SóProvas


ID
5434054
Banca
Instituto Consulplan
Órgão
Prefeitura de Colômbia - SP
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para responder à questão.

Sob o feitiço dos livros
    Nietzsche estava certo: “De manhã cedo, quando o dia nasce, quando tudo está nascendo — ler um livro é simplesmente algo depravado”. É o que sinto ao andar pelas manhãs pelos maravilhosos caminhos da fazenda Santa Elisa, do Instituto Agronômico de Campinas. Procuro esquecer-me de tudo que li nos livros. É preciso que a cabeça esteja vazia de pensamentos para que os olhos possam ver. Aprendi isso lendo Alberto Caeiro, especialista inigualável na difícil arte de ver. Dizia ele que “pensar é estar doente dos olhos”.
    Mas meus esforços são frustrados. As coisas que vejo são como o beijo do príncipe: elas vão acordando os poemas que aprendi de cor e que agora estão adormecidos na minha memória. Assim, ao não pensar da visão, une-se o não- -pensar da poesia. E penso que o meu mundo seria muito pobre se em mim não estivessem os livros que li e amei. Pois, se não sabem, somente as coisas amadas são guardadas na memória poética, lugar da beleza.
    “Aquilo que a memória amou fica eterno”, tal como o disse a Adélia Prado, amiga querida. Os livros que amo não me deixam. Caminham comigo. Há os livros que moram na cabeça e vão se desgastando com o tempo. Esses, eu deixo em casa. Mas há os livros que moram no corpo. Esses são eternamente jovens. Como no amor, uma vez não chega. De novo, de novo, de novo...
    Um amigo me telefonou. Tinha uma casa em Cabo Frio. Convidou-me. Gostei. Mas meu sorriso entortou quando disse: “Vão também cinco adolescentes...”. Adolescentes podem ser uma alegria. Mas podem ser também uma perturbação para o espírito. Assim, resolvi tomar minhas providências. Comprei uma arma de amansar adolescentes. Um livro. Uma versão condensada da “Odisseia”, de Homero, as fantásticas viagens de Ulisses de volta à casa, por mares traiçoeiros...
    Primeiro dia: praia; almoço; sono. Lá pelas cinco, os dorminhocos acordaram, sem ter o que fazer. E antes que tivessem ideias próprias eu tomei a iniciativa. Com voz autoritária, dirigi-me a eles, ainda sob o efeito do torpor: “Ei, vocês... Venham cá na sala. Quero lhes mostrar uma coisa”. Não consultei as bases. Teria sido terrível. Uma decisão democrática das bases optaria por ligar a televisão. Claro. Como poderiam decidir por uma coisa que ignoravam? Peguei o livro e comecei a leitura. Ao espanto inicial seguiu-se silêncio e atenção. Vi, pelos seus olhos, que já estavam sob o domínio do encantamento. Daí para frente foi uma coisa só. Não me deixavam. Por onde quer que eu fosse, lá vinham eles com a “Odisseia” na mão, pedindo que eu lesse mais. Nem na praia me deram descanso.
    Essa experiência me fez pensar que deve haver algo errado na afirmação que sempre se repete de que os adolescentes não gostam da leitura. Sei que, como regra, não gostam de ler. O que não é a mesma coisa que não gostar da leitura. Lembro-me da escola primária que frequentei. Havia uma aula de leitura. Era a aula que mais amávamos. A professora lia para que nós ouvíssemos. Leu todo o Monteiro Lobato. E leu aqueles livros que se liam naqueles tempos: “Heidi”, “Poliana”, “A Ilha do Tesouro”.
    Quando a aula terminava, era a tristeza. Mas o bom mesmo é que não havia provas ou avaliações. Era prazer puro. E estava certo. Porque esse é o objetivo da literatura: prazer. O que os exames vestibulares tentam fazer é transformar a literatura em informações que podem ser armazenadas na cabeça. Mas o lugar da literatura não é a cabeça: é o coração. A literatura é feita com as palavras que desejam morar no corpo. Somente assim ela provoca as transformações alquímicas que deseja realizar. Se não concordam, que leiam João Guimarães Rosa, que dizia que literatura é feitiçaria que se faz com o sangue do coração humano. 
(ALVES, Rubem. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ folha/sinapse/ult1063u727.shtml.)

O trecho destacado a seguir “Assim, resolvi tomar minhas providências.” (4º§) está corretamente reescrito em:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito na alterativa B

    Solicita-se alterativa corretamente grafada:

    A) Resolveu-se que tomaria-se providências.

    Incorreta. A passagem introduzida pela conjunção integrante "que" encontra-se em forma de voz passiva sintética e a colocação do pronome apassivador deve ocorrer de forma proclítica em razão do conjuncional subordinativo. O verbo em voz passiva, deve concordar com o sujeito paciente em forma plural.

    B) Resolvi, então, tomar as minhas providências.

    Correta. Não há erro na construção da presente alterativa.

    C) Eu tomei à decisão de providenciar o necessário.

    Incorreta. Não há justificativa para a marcação de crase após o verbo "tomei", que não rege a preposição "a".

    D) Deste modo, resolveu-se que providências deveria ser tomadas.

