SóProvas


ID
2600632
Banca
IFPI
Órgão
IF-PI
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                            SOBRE CAFÉS E LIVROS


O que é que eu fui fazer na livraria? Eu estava procurando um livro. Como era desses códices que a gente tem vontade de rabiscar, anotar, comentar, marcar, resolvi ter o livro, bonito, impresso, original. Não encontrei em lugar nenhum, mas o que importa é o percurso desta minha busca.

Passei por duas livrarias dessas enormes, com escadarias, segundo andar, rede de lojas por toda a cidade. Também passei por duas livrarias médias, dessas que têm tradição e são cercadas de lendas urbanas. As outras quatro eram livrarias cult, dessas que servem café e bolos. Pedi um capuchino e até fiquei um tempo ouvindo a moça que cantava ao vivo num palco. Mas então me lembrei de que tinha uma meta: procurar um livro e fui em busca dele. Mexi e remexi em todas as prateleiras, mapeei a loja, fui nas estantes que ficavam sob a placa da categoria em que eu imaginava encontrar meu livrinho. Observei, me aproximei, espirrei a poeira dos livros guardados, chamei o vendedor, pedi informação à menina do caixa e saí de lá com as mãos abanando.

Em Belo Horizonte, e em vários outros lugares, você pode ir a uma livraria sem ter a menor vontade de comprar ou ver um livro. Impressionante a limpeza do balcão, a voz da cantora, a estante de periódicos, o uniforme dos garçons, a agilidade do caixa, o cheirinho do café. Mas na livraria, o vendedor não sabia me informar sobre livros, e as estantes estavam empoeiradas em completa desorganização. Era impossível inferir, sem ajuda urgentíssima, o critério de disposição daquelas obras todas. No meio dos dicionários de línguas, estava o dicionário de palavrões do Glauco Mattoso. No meio dos livros de botânica, estava o Raízes do Brasil, do Sérgio Buarque. O livro que eu procurava devia estar em algum lugar daquele universo indistinto. Talvez na prateleira da cozinha, junto com as colheres de pau.

O que eu procuro quando vou a uma livraria? Em geral, procuro por um livro. Também posso chegar à loja procurando por um tema, sem ter a ideia exata de que livro levar. Eu sinto a necessidade de encontrar ajuda numa espécie de consumidor, alguém que saiba sobre o objeto que vende. Não um vendedor treinado para me dizer “bom dia”. Daí que faço as perguntas e ele deve me responder com alguma dose de precisão, além da simpatia. Também pode ser que ele me dê uma sugestão, o que será delicioso. E se a sugestão for bem sucedida, serei fiel à livraria.Mas parece que, nesta cidade, as livrarias já não têm mais a missão de vender livros. Têm tantas outras que essa se confunde com o pó do capuchino industrializado. Estão lá garçons que vendem livros e cantoras que interpretam poetas que não se encontram mais nas prateleiras. A menina do caixa nunca lê as capas das obras que vende. Atrás dela está pendurado um painel com uma cena de Dom Quixote. Ela pensa que é o esboço de um desenho animado Disney. E então eu sei que não encontrarei o livro que eu quero porque ele deve estar perdido na desordem da loja. Não poderei contar com o vendedor porque ele também não sabe do que eu estou falando. E não poderei fazer outra coisa ali que não seja degustar um café e ler sobre vinhos chilenos com nomes interessantes.

Eu não fui com a intenção de conhecer vinhos andinos. Nem cheguei lá pensando em paquerar. Também não queria ouvir música ao vivo, já que nem tinha dinheiro para pagar o couvert artístico. Não imaginava que seria atendida por um garçom e não queria que o vendedor ficasse constrangido em me dizer que nunca ouvira falar daquele livro antes. Eu queria uma obra que infesta as referências dos meus pares. E onde será que eles a encontram?

Depois de percorrer a cidade em busca do meu livro e não encontrar, entrei na internet e achei. Pedi, paguei frete e o terei em casa sem pedir ao garçom e sem sentir cheiro de café. Não há nada de mal em tomar capuchino na livraria. O que deve estar fora do lugar é a ênfase. Se eu entrasse numa cafeteria e perguntasse por um livro, talvez o garçom se desse conta de que eu é que estava no lugar errado.

RIBEIRO, Ana Elisa. Meus Segredos com Capitu. 2 ed. Natal: Jovens Escribas, 2015. (adaptado) 

No tocante às relações de referência intratextual, à articulação oracional e ao estatuto morfossintático e semântico de itens lexicais, analise as proposições seguintes:


I - A expressão “No meio dos dicionários de línguas [...]” (3º parágrafo) funciona como uma expressão indicativa de lugar, exercendo, pois, a função de adjunto adverbial de lugar.

II - O conectivo se no período “E se a sugestão for bem sucedida, serei fiel à livraria.” (4º parágrafo) corresponde a uma conjunção que expressa a condição necessária para que o fato apresentado na oração principal aconteça.

