- ID
- 1972108
- Banca
- Aeronáutica
- Órgão
- CIAAR
- Ano
- 2016
- Provas
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- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Administração
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Análise de Sistemas
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Enfermagem
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Farmacêuticos - Conhecimentos Básicos
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Farmácia Bioquímica
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Jornalismo
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Oficiais de Apoio - Conhecimentos Básicos
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Pedagogia
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Psicologia
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Serviço Social
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Serviços Jurídicos
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu instinto de perfeição deveria inibir-me de acabar; deveria inibir-me até de dar começo. Mas distraio-me e faço. O que consigo é um produto, em mim, não de uma aplicação de vontade, mas de uma cedência dela. Começo porque não tenho força para pensar; acabo porque não tenho alma para suspender. Este livro é a minha cobardia.
A razão por que tantas vezes interrompo um pensamento com um trecho de paisagem, que de algum modo se integra no esquema, real ou suposto, das minhas impressões, é que essa paisagem é uma porta por onde fujo ao conhecimento da minha impotência criadora. Tenho a necessidade, em meio das conversas comigo que formam as palavras deste livro, de falar de repente com outra pessoa, e dirijo-me à luz que paira, como agora, sobre os telhados das casas, que parecem molhados de tê-la de lado; ao agitar brando das árvores altas na encosta citadina, que parecem perto, numa possibilidade de desabamento mudo; aos cartazes sobrepostos das casas ingremadas, com janelas por letras onde o sol morto doira goma húmida.
Por que escrevo, se não escrevo melhor? Mas que seria de mim se não escrevesse o que consigo escrever, por inferior a mim mesmo que nisso seja? Sou um plebeu da aspiração, porque tento realizar; não ouso o silêncio como quem receia um quarto escuro. Sou como os que prezam a medalha mais que o esforço, e gozam a glória na peliça [...].
Escrever, sim, é perder-me, mas todos se perdem, porque tudo é perda. Porém eu perco-me sem alegria, não como o rio na foz para que nasceu incógnito, mas como o lago feito na praia pela maré alta, e cuja água sumida nunca mais regressa ao mar.
(PESSOA, Fernando. Livro do Desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. Org. Richard Zenith. 3ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.)
O pronome “-la”, em “tê-la” (2º§), se refere a