SóProvas


ID
1886590
Banca
FCC
Órgão
TRF - 3ª REGIÃO
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Depois que se tinha fartado de ouro, o mundo teve fome de açúcar, mas o açúcar consumia escravos. O esgotamento das minas − que de resto foi precedido pelo das florestas que forneciam o combustível para os fornos −, a abolição da escravatura e, finalmente, uma procura mundial crescente, orientam São Paulo e o seu porto de Santos para o café. De amarelo, passando pelo branco, o ouro tornou-se negro.

      Mas, apesar de terem ocorrido essas transformações que tornaram Santos num dos centros do comércio internacional, o local conserva uma beleza secreta; à medida que o barco penetra lentamente por entre as ilhas, experimento aqui o primeiro sobressalto dos trópicos. Estamos encerrados num canal verdejante. Quase podíamos, só com estender a mão, agarrar essas plantas que o Rio ainda mantinha à distância nas suas estufas empoleiradas lá no alto. Aqui se estabelece, num palco mais modesto, o contato com a paisagem.

      O arrabalde de Santos, uma planície inundada, crivada de lagoas e pântanos, entrecortada por riachos estreitos e canais, cujos contornos são perpetuamente esbatidos por uma bruma nacarada, assemelha-se à própria Terra, emergindo no começo da criação. As plantações de bananeiras que a cobrem são do verde mais jovem e terno que se possa imaginar: mais agudo que o ouro verde dos campos de juta no delta do Bramaputra, com o qual gosto de o associar na minha recordação; mas é que a própria fragilidade do matiz, a sua gracilidade inquieta, comparada com a suntuosidade tranquila da outra, contribuem para criar uma atmosfera primordial.

      Durante cerca de meia hora, rolamos por entre bananeiras, mais plantas mastodontes do que árvores anãs, com troncos plenos de seiva que terminam numa girândola de folhas elásticas por sobre uma mão de 100 dedos que sai de um enorme lótus castanho e rosado. A seguir, a estrada eleva-se até os 800 metros de altitude, o cume da serra. Como acontece em toda parte nessa costa, escarpas abruptas protegeram dos ataques do homem essa floresta virgem tão rica que para encontrarmos igual a ela teríamos de percorrer vários milhares de quilômetros para norte, junto da bacia amazônica.

      Enquanto o carro geme em curvas que já nem poderíamos qualificar como “cabeças de alfinete”, de tal modo se sucedem em espiral, por entre um nevoeiro que imita a alta montanha de outros climas, posso examinar à vontade as árvores e as plantas estendendo-se perante o meu olhar como espécimes de museu.


(Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. Coimbra, Edições 70, 1979, p. 82-3) 

A alteração da voz do verbo poder, nas duas vezes em que ocorre no último parágrafo, deverá resultar nas seguintes formas, respectivamente:

Alternativas
Comentários
  •  

    Explicação: Voz passiva sintética: vou usar a partícula “se”- não terá o verbo "ser" e o agente da passiva.

     

    1ª frase: nem poderíamos qualificar como “cabeças de alfinete" (as curvas).

    Logo, na voz passiva sintética ficaria: nem se poderiam qualificar as curvas como "cabeças de alfinete" ;

    (Coloquei a oração na ordem direta para poder compreender a questão).

    2ª frase: posso examinar à vontade as árvores e as plantas

    Podem-se examinar as árvores e as plantas à vontade. (voz passiva sintética);

    Logo, a alternativa correta é a letra "d".

    Observe que na primeira frase o "nem" atrai a partícula "se" para antes do verbo.

    Obs.: se alguém encontrar um erro na minha explicação, por favor me avise. Achei a questão bem díficil e consegui resolvê-la somente dessa forma.

     

  • GABARITO D

    1º caso
    ... cuvas que já "nem" (caso atrativo do pronome) poderíamos qualificar como cabeças de alfinete.

    Voz passiva sintética
    .... curvas que já nem se podem qualificar como "cabeças de alfinete" (sujeito concordando com o verbo).
    Voz passiva analítica - ordem direta
    ..."Cabeças de alfinete" (sujeito concordando com o verbo) podem ser qualificadas...

