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ID
5660392
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
PC-PB
Ano
2022
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto CG1A1-I



      Um problema no estudo da violência é sua relação com a racionalidade. Os atos violentos mais graves, praticados com requintes de crueldade, são vistos pela mídia e pela opinião pública como atos irracionais. Ora, se a violência é irracional, não é por ser obra de um ser desprovido de razão, mas por ser, paradoxalmente, o produto de uma razão perigosamente racional. É o que ocorre quando certos mecanismos racionais, como a simplificação, que reduz tudo a um único princípio explicativo, e a polarização, que vê a realidade como feita unicamente de elementos antagônicos e irreconciliáveis, deixam o indivíduo sem alternativas. Esses mecanismos traduzem a racionalidade de uma razão incapaz de lidar com os antagonismos, as diferenças e a diversidade.


      Portanto, o problema que levanta a violência é muito menos o da irracionalidade do que o de uma racionalidade repleta de “razões” para não se deter diante de limites estabelecidos pela própria razão humana. É a razão que, amplificando os conflitos, reduzindo as alternativas ao impasse e superdimensionando os defeitos dos outros, cria os cenários em que florescem as ideologias legitimadoras da violência. Em outras palavras, o problema da violência está intimamente ligado ao problema das relações sociais, em que a existência do outro aparece como ameaça real ou imaginária. O que mais espanta na violência, quando ela é razão de espanto, é a sua dramaturgia, a exposição da crueldade ao estado puro. É, pois, o caráter aparentemente absurdo dessa dramaturgia que confere à violência o status de irracionalidade. No entanto, as razões dessa irracionalidade raramente são explicitadas e, frequentemente, deixam de existir quando o recipiente de atos violentos é o “inimigo”.


Angel Pino. Violência, educação e sociedade: um olhar sobre o Brasil contemporâneo. In: Educ. Soc., Campinas, v. 28, n. 100, p. 763-785, out./2007 (com adaptações).

Com relação aos aspectos linguísticos do texto CG1A1-I, julgue os itens a seguir.


I No quarto período do primeiro parágrafo, tanto o trecho “que reduz tudo a um único princípio explicativo” quanto o trecho “que vê a realidade como feita unicamente de elementos antagônicos e irreconciliáveis” consistem em orações explicativas.

II Caso o trecho “É a razão que” (segundo período do segundo parágrafo) fosse substituído por A razão, seria mantida a correção gramatical do texto.

III No trecho “É, pois, o caráter aparentemente absurdo dessa dramaturgia que confere à violência o status de irracionalidade”, o termo “que” é uma forma pronominal cujo referente é “dramaturgia”.

IV No trecho “O que mais espanta na violência, quando ela é razão de espanto, é a sua dramaturgia, a exposição da crueldade ao estado puro”, o termo “que” introduz oração adverbial comparativa.


Estão certos apenas os itens

Alternativas
Comentários
  • Gabarito A (I e II certas)

    I No quarto período do primeiro parágrafo, tanto o trecho “que reduz tudo a um único princípio explicativo” quanto o trecho “que vê a realidade como feita unicamente de elementos antagônicos e irreconciliáveis” consistem em orações explicativas.

    II Caso o trecho “É a razão que” (segundo período do segundo parágrafo) fosse substituído por A razão, seria mantida a correção gramatical do texto.

  • Gabarito na alternativa A

    Solicita-se julgamento das assertivas:

    I) No quarto período do primeiro parágrafo, tanto o trecho “que reduz tudo a um único princípio explicativo” quanto o trecho “que vê a realidade como feita unicamente de elementos antagônicos e irreconciliáveis” consistem em orações explicativas.

    Correta. As duas passagem, virguladas respectivamente após os termos nominais "simplificação" e "polarização", são orações encabeçadas pela forma pronominal relativa "que", caracterizando orações subordinadas adjetivas explicativas;

    II) Caso o trecho “É a razão que” (segundo período do segundo parágrafo) fosse substituído por A razão, seria mantida a correção gramatical do texto.

    Correta. A construção "é...que..." não possui função sintática na passagem, servindo apenas como forma de realçar o sujeito da ação. Trata-se, pois, de partícula expletiva, podendo ser preterida sem causar prejuízos a correção da passagem;

    "É a razão que,(...),cria os cenários em que florescem as ideologias legitimadoras da violência."

    "A razão,(...),cria os cenários em que florescem as ideologias legitimadoras da violência."

    III) No trecho “É, pois, o caráter aparentemente absurdo dessa dramaturgia que confere à violência o status de irracionalidade”, o termo “que” é uma forma pronominal cujo referente é “dramaturgia”.

    Incorreta. O referente do pronome em apreço é toda a passagem "o caráter aparentemente absurdo dessa dramaturgia", cujo núcleo significativo é "caráter";

    IV) No trecho “O que mais espanta na violência, quando ela é razão de espanto, é a sua dramaturgia, a exposição da crueldade ao estado puro”, o termo “que” introduz oração adverbial comparativa.

    Incorreta. O termo "que" é pronome relativo que retoma o pronome demonstrativo imediatamente anterior, servindo de sujeito à forma verbal "espantar". Não encabeça oração de valor comparativo.

  • Gabarito: A.

    |-Certo. As duas orações ocorreram intercaladas entre vírgulas, e ambas iniciam com pronome relativo “que”, ou seja, ambas são orações subordinadas adjetivas explicativas.

    ||-Certo. A combinação de “é” com “que” forma partícula expletiva. Por isso, pode ser suprimida. Resta “A razão” como sujeito da forma verbal “cria” na oração principal.

    |||-Errado. O referente lógico só pode ser “o caráter aparentemente absurdo dessa dramaturgia”, e não apenas “dramaturgia”, pois esse caráter aparentemente absurdo é o que confere à violência o status de irracionalidade.

    IV-Errado. A palavra “que” ocorreu como pronome relativo. Seu antecedente é o pronome demonstrativo “o”. Esse pronome “que” introduz oração subordinada adjetiva.

    PPPE 2022.

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