Leia, com atenção, o texto de Lucília Diniz, 66 DIAS PARA |
| MUDAR e responda o que se pede no comando da questão.
66 DIAS PARA MUDAR
Eis o tempo médio para incorporarmos um novo hábito.
Não é fácil incorporar um novo hábito à rotina. Mas
também não é especialmente difícil. Não há regra geral.
Depende da rotina que se quer mudar, do hábito a ser adquirido
e, sobretudo, de cada um de nós. De qualquer maneira, não é
algo que ocorra da noite para o dia. Pode levar poucas semanas
ou alguns meses. Por mais elástico que seja o prazo, no entanto,
é importante termos um horizonte à vista, para calibrar nossas
expectativas e aplacar ansiedades naturais.
Muitos anos atrás, quando eu investi na formação de
hábitos saudáveis, responsáveis pela eliminação da metade dos
meus 120 quilos, não havia referências confiáveis sobre o tempo
que o processo duraria. Nos anos 60, o que estava disponível na
praça era o mito de que a automação de um novo
comportamento consumia no mínimo 21 dias. Era um número
mágico, saído da cartola de um bestseller americano, o médico
Maxwell Maltz, que difundiu essa métrica a partir da experiência
própria e da observação de alguns pacientes. Mas, na falta de
um benchmark baseado em estatísticas robusta, as tais três
semanas ganharam ares de verdade absoluta.
Hoje, estudos mais consistentes sobre o fenômeno de
mudança de hábito evitam cravar o intervalo de tempo
necessário para a adaptação da mente e do corpo, uma vez que
são muitas as variáveis que influenciam a transformação. Uma
pesquisa de 2009, publicada numa revista especializada, a
European Journal of Social Psychology, mostrou que leva de 254
dias para uma pessoa incorporar um novo hábito. A variação é
tão grande que teria pouca utilidade a quem busca um
parâmetro. Mas o mesmo estudo conclui que, na média, levamos
66 dias para que um exercício diferente ou nova dieta entrem no
modo piloto automático.
Pela minha própria experiência, considero esse um
prazo bastante razoável. Não é tão curto a ponto de criar falsas
esperanças, nem tão longo que provoque desânimo. Quando
embarquei em minha revolução comportamental teria sido
mentalmente reconfortante contar com esse referencial. Na
época, eu ignorava quanto deveria insistir para concluir a
travessia do deserto - o obstáculo inicial para implementar um
novo hábito. Comecei e terminei muitas dietas por imaginar que
aquele período duro de adaptação não teria fim. Venci, por fim,
vivendo um dia de cada vez, mas é claro que a estratégia
adotada intuitivamente teria sido facilitada no caso de uma
contagem regressiva em direção a essa linha de chegada
imaginária dos 66 dias. A medida não é relevante por si própria,
mas por quantificar o desafio. Cada xis rabiscado no calendário é
um pequeno passo que nos aproxima de um tempo melhor. O
processo de mudança é gradativo. Como dizia Mark Twain, “a
gente não se liberta de um hábito atirando-o pela janela; é
preciso fazê-lo descer a escada, degrau por degrau”.
O nosso cérebro, que valoriza a eficiência, gosta da
rotina. Afinal, se não precisamos pensar para praticar certas
ações, como escovar os dentes ou afivelar o cinto de segurança,
liberamos a mente para tarefas mais nobres - como nos preparar
para o desafio de normalizar novos hábitos nos próximos 66
dias.
FONTE: DINIZ, Lucilia. Revista Veja, 07/07/2021.
Em: “O nosso
cérebro, que valoriza a eficiência, gosta da rotina.”,
as vírgulas presentes no período justificam-se: