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ID
1382071
Banca
FCC
Órgão
SEFAZ-SP
Ano
2006
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                      Acerca do bem e do mal
      Fulano é “do bem”, Sicrano é “do mal”. Não, não são crianças comentando um filme de mocinho e bandido; são frases de adultos, reiteradas a propósito das mais diferentes pessoas, nas mais diversas situações. O julgamento definitivo e em preto e branco que elas implicam parece traduzir o esforço de adotar, em meio ao caldeirão de valores da sociedade moderna, um princípio básico de qualificação moral e ética.Essa oposição rudimentar revela a necessidade que temos de estabelecer algum juízo de valor para a orientação da nossa própria conduta. Tal busca de discernimento é antiga, e em princípio é legítima: está na base de todas as culturas, dá sustentação a religiões e inspira ideologias, provoca os filósofos, os juristas, os políticos. O perigo está em que o movimento de busca cesse e dê lugar à paralisia dos valores estratificados.
      O exemplo pode vir de cima: quando um chefe de poderosa nação passa a classificar países inteiros como integrantes do “eixo do mal”, está-se proclamando como
representante dos que constituiriam o “eixo do bem”. Essa divisão tosca é, de fato, muito conveniente, pois faculta ao mais forte a iniciativa de intervir na vida e no espaço do mais fraco, sob a alegação de que o faz para preservar os chamados “valores fundamentais da humanidade”. Interesses estratégicos
e econômicos são, assim, mascarados pela suposta preservação de princípios da civilização. A História já nos mostrou, sobejamente, a que levam tais ideologias absolutistas, que se atribuem o direito de julgar o outro segundo o critério da religião que este professa, do regime político que adota, da etnia a que pertence. A intolerância em relação às diferenças culturais, por exemplo, acaba levando o mais forte à subjugação das pessoas “diferentes” – e mais fracas. É quando a ética sai de cena, para dar lugar à barbárie.
      A busca de distinção entre o que é “do bem” e o que é “do mal” traz consigo um dilema: por um lado, não podemos dispensar alguma bússola de orientação ética e moral, que aponte para o que parece ser o justo, o correto, o desejável; por outro lado, se o norteamento dos nossos juízos for inflexível como o teimoso ponteiro, comprometemos de vez a dinâmica que é própria da história e dos valores humanos. Não há, na rota da civilização, leis eternas, constituições que não admitam revisões, costumes inalteráveis. A escolha do critério de julgamento é sempre crítica e sofrida, quando responsável; dispensando-se, porém, a responsabilidade dessa escolha, restará a terrível fatalidade dos dogmas. Lembrando o instigante paradoxo de um filósofo francês, “estamos condenados a ser livres”. Nessa compulsória liberdade, de que fala o filósofo, a escolha entre o que é “do bem” e o que é “do mal” é uma questão sempre viva, que merece ser analisada e enfrentada em suas particulares manifestações históricas. Se assim não for, estará garantido um espaço cada vez maior para a ação dos fundamentalistas de todo tipo.
(Cândido Otoniel de Almeida)

A escolha do critério de julgamento é sempre crítica e sofrida, quando responsável; dispensando-se, porém, a responsabilidade dessa escolha, restará a terrível fatalidade dos dogmas.

Mantêm-se o sentido e a correção da frase caso se substitua

Alternativas
Comentários
  • Conjunções "porém" e "no entanto" são coordenativas adversativas e também podem ser substituídas, dessa forma, a letra B também está certa! 

  • Acho que o erro da "b" é porque seria dispensadA e não dispensado como está escrito na alternativa. 

  • desde que, seria condicional e não temporal.

  • A conjunção "quando" nesse contexto é dado como conjunção condicional, bem como ao substituirmos por "desde que". Uma vez que se invertermos as orações temos: «Desde que responsável, a escolha do critério de julgamento é sempre crítica e sofrida.» / «Quando responsável, a escolha do critério de julgamento é sempre crítica e sofrida.»
  • A. A colocação desse “se" antes do verbo e do termo ademais alteraria a correção e o sentido, já que porém e ademais possuem sentidos diferentes.

    B. No entanto e porém possuem o mesmo sentido, mas dispensando-se passa uma ideia diferente de uma vez dispensado.

    C. “Quando" geralmente é ligado à ideia de tempo, mas, nesse caso, o sentido está mais para condição. É equivalente a caso, se, desde que, logo não há alteração gramatical ou semântica.

    D. A alteração mudaria o sentido, já que posto que não indica condição.

    E. A alteração também mudaria o sentido, visto um termo indica condição; e o outro, concessão.