SóProvas


ID
5437579
Banca
Instituto Consulplan
Órgão
Prefeitura de Colômbia - SP
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para responder à questão.

Eu, Mwanito, o afinador de silêncios
   A família, a escola, os outros, todos elegem em nós uma centelha promissora, um território em que poderemos brilhar. Uns nasceram para cantar, outros para dançar, outros nasceram simplesmente para serem outros. Eu nasci para estar calado. Minha única vocação é o silêncio. Foi meu pai que me explicou: tenho inclinação para não falar, um talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não há um único silêncio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez.
   Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.
   — Venha, meu filho, venha ajudar-me a ficar calado.
   Ao fim do dia, o velho se recostava na cadeira da varanda. E era assim todas as noites: me sentava a seus pés, olhando as estrelas no alto do escuro. Meu pai fechava os olhos, a cabeça meneando para cá e para lá, como se um compasso guiasse aquele sossego. Depois, ele inspirava fundo e dizia:
   — Este é o silêncio mais bonito que escutei até hoje. Lhe agradeço, Mwanito.
   Ficar devidamente calado requer anos de prática. Em mim, era um dom natural, herança de algum antepassado. Talvez fosse legado de minha mãe, Dona Dordalma, quem podia ter a certeza? De tão calada, ela deixara de existir e nem se notara que já não vivia entre nós, os vigentes viventes.
   — Você sabe, filho: há a calmaria dos cemitérios. Mas o sossego desta varanda é diferente. Meu pai. A voz dele era tão discreta que parecia apenas uma outra variedade de silêncio. Tossicava e a tosse rouca dele, essa, era uma oculta fala, sem palavras nem gramática.
   Ao longe, se entrevia, na janela da casa anexa, uma bruxuleante lamparina. Por certo, meu irmão nos espreitava. Uma culpa me raspava o peito: eu era o escolhido, o único a partilhar proximidades com o nosso progenitor.
(COUTO, Mia. Antes de nascer o mundo. São Paulo: Companhia das
Letras, 2009. Fragmento adaptado.)

A correção semântica e gramatical do texto mantém-se com a sugestão apresentada em:

Alternativas
Comentários
  • todos elegem em nós” / todos nos escolhem

    Errado.

    A primeira exprime sentido de criar esperança em alguém, de esperar algo de alguém; a segunda possui sentido mais restrito.

    ------------------------------------------------------------------

    porque não há um único silêncio.” / embora não haja um único silêncio.

    Errado.

    A mudança das conjunções altera a semântica do período.

    Uma tem por sentido a ideia de explicação; outra possui sentido de concessão.

    --------------------------------------------------------------------

    Uns nasceram para cantar”/ Há aqueles que nasceram destinados a cantar

    OK.

    Mantem o mesmo sentido.

    Uns nasceram...

    Há (existem) aqueles que nasceram..

    Para cantar...

    Destinados a cantar...

    Ambas possuem ideia de finalidade.

    ------------------------------------------------------------------

    um território em que poderemos brilhar.” / um lugar que poderemos nos destacar.

    A primeira delimita a expressão por falar ''território''; A segunda possui aspecto genérico.

  • Na letra D não teria um erro no pronome?

    O certo não seria um lugar EM QUE(no qual)/onde?