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ID
5415466
Banca
SELECON
Órgão
Câmara de Cuiabá - MT
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto l ( Texto para a questão)

Instintos e descivilização

Quão robusta é a ordem civilizada ocidental? A julgar pelo século XX, e mesmo sem levar em conta as duas guerras mundiais, talvez menos do que pareça. O padrão é conhecido: situações de conflito armado, cataclismos naturais e colapso econômico agudo – como, por exemplo, a hiperinflação alemã no início dos anos 1920; o blecaute que atingiu Nova York no outono de 1965; a guerra civil iugoslava da década de 1990; ou a passagem do furacão Katrina por New Orleans em meados de 2005 – revelam a fragilidade da fina superfície de civilidade e decoro sobre a qual assenta a nossa civilização. Sob impacto do abalo provocado por desastres como esses , o comportamento das pessoas sofre uma drástica mutação: enquanto alguns, em geral poucos, agem de forma solidária e até mesmo heroica, a maior parte da população atingida regride a um estado de violência e selvageria no qual a lógica do “salve-se quem puder” deságua na rápida escalada dos furtos, assaltos, saques, crimes, estupros e vandalismo. Quase que num piscar de olhos, o cordato cidadão civilizado – “casado, fútil, cotidiano e tributável” – se transforma em besta feroz, capaz das piores atrocidades. – Como entender o perturbador fenômeno? A interpretação usual propõe o modelo hobbesiano. O ser humano no fundo é um animal selvagem e terrível. Remova os sustentáculos elementares da ordem civilizada; dispa a camisa de força social; suspenda, ainda que brevemente, a vigilância e a ameaça de punição aos infratores do código legal, e, em pouco tempo, retrocedemos ao “estado natural hobbesiano” e à “guerra de todos contra todos”. O civilizado sem máscara da civilidade não é outro senão o animal humano em sua versão nativa, sem amarras nem recalques, como que de volta à selva e aos estágios da evolução em que as faculdades de inibição erguidas ao longo do processo civilizatório dormiam ainda no embrião da mente. Os episódios de regressão à barbárie seriam, em suma, o psiquismo arcaico do animal humano posto a nu. – O modelo hobbesiano poderia ter tomado como plausível, não fosse uma falha capital do argumento. Que a regressão à barbárie revele alguma coisa do nosso psiquismo arcaico não há por que duvidar. Mas o que vem à tona no caso não é o “estado de natureza” do mundo pré-civilizado ou o animal homem tal como a evolução o teria produzido – o que vem à tona é o bicho-homem descivilizado, ou seja, o civilizado que se vê repentinamente fora da jaula e apto a dar livre curso aos impulsos e instintos naturais tolhidos e asfixiados pela ordem civilizada. O descivilizado é o civilizado à solta: livres das amarras e restrições da vida comum mas portador de um psiquismo arcaico que foi pesadamente macerado e em larga medida deformado pela renúncia instintual imposta pelo processo civilizatório. A ferocidade que tomou conta dos conquistadores europeus no Novo Mundo e o surto de bestialidade fascista que varreu a Europa no século passado são exemplos extremos dessa realidade. O equívoco do modelo hobbesiano é confundir o homem descivilizado feito lobo do homem – ávido de desafogo e revide contra tudo e contra todos – com um suposto estado primitivo ou de pura natureza do animal. – “Você pode expelir a natureza com um varapau pontiagudo”, adverte Horácio, “mas ela sempre retornará.” A verdade do poeta, “nem o fogo, nem o ferro, nem o tempo devorador poderão abolir”. Mas à luz do exposto acima não seria talvez de todo impróprio emendar: a natureza expelida não sai ilesa – ela traz em seu retorno as marcas e as feridas da violenta expulsão.

Eduardo Giannetti
(Trópicos utópicos: uma perspectiva brasileira da crise
civilizatória. São Paulo: Cia das Letras, 2016)

“O civilizado sem máscara de civilidade não é outro senão o animal humano em sua versão nativa”. Considerando o sentido global do trecho, a palavra “senão” é equivalente à seguinte expressão:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: C

    Dica que aprendi aqui no QC:

    BIZU DO SE NÃO e SENÃO:

    a) Se der para retirar o "não"... será SEPARADO

    Exemplo: Se não chover, eu saio

    Veja, dá para retirar o não?

