le seul importante est le dernier (*a única palavra importante é a última)

A única palavra importante é amanhã. Ora, esse francês astuto agarrou-nos pela perna. O resto eu adio para a semana que vem.
Paulo Mendes Campos

Observe as frases.

A. Estes alunos, não os conheço.
B. As pessoas, sempre chegam depois do horário.
C. Encontrei-o no mesmo lugar, que duas horas antes, recebeu-me.
D. Vamos esperar que Vossa Senhoria manifeste vossa escolha.
E. Ele pára de falar para olhar a menina que passa, enquanto outros lêem despreocupadamente aquela notícia no mural do corredor.

Analise as afirmativas abaixo feitas sobre as frases.

1. Em A, a vírgula está correta, assim como em B e a justificativa de uso é a mesma para ambas as frases.
2. Em A, temos um exemplo de pleonasmo como figura de linguagem.
3. Em C, temos uma redação de acordo com a norma culta.
4. Em D, há impropriedade no uso de pronome possessivo.
5. Em E, a acentuação segue as regras do novo acordo ortográfico.

Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas.

Alternativas
Comentários
  • Pleonasmo: Redundância.

    Ex: Subir para cima;

    Descer para baixo

    Repetir de novo

  • GABARITO A

    A. Estes alunos, não os conheço.

    Temos um Objeto direto pleonástico. Trata-se de repetir novamente o OD.

    usado quando queremos dar destaque ou ênfase à idéia contida no objeto direto, por isso, o colocamos no início da frase e depois o repetimos ou reforçamos por meio do pronome oblíquo.

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    B. As pessoas, sempre chegam depois do horário.

    A vírgula está posta de forma incorreta , porque separa o sujeito do verbo

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    C. Encontrei-o no mesmo lugar, que duas horas antes, recebeu-me.

    No mesmo lugar " em que " / No qual

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    D. Vamos esperar que Vossa Senhoria manifeste vossa escolha.

     "se a pessoa, a quem se refere o tratamento, está ausente, isto é, se, em vez de ser o interlocutor (segunda pessoa), for o assunto (terceira pessoa) - a pessoa de quem se fala - então se empregará o [pronome] adjetivo Sua, e não Vossa"

    https://migalhas.uol.com.br/coluna/gramatigalhas/71923/voce--segunda-ou-terceira-pessoa

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    E. Ele pára de falar para olhar a menina que passa, enquanto outros lêem despreocupadamente aquela notícia no mural do corredor.

    Não usamos o acento diferencial em " para".

    A forma correta é LEEM

    acento circunflexo não mais deverá ser utilizado em verbos com conjugações da 3ª pessoa do plural terminadas em -eem.

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    Havendo algum equívoco ,favor, comunique-me !

    Bons estudos!!!