SóProvas


ID
1090870
Banca
FGV
Órgão
CONDER
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Tecnologia


     Para começar, ele nos olha na cara. Não é como a máquina de escrever, que a gente olha de cima, com superioridade. Com ele é olho no olho ou tela no olho. Ele nos desafia. Parece estar dizendo: vamos lá, seu desprezível pré-eletrônico, mostre o que você sabe fazer. A máquina de escrever faz tudo que você manda, mesmo que seja a tapa. Com o computador é diferente. Você faz tudo que ele manda. Ou precisa fazer tudo ao modo dele, senão ele não aceita. Simplesmente ignora você. Mas se apenas ignorasse ainda seria suportável. Ele responde. Repreende.
Corrige. Uma tela vazia, muda, nenhuma reação aos nossos comandos digitais, tudo bem. Quer dizer, você se sente como aquele cara que cantou a secretária eletrônica. É um vexame privado. Mas quando você o manda fazer alguma coisa, mas manda errado, ele diz "Errado". Não diz "Burro", mas está implícito. É pior, muito pior. Às vezes, quando a gente erra, ele faz "bip". Assim, para todo mundo ouvir. Comecei a usar o computador na redação do jornal e volta e meia errava. E lá vinha ele: "Bip!" "Olha aqui, pessoal: ele errou." "O burro errou!"

     Outra coisa: ele é mais inteligente que você. Sabe muito mais coisa e não tem nenhum pudor em dizer que sabe. Esse negócio de que qualquer máquina só é tão inteligente quanto quem a usa não vale com ele. Está subentendido, nas suas relações com o computador, que você jamais aproveitará metade das coisas que ele tem para oferecer. Que ele só desenvolverá todo o seu potencial quando outro igual a ele o estiver programando. A máquina de escrever podia ter recursos que você nunca usaria, mas não tinha a mesma empáfia, o mesmo ar de quem só aguentava os humanos por falta de coisa melhor, no momento. E a máquina, mesmo nos seus instantes de maior impaciência conosco, jamais faria "bip" em público.

     Dito isto, é preciso dizer também que quem provou pela primeira vez suas letrinhas dificilmente voltará à máquina de escrever sem a sensação de que está desembarcando de uma Mercedes e voltando à carroça. Está certo, jamais teremos com ele a mesma confortável cumplicidade que tínhamos com a velha máquina. É outro tipo de relacionamento, mais formal e exigente.
Mas é fascinante. Agora compreendo o entusiasmo de gente como Millôr Fernandes e Fernando Sabino, que dividem a sua vida profissional em antes dele e depois dele. Sinto falta do papel e da fiel Bic, sempre pronta a inserir entre uma linha e outra a palavra que faltou na hora, e que nele foi substituída por um botão, que, além de mais rápido, jamais nos sujará os dedos, mas acho que estou sucumbindo. Sei que nunca seremos íntimos, mesmo porque ele não ia querer se rebaixar a ser meu amigo, mas retiro tudo o que pensei sobre ele. Claro que você pode concluir que eu só estou querendo agradá-lo, precavidamente, mas juro que é sincero.

Quando saí da redação do jornal depois de usar o computador pela primeira vez, cheguei em casa e bati na minha máquina. Sabendo que ela aguentaria sem reclamar, como sempre, a pobrezinha.

(VERÍSSIMO, Luis Fernando. O Globo)

"Sinto falta do papel e da f iel Bic, sempre pronta a inserir entre uma linha e outra a palavra que faltou na hora...".

Assinale a alternativa em que a substituição da forma reduzida sublinhada foi feita de forma adequada.

Alternativas
Comentários
  • Presente do Subjuntivo: Acompanhado das conjunções que, embora ou talvez, transmite ideia de um fato possível, considerado altamente provável.

    Ex.: Que eu seja aprovado no TRT.

    Na 1ª Conjugação (ar), troca-se o a pelo e. Ex.: Cantar -> Que eu cante;

    Na 2ª Conjugação (er), troca-se o e pela a. Ex.: Vender -> Que eu venda;

    Na 3ª Conjugação (ir), troca-se o i pela a. Ex.: Partir -> Que eu parta;

  • Nesta questão basta observar a grafia das palavras que já se eliminam várias alternativas!

    "Sinto falta do papel e da fiel bic, sempre pronta a inserir entre uma linha e outra a palavra que faltou na hora...". 

    F a) que se insera. - a palavra "insera" não existe

    F b) que se inserte. - tá errado!

     c) que se insira.

    F d) que se enserisse. - "enserisse" não existe

     F e) que se insertasse. - "insertasse" não existe

    Por eliminação se percebe que a alternativa correta é a letra C!

  • "Sinto falta do papel e da fiel Bic, sempre pronta inserir entre uma linha e outra a palavra que faltou na hora...". 


    "Sinto falta do papel e da fiel Bic, sempre pronta para que se insira entre uma linha e outra a palavra que faltou na hora...". 
    Quem está pronta, está pronta para alguma coisa. Pede a preposição para. Com isso podemos conjugar facilmente o verbo inserir.
  • Letra C.

     

    Comentário:

     

    Esta questão trabalha dois temas: a transformação da oração reduzida de infinitivo em desenvolvida e a flexão verbal.
    As flexões “insera”, “inserte”, “enserisse” e “insertasse” não existem. Assim, a alternativa correta é a (C).
    A oração “a inserir entre uma linha e outra a palavra” é subordinada substantiva completiva nominal reduzida de infinitivo:

    sempre pronta a isso.

    Note que o verbo “Sinto” encontra-se no tempo presente do indicativo, o qual sugere que o tempo verbal da próxima oração

    esteja também no tempo presente. Porém, como há uma oração subordinada substantiva, é natural que o modo verbal seja

    o subjuntivo. Por esse motivo, confirma-se a alternativa como a (C) correta, pois “insira” é o tempo presente do subjuntivo,

    o qual combina com o tempo presente do indicativo “Sinto”.

     

     

    Gabarito: C

     

     

    Prof. Décio Terror