    R: SIM, ficará "se chover, eu saio", faz sentido.

    Ideia de condição, hipótese

    b) Se não der para retirar o "não".. será JUNTO

    Exemplo: Estude, senão reprova

    Veja, dá para retirar o não?

    R: NÃAAAAOO, ficaria " estude, se reprova", não faz qualquer sentido.

  • A questão exigiu conhecimento de conectores e quer saber qual assertiva possui um que pode substituir "senão" na frase abaixo. Vejamos:

    “O civilizado sem máscara de civilidade não é outro senão o animal humano em sua versão nativa”.

     Senão significa exceto, do contrário. Dito isso, iremos analisar as assertivas a fim de encontrarmos um conector de igual valor. Analisemos:

    a) Incorreta

    Tanto quanto⇢ essa locução tem valor comparativo.

    Ex: Estudei tanto quanto um juiz

    b) Incorreta

    Ainda mais⇢ essa locução tem valor de inclusão, elevação, recapitulação e soma.

    Ex: Gostaria de ir à praia  ainda mais nesse sol.

    c) Correta.

    A não ser⇢ significa do contrário, exceto e senão, ou seja, aqui está o nosso gabarito.

    “O civilizado sem máscara de civilidade não é outro a não ser  o animal humano em sua versão nativa”.

    d) Incorreta.

    Apesar de⇢ tem valor concessivo.

    Ex: João quer muito acordar, apesar de sentir muito sono ainda.

    Gabarito do monitor: C

  • Se não = Caso não

    Senão= Do contrário= a não ser...

  • Se não = caso não

    Senão = caso contrário

    Senão = mas sim

    Senão = a não ser

  • E ai, tudo bom?

    Gabarito: C

    Bons estudos!

    -Os únicos limites da sua mente são aqueles que você acreditar ter!

  • SE NÃO / SENÃO

    Se não: conjunção “se” + advérbio “não”. 

    Utilize quando equivaler a “caso não” ou “quando não” 

    Se não conseguir entregar o projeto hoje, não se preocupe. 

    Caso não consiga entregar o projeto hoje, não se preocupe. 

    Senão: utilize quando puder substituir por “do contrário”, “de outro modo”, “caso contrário”, “ a não ser”. 

    O aluno não fez nada senão bagunça. 

    O aluno não fez nada a não ser bagunça. 

    “O civilizado sem máscara de civilidade não é outro senão (a não ser) o animal humano em sua versão nativa”. 

    Se não (Caso não chova) chover, mais tarde vou ao cinema. 

    Eles não tiveram escolha senão (a não ser / exceto) obedecer. 

    Você precisa ler e estudar, senão (caso contrário / do contrário) nunca conseguirá argumentar bem. 

    É um bom amigo, tem apenas um senão (defeito): às vezes é inconveniente. 

    Entregue o relatório amanhã, se não (caso não termine) terminar hoje. 

    Estava estudando ontem, se não (se não estivesse estudando ontem / caso não estivesse estudando ontem), teria ido à festa.

  • “O civilizado sem máscara de civilidade não é outro senão o animal humano em sua versão nativa”.

     Senão significa exceto, do contrário. Dito isso, iremos analisar as assertivas a fim de encontrarmos um conector de igual valor. Analisemos:

    a) Incorreta

    Tanto quanto⇢ essa locução tem valor comparativo.

    Ex: Estudei tanto quanto um juiz

    b) Incorreta

    Ainda mais⇢ essa locução tem valor de inclusão, elevação, recapitulação e soma.

    Ex: Gostaria de ir à praia ainda mais nesse sol.

    c) Correta.

    A não ser⇢ significa do contrário, exceto e senão, ou seja, aqui está o nosso gabarito.

    “O civilizado sem máscara de civilidade não é outro a não ser o animal humano em sua versão nativa”.

    d) Incorreta.

    Apesar de⇢ tem valor concessivo.

    Ex: João quer muito acordar, apesar de sentir muito sono ainda.

    Gabarito: C

  • Se não = Caso não

    Senão= Do contrário= a não ser...