Com a leitura dos dois textos seguintes, que
analisam a escravidão, fica demonstrado que:
Texto I
“Na simbologia européia da Idade Média, a cor branca estava associada ao dia, à inocência, a virgindade; já a cor preta representava a noite, osdemônios, a tristeza e a maldição divina. Essa dicotomia entre branco e preto, claro e escuro, foi transferida pelos europeus para os seres humanos quando os portugueses chegaram à África em meados do século XV. [...] Assim, a pigmentação escura da pele foi inicialmente apontada como uma doença ou um desvio da norma. Como os africanos apresentavam ainda traços físicos, crenças religiosas, costumes e hábitos culturais diferentes dos que predominavam na Europa, autores europeus passaram a caracterizá-los como seres situados entre os humanos e os animais. Todas essas visões eurocêntricas fizeram com que os negros fossem considerados culturalmente inferiores e propensos à escravidão [...]”
AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo.
História. São Paulo: Ática, 2008, p.199.
Texto II
“Desde os cinco anos merecera eu a alcunha
de ‘menino diabo’; e verdadeiramente não era outra
coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto,
indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo,
um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me
negara uma colher do doce de coco que estava
fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um
punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da
travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é
que estragara o doce ‘por pirraça’; e eu tinha apenas
seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, era o
meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no
chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de
freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na
mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado,
e ele obedecia, - algumas vezes gemendo, - mas
obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um –
‘ai, nhonhô!’ - ao que eu retorquia: - ‘Cala a boca,
besta!’ ”
ASSIS, Machado. Memórias Póstumas de Brás-Cubas. São
Paulo: Globo, 2008, p.62.