    2º caso
    ...posso examinar à vontade as árvores e as plantas...
    Voz passiva sintética 
    ...podem-se examinar à vontade árvores e plantas (sujeito composto)...
    Voz passiva analítica - ordem direta
    "Árvores e plantas" (sujeito composto concordando com o verbo) podem ser examinadas à vontade.

     

  • Pessoal, apertem o botão Indicar pra comentário. Essa questão merece nossa atenção.

  • verbo no futuro do preterito

  • 1ª ocorrência: Enquanto o carro geme em curvas que já nem poderíamos qualificar como “cabeças de alfinete”

    Reescrevendo:

    Na ordem direta: nem poderíamos qualificar as curvas como "cabeças de alfinete";

    Na voz passiva analítica: as curvas nem poderiam ser qualificadas como "cabeças de alfinete"

    Na voz passiva sintética: nem se poderiam qualificar as curvas como "cabeças de alfinete" (RESPOSTA DA QUESTÃO)

     

    2ª ocorrência: posso examinar à vontade as árvores e as plantas (já está na ordem direta)

    Na voz passiva analítica:  as árvores e as plantas podem ser examinadas à vontade

    Na voz passiva sintética: podem-se examinar à vontade as árvores e as plantas (RESPOSTA DA QUESTÃO)

     

  • LETRA D.

    1)Enquanto o carro geme em curvas que já nem poderíamos qualificar ..... ( voz ativa) Obs: nem é conjunção aditiva, assim, usa-se a próclise: se poderiam. Como também se tivesse palavras negativas,interrogativas,exclamativas,pronomes indefinidos)

    2) ..., posso examinar à vontade as árvores e as plantas ....( voz ativa) Obs: Na Colocação Pronominal, em regra, não se pode colocar o pronome depois da vírgula, assim, o certo é podem-se  examinar à vontade as árvores e as plantas.....

      

  • No segundo caso Fiquei na dúvida se estaria correto que o verbo ficasse no plural, soou estranho ao ouvido. ( soa melhor- "pode-examinar as árvores...") PORÉM, trata-se VTD e este faz com que o verbo concorde com o sujeito: podem-se examinar as árvores....

  • Ainda continuo com dúvida quanto a segunda frase. Por que não estaria certa a opção pode-se examinar... ?

    Necessariamente tem que ser podem-se no plural?

    Alguém poderia me esclarecer? obrigada

     

  • Camila, a segunda frase se justifica pelo sujeito do verbo poder, no caso é " as árvores e as plantas..." por isso o verbo deve ir para o plural.
  • A questão correta é letra "D"  porque segue a regra do fator atrativo, NEM, é um adverbio, ou seja, toda vez que houver um adverbio a regra geral é o fator de atração, Nem se poderiam. 

  • Obrigado , prof Arenildo.

  • Para mim, o sujeito da segunda forma é ORACIONAL. "pode-se examinar à vontade as árvores e as plantas estendendo-se perante o meu olhar como espécimes de museu., ou seja, "ISSO PODE-SE". Alguém mais pensou assim ?

  • Gente, reparem que as duas frases estão na voz ativa. O problema pediu para passar para a voz passiva, caso em que o verbo passa a concordar com o objeto direto, que passa a ser sujeito.

    Assim, na primeira frase:  "Enquanto o carro geme em curvas que já nem poderíamos qualificar como “cabeças de alfinete”" --> Reparem que, na voz passiva, o sujeito da oração passaria a ser "curvas", de modo que, concordando com ele, o verbo seria "poderiam". Contudo, em razão da párticula negativa "nem", que atrai o "se", é caso obrigatório de próclise, devendo ficar "se poderiam".

     

    Na segunda frase: "de tal modo se sucedem em espiral, por entre um nevoeiro que imita a alta montanha de outros climas, posso examinar à vontade as árvores". Na voz passiva, o sujeito da frase seria "as árvores", de modo que, concordando com ele, o verbo deveria ser "podem". Contudo, como há uma virgula antes do verbo, é caso preferencial de ênclise, ficando "podem-se".

     

    Espero ser de ajuda a alguém.

     

    Bons estudos!