III - Os pronomes essa e outras no período “Têm tantas outras que essa se confunde com o pó do capuchino industrializado”(5º parágrafo) estabelecem relações referenciais anafóricas e retomam expressões apresentadas no texto, evitando repetição desnecessária e estabelecendo a coesão textual.


É CORRETO o que se afirma em:

Alternativas
Comentários
  • Gab. E

     

    I - CORRETO  - "No meio dos dicionários de línguas, estava(verbo) o dicionário de palavrões do Glauco Mattoso." 

     

    R: Onde estava o dicionário de palavrões? No meio dos dicionários de línguas. Portato, Adjunto adverbial de LUGAR

     

    II - CORRETO -  “E se a sugestão for bem sucedida, serei fiel à livraria.”

     

    R: Valor semântico de CONDIÇÃO, portanto, Conjunção CONDICIONAL. Exemplo de outras: caso, contato que, salvo se, desde que...

     

    III - CORRETO -  "Mas parece que, nesta cidade, as livrarias já não têm mais a missão de vender livros. Têm tantas outras que essa se confunde com o pó do capuchino industrializado."

     

    R: ''Outras'' e ''Essa'' está fazendo referência as livrarias, anteriormente citadas, evitando repetições desnecessárias. 

     

     

    ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

     

    Confira o meu material gratuito --> https://drive.google.com/drive/folders/1sSk7DGBaen4Bgo-p8cwh_hhINxeKL_UV?usp=sharing

  • Bah.

    - Na III a referência não é missão?

    - Na I não podemos escrever a frase assim:  O dicionário de palavrões do Glaubo Mattoso estava no meio dos dicionários de língua?  Esta não seria a forma correta da frase? Escrito desta forma, não consigo entender como pode ser adjunto adverbial.

    Por favor alguém pode me ajudar?

     

  • Leonardo Tagliapietra,

     

    com relação à primeira, quando o adjunto adverbial DESLOCADO for de pequena extensão ou de até 3 palavras, segundo alguns gramáticos, ele dispensa vírgula. No caso em questão, ele está deslocado de sua posição original (pois está no início da oração) e é de grande extensão, o que obriga o uso da vírgula.

    Saliento que a forma como você colocou é aceita, é correta e dispensa vírgula.

     

    Com relação à terceira, “Têm tantas outras (MISSÕES) que essa (MISSÃO) ..."

     

    Note que ambas expressões foram citadas no texto, no período anterior, o que faz com que a assertiva esteja correta.

     

    Espero tê-lo ajudado!

     

    Bons estudos! AVANTE

  • Dica:

    ANafórico = ANtes = ANteriormente

  • Questão boa. 

    #TRIBOCASCAA

  • GABARITO: E

    Se você errou essa questão não desanime, tudo é uma questão de tempo, esforço e dedicação.

  • Não seria a função de predicativo da oração principal.

  • Dica: Termos anafóricos: essa, isso, esse... Ter,os catafóricos: Esta, isto, este...

  • GAB E

     

    É sempre bom revisitar conceitos... como no caso do item III que por descuido nesse item pode fazer errar toda a questão.

     

    ANÁFORA = RETOMA POR MEIO DE REFERÊNCIA UM TERMO ANTERIOR.

     

    Designa-se ANÁFORA (não confundir com a figura de linguagem de mesmo nome) o termo ou expressão que, em um texto ou discurso, faz referência direta ou indireta a um termo anterior. O termo anafórico retoma um termo anterior, total ou parcialmente, de modo que, para compreendê-lo dependemos do termo antecedente.

    Vejamos alguns exemplos de ANÁFORA:

    João está doente. Vi-o na semana passada.

    (pronome “o” retoma o termo “João”.)

    Ana comprou um cãoO animal já conhece todos os cantos da casa.

    (o termo “o animal” faz referência ao termo antecedente “o cão”)

     

     

    CATÁFORA = TERMO USADO PARA FAZER REFERÊNCIA A UM OUTRO TERMO POSTERIOR.

     

    Os pronomes catafóricos são aqueles que fazem referência a um termo subsequente, estabelecendo com ele uma relação não autônoma, portanto, dependente. Para compreender um termo catafórico é necessário interpretar o termo ao qual faz referência.

    Vejamos alguns exemplos de CATÁFORA:

    A irmã olhou-o e disse: - João, estás com um ar cansado.

    (O pronome “o” faz referência ao termo subsequente “João”, de modo que só se pode compreender a quem o pronome se refere quando se chega ao termo de referência.)

    Os nomes próprios mais utilizados na língua portuguesa são estes: João, Maria e José.

    (Neste caso o pronome “estes” faz referência aos termos imediatamente seguintes “João, Maria e José”.)

     

     

    https://www.infoescola.com/portugues/anafora-e-catafora/