SóProvas


ID
1774573
Banca
FUNCAB
Órgão
ANS
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                   Arquimedes, o bom repórter

      Faz parte do meu ofício inventar. Mentir, sem qualquer consideração teológica. Preencher as páginas em branco, esforçando-me por criar heróis mesquinhos e sublimes. Um ofício que se funde com as adversidades do cotidiano e que, pautado por uma estética insubordinada, comporta todas as escalas morais, afugenta os ideários uniformizadores.

      A literatura brota de todos os homens, de todas as épocas. Sua ambígua natureza determina que os escritores integrem uma raça fadada a exceder-se. Seus membros, como uma seita, vivem na franja e no âmago da realidade, que constrange e ilumina ao mesmo tempo. E sem a qual a criação fenece. A arte dos escritores arregimenta a sucata e o sublime, o que se oxida em meio aos horrores, o que se regenera sob o impulso dos suspiros de amor. Apalpa a matéria secreta que sangra e aloja-se nos porões da alma.

      Há muito sei que a escrita não poupa o escritor. E que, ao ser um martírio diário, coloca-o a serviço do real. E enquanto este mero exercício de acumular palavras, de dar-lhes sentido, for um ato de fé no humano, a literatura seguirá sendo protagonista do enigma que envolve vida e morte. Uma arte que geme, emite sinais, desenha signos, e que constitui uma salvaguarda civilizadora perante a barbárie. Em cujas páginas batalha-se pelo provável entendimento entre seres e situações intoleráveis. Como se por meio de certos recursos estéticos fosse possível conciliar antagonismos, praticar a tolerância, ativar sentimentos, testar os limites da linguagem e da ambiguidade da solidão humana. Salvar, enfim, os seres trágicos que somos.

      Não sei ser outra coisa que escritora. Já pelas manhãs, enquanto crio, apalpo emoções benfazejas, sentimentos instáveis, a substância sob o abrigo do sinistro e da esperança. Tudo o que a realidade abusiva refuta. É mister, contudo, combater os expurgos estéticos para narrara história jamais contada.

      A criação literária, porém, que se faz à sombra da comunidade humana, aproximou-me sempre daqueles cujas experiências pessoais eram vizinhas no ato de escrever. Por isso, desde a infância, senti-me irmanada aos jornalistas no uso das palavras e na maneira de captar o mundo. E a tal ponto vinculada aos jornais que nos vinham a casa, já pelas manhãs, que disputava com o pai o privilégio de lê-los antes dele. De aproximar-me destas páginas vivazes que, arrancando-me da sonolência, proclamavam que a vida despertara antes de mim. O drama humano não tinha instante para começar, precedera-me há horas, há milênios.

PIÑON, Nélida. Aprendiz de Homero. Rio de Janeiro: Editora Record, 2008, p. 81-82, fragmento. 

Nos fragmentos do texto transcritos a seguir, foram feitas alterações no emprego dos sinais de pontuação. A alteração foi feita em consonância com as normas de pontuação em:

Alternativas
Comentários
  • Tupixiiiii

  • Gabarito: D

    O drama humano não tinha instante para começar: precedera-me há horas, há milênios.

  • Letra d. Poderia ser colocada entre vírgulas. Explicativa.

  • Alguém pode explicar porque a letra C está errada? Grande abraço!

  • c) ENFIM está deslocado, deveria vir entre virgulas...

     

    Eu acho... faz 200 anos que não estudo português ...

  • Felipe Rozelio,

     

    As conjunções 'pois', 'porém', 'portanto', 'não obstante', 'contudo', 'enfim'... quando vier depois do verbo, deverá ser separada por vírgula:

     

    ** Salvar, enfim, os seres trágicos que somos.

     

    «Eu já enviei minhas desculpas, espero, pois, que você entenda.»
    «Você não veio ontem, nada impede, porém, que continue fazendo parte da equipe vencedora.»
    «Terminei a prova com antecedência, não me digas, portanto, que não posso sair.»
    « Apesar de toda a minha insistência, disse-me, contudo, que estava estressadíssimo.»

     

    fonte: http://www.lpeu.com.br/q/v73qc

  • O drama humano não tinha instante para começar: precedera-me há horas, há milênios.

    Separa termos coma mesma função sintática ou elementos de enumeração; 

    EX.: Maria, Manoel, Pedro, Paulo e Renato saíram.