    Incorreta. O verbo "deveria" tem seu sujeito na forma substantiva plural "providências", devendo com ela concordar.

  • Atenção também na conjunção que aparece no trecho: " Assim, resolvi tomar minhas providências.” (4º§)

    Assim é uma conjunção conclusiva. Somente com essa informação você poderia acertar a questão.

    Outras conjunções com o mesmo valor: Então; afinal; logo; portanto...

  • Gab. B

    A - errada - "Resolveu-se que tomaria-se providências".

    Pronome relativo "QUE" é fator atrativo de próclise. Forma correta: Resolveu-se que se tomariam providências.

    C - errada - "Eu tomei à decisão de providenciar o necessário". Quem toma, toma alguma coisa. Tomar, no contexto, é VTD e "a decisão" é objeto direto. Logo, incorreto o uso da crase.

    D - errada - "Deste modo, resolveu-se que providências deveria ser tomadas".

    Forma correta: Deste modo, resolveu-se que providências DEVERIAM ser tomadas OU Deste modo, resolveu-se que deveriam ser tomadas providências.

    A luta continua !

  • Partindo do pressuposto de que a questão pede a reescrita sem nenhuma alteração na pessoa ou algo assim, podemos pressupor que ela pede que esteja na 1ª pessoa do singular.

    Logo, só restam 2 alternativas para analisarmos:

    C Eu tomei à decisão de providenciar o necessário. - Essa está plenamente equivocada, pois não há uso de crase nesse caso. Só substituir por uma palavra masculina e ver se tem como escrever "ao": Eu tomei o ânimo de providenciar o necessário. Não se escreve com ao, mas sim com o. Logo, não cabe crase antes da palavra decisão.

    B Resolvi, então, tomar as minhas providências. - Escrita correta, sem nenhum erro a ser apontado.

  • GABARITO: LETRA B

    ACRESCENTANDO:

    Próclise (antes do verbo): A pessoa não se feriu.

    Ênclise (depois do verbo): A pessoa feriu-se.

    Mesóclise (no meio do verbo): A pessoa ferir-se-á.

    Próclise é a colocação do pronome oblíquo átono antes do verbo (PRO = antes)

    Palavras que atraem o pronome (obrigam próclise):

    -Palavras de sentido negativo: Você NEM se preocupou.

    -Advérbios: AQUI se lava roupa.

    -Pronomes indefinidos: ALGUÉM me telefonou.

    -Pronomes interrogativos: QUE me falta acontecer?

    -Pronomes relativos: A pessoa QUE te falou isso.

    -Pronomes demonstrativos neutros: ISSO o comoveu demais.

    -Conjunções subordinativas: Chamava pelos nomes, CONFORME se lembrava.

     

    **NÃO SE INICIA FRASE COM PRÓCLISE!!!  “Me dê uma carona” = tá errado!!!

     

    Mesóclise, embora não seja muito usual, somente ocorre com os verbos conjugados no futuro do presente e do pretérito. É a colocação do pronome oblíquo átono no "meio" da palavra. (MESO = meio)

     Comemorar-se-ia o aniversário se todos estivessem presentes.

    Planejar-se-ão todos os gastos referentes a este ano. 

    Ênclise tem incidência nos seguintes casos: 

    - Em frase iniciada por verbo, desde que não esteja no futuro:

    Vou dizer-lhe que estou muito feliz.

    Pretendeu-se desvendar todo aquele mistério. 

    - Nas orações reduzidas de infinitivo:

    Convém contar-lhe tudo sobre o acontecido. 

    - Nas orações reduzidas de gerúndio:

    O diretor apareceu avisando-lhe sobre o início das avaliações. 

    - Nas frases imperativas afirmativas:

    Senhor, atenda-me, por favor!

    FONTE: QC

  • Gabarito na alterativa B

    Uso Obrigatório da Crase

    1- Substituir a palavra depois da qual aparece oa(s) por um termo masculino.

    Ex.:  João voltou à cidade natal ?

          S    V  A+ DE   OI

    EX.: João voltou ao pais natal.  ✔️

          S   V   A+ A   OI

    Se o a (s)  se transformar em ao (s), existe crase.

    2- Nome geográfico - substitua o a(s) por para a .

    Ex.: Foi à França ?

    Ex.: Foi para a França.  ✔️

    3 - Locuções Adverbiais Femininas.

    Ex.: Seu pai saiu às pressas✔️

    Ex.: Estava à espera do irmão✔️

    4 -  Substitui o pronome "aquele" por " a este" , se mantiver o sentido vai crase. *Sujeito - substituição a esta.

    Ex.: Vou àquelas cidades ?  (pronome demostrativo) -

    EX.: Vou a estas cidades. ✔️   

    Sujeito - substituição a esta.

    O aeroporto volta a alguma situação em meio à greve.

    Em meio a quê? Esta Greve. Em meio a (a  greve), ou seja, em meio à (a+a) greve.

    5 - Sempre que estivermos diante de pronome relativo "qual" e "quais" e o verbo reger preposição "a", ocorrerá o fenômeno crase.

    • Esta é a pessoa à qual me referi durante o evento.