     

  • Messias, inicialmente, também achei que o sujeito seria oracional, o que exigiria que o verbo ficasse na 1a pessoa (pode).

    Entretanto, perceba que o verbo "pode", nos dois casos, atua como verbo auxiliar. Dessa forma, "qualificar", na segunda oração, não é complemento do verbo, mas sim se integra a ele como verbo principal, formando uma locução verbal.

  • Para quem também achou, realmente soa um pouco estranho o "podem-se examinar árvores e plantas", no lugar de "pode-se examinar árvores e plantas", mas não há confusão porque a questão trata da voz passiva, que na forma sintética é formada por um verbo trasitivo direto (no caso a locução verbal poder examinar) + a partícula apassivadora "se".

     

    Não se pode confundir com o sujeito indeterminado, formado basicamente por verbo intransitivo ou transitivo indireto + se (índice de indeterminação do sujeito), e no qual o verbo permanece no singular.

    Exemplo:

    Vendem-se árvores (árvores são vendidas, voz passiva, verbo no plural)

                                             X

    Necessita-se de árvores (sujeito indeterminado, verbo no singular)    

  •  

    1- caso obrigátorio de próclise

    2 - caso obrigatório de enclise

    a)

    se poderia − se pode     ( errado, não pode pronome com virgula)                    

     b)

    poder-se-ia − podem-se   ( errado, caso obrigatório de próclise)

     c)

    poderiam-se − pode-se        ( caso obrigatório de próclise, palavra em sentido negativo " nem" )

     d)

    se poderiam − podem-se    ( proclise e enclise) --> só pela colocação pronominal da para responder (RESPOSTA)

     e)

    se poderiam − se pode    ( tinha que ser enclise)

  • Questão tensa.

  • eu não respondi com base nas regras de colocação pronominal, eu simplesmente passei para a voz passiva e percebi que o verbo em questão deve ficar no plural.

  • Pessoal, errei por assinalar a alternativa B sabendo que o verbo no futuro simples do pretérito atrai a Mesóclise, porém há uma observação importante que não me atentei: Se antes dessa forma verbal houver uma palavra que atraia a Próclise, não se empregará a Mesóclise (no caso a palavra "nem" atraiu a Próclise).

  • EM AMBOS CASOS O "SE" É PRONOME APASSIVADOR.

    SENDO PRONOME, SEGUE AS REGRAS DE COLOCAÇÃO PRONOMINAL: NO PRIMEIRO CASO, ATRAÍDO PELO TERMO NEGATIVO "NEM", E NO SEGUNDO, REPELIDO PELA VÍRGULA.

    NO SEGUNDO CASO, INTERESSANTE PERCEBER O PRONOME APASSIVADOR EM UMA LOCAÇÃO VERBAL (PODEM-SE AUXILIAR), APLICADO NO VERBO AUXILIAR, QUE FICA NO PLURAL PARA CONCORDAR COM SUJEITO PASSIVO "AS ÁRVORES E AS PLANTAS..." 

  • Prof, Arenildo, de novo, obrigadaaaa!!!!

  • Questãozinha chata hein!!

  • Questão muito fácil. Quem sabe colocação pronominal não erra de jeito nenhum. Da para ir por eliminação, inclusive.

     

    Enquanto o carro geme em curvas que já nem poderíamos qualificar como “cabeças de alfinete”, de tal modo se sucedem em espiral, por entre um nevoeiro que imita a alta montanha de outros climas, posso examinar à vontade as árvores e as plantas estendendo-se perante o meu olhar como espécimes de museu.

     

    Palavras negativas atraem o pronome, ou seja, caso obrigatório de próclise ~> se poderiam [Já eliminaria a B e C]

    Vírgulas repelem os pronomes, tornando obrigatória a ênclise ~> podem-se [Eliminaria a A e E]

  • Sendo objetivo e sem bla, bla, bla...

    Primeiro caso: palavra negativa atrai o SE

    Segundo caso: virgula afasta o SE

  • O 1º v. 'poder' é atraído pela palavra 'nem'; o segundo é plural (sujeito composto 'árvores e plantas') e a vírgula joga o pronome pra longe.