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ID
1753432
Banca
FCC
Órgão
CETAM
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto abaixo para responder à questão.

  Recordei outros Carnavais quando fui ao enterro de d. Faride, mãe do meu amigo Osman Nasser. Quando eu tinha uns catorze ou quinze anos de idade, Osman beirava os trinta e era uma figura lendária na pacata Manaus dos anos 1960.
    Pacata? Nem tanto. A cidade não era esse polvo cujos tentáculos rasgam a floresta e atravessam o rio Negro, mas sempre foi um porto cosmopolita, lugar de esplendor e decadência cíclicos, por onde passam aventureiros de todas as latitudes do Brasil e do mundo.
    No fim daquela tarde triste − sol ralo filtrado por nuvens densas e escuras −, me lembrei dos bailes carnavalescos nos clubes e dos blocos de rua. Antes do primeiro grito de Carnaval, a folia começava na tarde em que centenas de pessoas iam ao aeroporto de Ponta Pelada para recepcionar a Camélia, onde a multidão cantava a marchinha Ô jardineira, por que estás tão triste, mas o que foi que te aconteceu? e depois a caravana acompanhava a Camélia gigantesca até o Olympico Clube. Não sei se era permitido usar lança-perfume, mas a bisnaga de vidro transparente refrescava as noites carnavalescas.
   Não éramos espectadores de desfiles de escolas de samba carioca; aliás, nem havia TV em Manaus: o Carnaval significava quatro dias maldormidos com suas noites em claro, entre as praças e os clubes. A Segunda-Feira Gorda, no Atlético Rio Negro Clube, era o auge da folia que terminava no Mercado Municipal Adolpho Lisboa, onde víamos ou acreditávamos ver peixes graúdos fantasiados e peixeiros mascarados. Havia também sereias roucas de tanto cantar, princesas destronadas, foliões com roupa esfarrapada, mendigos que ganhavam um prato de mingau de banana ou jaraqui frito. Os foliões mais bêbados mergulhavam no rio Negro para que mitigassem a ressaca, outros discutiam com urubus na praia ou procuravam a namorada extraviada em algum momento do baile, quando ninguém era de ninguém e o Carnaval, um mistério alucinante.
    Quantos homens choravam na praia, homens solitários e tristes, com o rosto manchado de confetes e o coração seco.
    “Grande é o Senhor Deus”, cantam parentes e amigos no enterro, enquanto eu me lembro da noite natalina em que d. Faride distribuía presentes para convidados e penetras que iam festejar o Natal na casa dos Nasser.
    Ali está a árvore coberta de pacotes coloridos; na sala, a mesa cresce com a chegada de acepipes, as luzes do pátio iluminam a fonte de pedra, cercada de crianças. O velho Nasser, sentado na cadeira de balanço, fuma um charuto com a pose de um perfeito patriarca. Ouço a voz de Oum Kalsoum no disco de 78 rpm, ouço uma gritaria alegre, vejo as nove irmãs de Osman dançar para o pai; depois elas lhe oferecem tâmaras e pistaches que tinham viajado do outro lado da Terra para aquele pequeno e difuso Oriente no centro de Manaus.
    Agora as mulheres cantam loas ao Senhor, rezam o Pai Nosso e eu desvio o olhar das mangueiras quietas que sombreiam o chão, mangueiras centenárias, as poucas que restaram na cidade. Parece que só os mortos têm direito à sombra, os vivos de Manaus penam sob o sol. Olho para o alto do mausoléu e vejo a estrela e lua crescente de metal, símbolos do islã: religião do velho Nasser. É um dos mausoléus muçulmanos no cemité- rio São João Batista, mas a mãe que desce ao fundo da terra era católica. 
    Reconheço rostos de amigos, foliões de outros tempos, e ali, entre dois túmulos, ajoelhado e de cabeça baixa, vejo o vendedor de frutas que, na minha juventude, carregava um pomar na cabeça.
    A cantoria cessa na quietude do crepúsculo, e a vida, quando se olha para trás e para longe, parece um sonho. Abraço meu amigo órfão, que me cochicha um ditado árabe:
    Uma mãe vale um mundo.
    Daqui a pouco será Carnaval
    (Adaptado de: HATOUM, Milton. "Um enterro e   outros Carnavais", Um solitário à espreita.     São Paulo, Cia. das Letras, 2013, p. 24-26)

Na frase Parece que só os mortos têm direito à sombra, os vivos de Manaus penam sob o sol..., explicita-se a relação de sentido entre as duas orações acrescentando-se, imediatamente após a vírgula, a expressão:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito letra e).

     

     

    A frase é: "Parece que só os mortos têm direito à sombra, os vivos de Manaus penam sob o sol."

     

    Lendo a frase, é possível perceber um "enquanto" implícito antes de "os vivos". Ficando da seguinte forma: "Parece que só os mortos têm direito à sombra, (ENQUANTO) os vivos de Manaus penam sob o sol."

     

     

    A conjunção ao passo que, tem o mesmo significado de "enquanto" ou "durante o tempo em que". É classificada como uma locução conjuntiva subordinativa proporcional. A função dessa conjunção é expressar a proporcionalidade dos acontecimentos presentes na oração subordinada em relação aos acontecimentos da oração principal.

     

    Logo, deve-se utilizar ao passo que.

     

     

    DEMAIS ALTERNATIVAS

     

     

    a) NÃO SE UTILIZA "CONQUANTO QUE", CERTO É APENAS "CONQUANTO". CONQUANTO = CONCESSIVA.

     

    b) "POSTO QUE" é uma locução conjuntiva de valor concessivo e também, modernamente, de valor explicativo ou causal.

     

    c) "NÃO OBSTANTE" pode ser uma conjunção subordinativa concessiva ou uma conjunção coordenativa adversativa. Vai depender do contexto em que ela estiver.

     

    d) "VISTO QUE", "PORQUANTO", "PORQUE" = CAUSAL

     

     

    Fontes:

     

    http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf85.php

     

    http://www.gramaticaemvideo.com.br/26-lista-das-conjuncoes-aulas-2-e-3-conjuncoes/

     

    http://www.linguabrasil.com.br/nao-tropece-detail.php?id=694

     

    http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf86.php

     

    https://www.significados.com.br/ao-passo-que/

     

     

     

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  • GABARITO - E

     

    LETRA "D" é o que pega ne? as outras estão de boa:

     

    Galera , acredito que não pode usar uma conjunção CAUSAL (VISTO QUE) , pois ao ler o texto , o fato de os vivos penarem sob o sol não decorre do fato que só os mortos terem direito à sombra. Entende? não há relação de causa e consequência (uma coisa aconteceu pra depois acontecer a outra) e sim de proprorção (coisas acontecendo ao mesmo tempo). É sutil mas da pra matar !

     

    Avisem-me se eu estiver equivocado !

  • Matei essa questão exatamente eliminando o sentido de causa e consequência, que não há na frase original. 

  • AFFF!!! Custava a fcc colocar o paràgrafo!!!

  • Gab E

    Apesar de ter acertado não concordo, pois a fcc deveria ter colocado o parágrafo. Nem citou que queria após a primeira a vírgula.

  • Pra que vocês querem o parágrafo??? Não precisa voltar no texto pra responder esse tipo de questão! Parem de brigar com a banca e estudem!!