SóProvas


ID
2243803
Banca
IDECAN
Órgão
SEARH - RN
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                   Arte e natureza

      A natureza é uma grande musa. É por ela, e por meio dela, que sentimos a força criadora do entusiasmo – energia maior da inspiração que nos permite registrar, com prazer, a experiência da beleza refletida na harmonia das formas e no delicado equilíbrio das cores naturais. Para os antigos gregos, o entusiasmo (em + theos) nascia do encontro com o daimon, um gênio bondoso que seria o nosso guia pela vida inteira. Essa experiência nos permite também ter uma simpatia especial com o natural. E desperta a nossa criança interior, que estaria ansiosa para continuar brincando.

      Esse é o momento em que o fotógrafo de natureza pega sua câmera, pois escuta a voz interior da inspiração falar: “Vá, exercite suas asas, faça o registro, descubra sua luz e espalhe sua voz pelos quatro cantos do mundo!” O desejo começará a fazer as pazes com o coração para que todos possam aprender, apreciar e amar a natureza. Conjugar o natural com o artístico, fazer da imagem um ornamento, um texto atraente – eis as primeiras condições de uma estética do natural.

      O belo natural é a matriz primeira do belo artístico. Essa é a expressão mimética mais convincente da beleza ideal como tanto defendia Kant. É por isso que a arte ecológica tanto nos seduz, porque estimula o olhar na ampliação desse grande mistério que é ser. O artista é o que intui melhor esse sentimento e busca compulsivamente exprimi‐lo por meio do seu trabalho. O artista ecológico vive dessa temperatura e é por meio da natureza que ele fala, ou melhor, é por ela que ele aprende a falar com sua própria voz. E o momento da criação surge quando, levados por aquela força inspiradora, a intuição e a experiência racional se abraçam numa feliz alquimia. Fiat lux! É o instante em que esse encontro torna‐se obra, registro e documentação.

      Se o artista foi tocado pela musa, desse momento em diante será sempre favorecido por esse impulso. Essa força não é apenas a expressão passageira de uma vontade, mas uma busca pela vida toda na direção de algo ansioso por se tornar imagem. Esse algo é a obra de arte cuja função não vai ser apenas a de agradar, mas a de transmitir a mensagem daquela conivência.

      Quando o homem está inspirado, nada o detém. Se o sofrimento e toda sorte de obstáculos o atingem, ele cria na dor; e esse sacrifício (sacro‐ofício), ao término da obra, se tornaria um exemplo de persistência e de nobreza de espírito. Se está feliz, ele expressa sua felicidade no trabalho. Nesse instante, por exemplo, o fotógrafo da natureza, no sozinho da sua alma, poderá dizer: “Translúcida inspiração, eu a vejo em brilho com seu sorriso pintado em azul. Deixe‐me por um momento desenhar seu vulto na alquimia luminosa da minha lente!”

      Podemos concluir que o brilho de uma obra de arte nunca se apaga, isto é, ela nunca termina de dizer. No sentido de que, enquanto houver espectador para avaliar, apreciar, cuidar, guardar e restaurar, haverá obra e, assim, ela estará sempre acima do tempo. Desse tempo que destrói, desfigura e mata. O quadro “Guernica”, do pintor espanhol Pablo Picasso, por exemplo, devolve ao avaliador uma mensagem tão poderosa que aquela obra provocará surpresa e admiração enquanto existir um olhar que a contemple e avalie.

      E é esse olhar que faz da obra do tempo histórico uma surpreendente permanência, a despeito da perda do efêmero e do fugidio. No final, o artista, o espectador, a obra e o tempo se congratulam. É essa junção de forças que mantém vivo todo trabalho artístico. Ainda bem que a natureza sabe escolher com paciência seus artesãos. Isto é, aqueles que vão dizê‐la com suas próprias vozes, como o fotógrafo, o escultor, o desenhista, o músico e o pintor.

     (Alfeu Trancoso – Ambientalista e professor de Filosofia da PUC/ Minas.)

Uma das regras do emprego da vírgula é para separar orações adverbiais quando antepostas à principal. O segmento em que isso ocorre no texto é:

Alternativas
Comentários
  • Alternativa a.

    "Quando o homem está inspirado, nada o detém." 

    A oração "quando o homem está inspirado" é uma oração subordinada adverbial de tempo. As orações subordinada adverbiais seguem a mesma regra dos adjuntos adverbiais, ou seja, as OSA sempre poderão ser separadas por vírgulas da oração principal. Essa separação será facultativa quando a oração subordinada vier posposta à oração principal, e obrigatória quando a oração subordinada vier intercalada ou anteposta à oração principal.

  • No ITEM B o termo " no final " seria o q?

  • Não seria A e B?

  • Alguém sabe explicar por que não a letra"C"?

     

    É por ela, e por meio dela, que sentimos a força criadora do entusiasmo…" (1º§)

    Este trecho é um Adjunto Adverbial Instrumental deslocado e entre vírgulas. Para mim este é o gabarito...

  • GALERA, atenção! A questão pede ORAÇÃO ADVERBIAL, logo para ser oração tem que haver verbo.

    a) oração adverbial de tempo

    b) adjunto adverbial de tempo

     

     

    "A dor é temporária; o cargo é para sempre"

     

  • Pedro, a letra C, como você bem citou, é um adj. adv. de meio (instrumental), e não uma oração adverbial.

  • Alternativa A.

    Quando o homem está inspirado, nada o detêm.

  • Orações Subordinadas Adverbiais:

    Apresentam forte interação semântica com as Orações Principais.

    OP + O. Subor. Adver. _____________

    (semântica)

    São introduzidas , quando desenvolvidas, pelas conjunções subordinativas adverbiais.

  • Aos que marcaram B. o erro estar na falta de compreensão do enunciado. O comando é claro, quando fala em oração adverbial... logo, tem que haver um verbo.

  • LETRA A- é oração adverbial deslocada porque se inicia por uma conjunção (quando)

    LETRA B- é um adjunto adverbial deslocado, visto que não se inicia por uma conjunção.

  • Algum canal no youtube explica a questão ou assunto?