SóProvas


ID
5521495
Banca
CETAP
Órgão
Prefeitura de Maracanã - PA
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

É correto, sem advérbios.

A lição da menina negra, magérrima, que cantou feito rainha. 


    Eiza Soares estreou no programa de Ary Barroso na Rádio Tupi. Tinha 16 anos e era mãe. Sua cria estava doente e Elza inscreveu-se no show de Barroso porque os primeiros lugares ganhavam prêmios em dinheiro. Era uma chance de pagar o tratamento do filho. Elza subiu no palco, mulher negra, jovem, magérrima, vestida conforme o lugar que lhe cabia na perversa espiral de privilégios da nossa sociedade. Notavam-se os remendos no vestido. Os alfinetes. Ary Barroso ficou chocado com alguém que, para muitos, não merecia estar sob os holofotes. “O que é que você velo fazer aqui?” Ary recebeu Elza com boa dose da branquitude, classismo e machismo que inebriam a elite brasileira desde sempre. 

    Elza respondeu: “Eu vim cantar”. Ary seguiu a cantilena do opressor: “E quem disse que você sabe cantar?”. Amenina de 16 anos, cujo filho ardia em febre, respondeu com a coragem das mães: “Eu”. “De onde você veio, menina?" Ary não parecia se cansar de assinalar que Elza era uma estrangeira ali. Nesse momento, a menina respondeu com a audácia disruptiva que mora em cada nota do seu jazz de lata d'água na cabeça: “Eu vim do planeta fome”.  

    Em 1983, a respeitadíssima acadêmica indiana Gayatri Spivak escreveu Pode o Subalterno Falar? O ensaio, referência para quem deseja compreender a contribuição dos estudos pós-coloniais para as ciências humanas, fala do silenciamento sistemático do subalterno. Categoria nomeada por Gramsci, o subalterno é quem não pertence socialmente e politicamente às estruturas hegemônicas de poder. Os excluídos. Os triturados diariamente pela mecânica da discriminação. As Elzas e seus filhos febris. Spivak teorizou sobre o fato de não parecer natural ou adequado o subalterno falar. O silêncio é o que se espera dele,  

    Se o subalterno não deve falar, como poderia ousar cantar? Ary e sua plateia, que ria da humilhação de Elza, achavam que não, E hoje? Seria diferente? Mudamos pouco. Somos a mesma plateia rindo de novas humilhações que nos chegam pelas novas mídias, mas somos iguais. Esperamos do subalterno o silêncio. Zombamos do subalterno que ousa quebrar esse nosso contrato social. E não se enganem: a zombaria é o novo açoite. Mudamos pouco. Os ancestrais de Elza foram para o pelourinho. Elza foi ridicularizada ao vivo. Hoje, fingimos ter superado esse passado, mas as revistas lidas pelas madames saúdam a nova onda: uniformes de domésticas assinados por estilistas renomados. 

    Mudamos quase nada. 

    Naquele dia, Elza cantou Lama na Rádio Tupi. A subalterna cantou rainha, majestosa. Ary Barroso aplaudiu boquiaberto. A plateia que antes riu levantou-se. Reverenciou a nobreza da negra do planeta fome que ousou adentrar um espaço que lhe era negado e fez dele seu reino. Para quem ainda não entendeu: o politicamente correto é simplesmente isso. O correto. Algumas piadas a menos? Sim. Mas, em troca, hoje temos infinitos talentos antes silenciados embalando nossos sonhos. Só os que não sonham não veem que o resultado é positivo e deve ser comemorado. 


(Manoela Miklos. 25 de janelro, 2019, Revista VEJA). 


Sobre: “Era uma chance de pagar o tratamento do filho.”, é incorreto afirmar: 

Alternativas
Comentários
  • Ser é verbo de ligação.( correta )

    Verbos de ligação : ser , estar , ficar ,continuar ,parecer , permanecer , andar , tornar-se ,virar e viver .

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    Do filho é complemento nominal ( correta )

    Temos um substantivo abstrato , o filho sofre ação de ser tratado

    Complemento : complemento nominal completa substantivos abstratos ,advérbios e adjetivos ( é paciente da ação verbal )

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    O tratamento pode ser substituído pelo pronome “lhe”. (errada )

    Pagar algo ( objeto direto )

    O pronome lhe substitui objetos indiretos

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    Pagar é verbo transitivo indireto para pessoa. (correta )

    Pagar algo a alguém

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  • GAB - C

    “Era uma chance de pagar o tratamento do filho.”

    A) Pagar o tratamento do filho era uma chance. verbo de ligação

    B) complemento nominal vem precedido de preposição.

    C) pronome lhe não subistitui objeto direto, somente indireto.

    D) quem paga, paga algo (Objeto Direto - o tratamento) a alguem (objeto indireto - pagar para uma pessoa)

  • Regência de pagar e perdoar:

    VTI para pessoa

    VTD para coisas

    Perdoou ao irmão

    Pagou ao dentista

    Perdoou os erros do pai

    Pagou as contas

    Quando VTDI, o OI será pessoa e o OD será coisa:

    Pagou a conta ao garçom.

  • DUPLO GABARITO

    Além da C, a D também é incorreta. Pede-se que se observe o verbo tal como consta na frase em análise, na qual ele é o que se chama de transitivo direto, pois tem (e apenas tem) o objeto direto o tratamento do filho. O verbo não é transitivo indireto, como diz o gabarito.

  • solicito comentario do Ivan Lucas

  • Gabarito na alternativa C

    Solicita-se indicação da assertiva incorreta sobre a passagem:

    “Era uma chance de pagar o tratamento do filho.”

    A) Ser é verbo de ligação. 

    Correta. A forma verbal "ser" é verbo copulativo que liga um sujeito ao respectivo predicativo. Na passagem, o sujeito pode ser retomado no período anterior, "inscreveu-se no show de Barroso porque os primeiros lugares ganhavam prêmios em dinheiro", sendo seu predicativo a construção "uma chance de pagar o tratamento do filho.”.

    "Isso (inscrever-se no show que dava prêmios em dinheiro) era uma chance de pagar o tratamento do filho."

    B) Do filho é complemento nominal.

    Correta. A locução adjetiva "do filho" serve de complemento nominal do substantivo abstrato, indicativo de ação, "tratamento" (o filho seria tratado).

    C) O tratamento pode ser substituído pelo pronome “lhe”. 

    Incorreta. O verbo "tratar" encontra-se empregado em acepção transitiva direta, servindo a construção "o tratamento" como complemento verbal direto. Sua substituição pode ser realizada por forma pronominal átona indicativa de complemento não preposicionado (pagá-lo).

    D) Pagar é verbo transitivo indireto para pessoa. 

    Correta. O vergo "pagar" pode ser transitivo direto, indireto ou transitivo direto e indireto. Em qualquer dos casos, o objeto direto será sempre a coisa que está sendo paga (pagar a conta; pagar o jantar; pagar o boleto), enquanto o objeto indireto será o individuo, ou instituição personificada, que recebe o pagamento (pagar o boleto ao banco; pagar o corte ao barbeiro; pagar o jantar ao garçom).

    Pela impossibilidade, salvo contexto conotativo, de se pagar alguém (em sentido de alguém ser o objeto que está sendo pago), é correta a assertiva que assevera ser o verbo transitivo indireto para pessoa.

  • TRATAMENTO-LHE ?

    GB \ C)