SóProvas


ID
2978395
Banca
FCC
Órgão
SEMEF Manaus - AM
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

            O brasileiro gosta de pensar que o Brasil é uma nação acolhedora, que recebe imigrantes de braços abertos. Em termos de dados históricos e estatísticos, não é bem assim. Apesar da imigração maciça promovida por sucessivos governos durante o Império e o primeiro período republicano, sempre houve debates sobre o tipo de imigrante que seria mais desejável, passando pela rejeição explícita a determinados grupos. Na década de 1860, a questão da imigração de chineses atingiu proporções de grande controvérsia e chegou a ser debatida no parlamento. O consenso era de que devia ser impedida para evitar o suposto risco de degeneração racial. Pelo mesmo motivo, a pseudociência da época desaconselhava a entrada de mais africanos, para além dos milhões que já haviam ingressado escravizados no país. Em 1890, já sob a República, a entrada de asiáticos foi efetivamente barrada por decreto. [...]

            O imigrante ideal, para as autoridades brasileiras daquele tempo, era branco e católico. De preferência, com experiência em agricultura e disposto a se fixar nas zonas rurais. Braços para a lavoura, era o que se dizia, e uma injeção de material genético selecionado com o intuito de “melhorar a raça”. [...]. A preferência por imigrantes católicos seguia a premissa de que seriam de assimilação fácil e não ameaçariam a composição cultural da jovem nação. Aqueles no poder queriam que o brasileiro continuasse do jeitinho que era, só que mais branco. Seguindo as premissas eugênicas então em voga, acreditava-se que o sangue europeu, tido como mais forte, venceria o sangue africano e ameríndio, eliminando-os paulatinamente. Essa política de branqueamento já foi documentada, ad nauseam, por nossa historiografia. Ela é o pano de fundo ideológico para o crescimento da cidade de São Paulo, onde a porcentagem de italianos ficou acima de 30% entre as décadas de 1890 e 1910, período em que a população aumentou quase dez vezes.

            Os doutores daquela época não conseguiram o que almejavam, por três motivos. O primeiro, concreto, é que as doutrinas científicas em que acreditavam eram falsas. Não existe raça pura, em termos biológicos, muito menos a superioridade de uma sobre outra. O segundo, circunstancial, é que a fonte de imigrantes na Europa foi secando antes que a demanda por trabalhadores no Brasil se esgotasse. Quando o navio Kasato Maru atracou no porto de Santos em junho de 1908, com 165 famílias japonesas a bordo, era o reconhecimento implícito de que os interesses econômicos iriam prevalecer sobre a ideologia eugenista. A imigração em massa de japoneses para o Brasil, ao longo do século 20, não somente descarrilou o projeto de branqueamento como também quebrou o paradigma de que não católicos eram inassimiláveis. Os japoneses ficaram e se fixaram. Seus descendentes tornaram-se brasileiros, a despeito de muito preconceito e até perseguição. Conseguiram essa proeza, de início, porque se mantiveram isolados no interior do país. Longe da vista, como fizeram meus avós e bisavós.

            O terceiro motivo do fracasso do modelo de assimilabilidade católica é conceitual. Seus defensores partiam de um pressuposto falso: o de que a população brasileira era homogênea em termos de religião. [...] o mito do bom imigrante católico ignorava estrategicamente a presença de judeus, muçulmanos e protestantes no Brasil. Os três grupos estiveram presentes desde a época colonial e, cada um a seu modo, contribuíram para a formação do país.

(CARDOSO, Rafael. O Brasil é dos brasileiros. Revista Serrote, no 27, pp. 45 e 47, 2018) 

O terceiro motivo do fracasso do modelo de assimilabilidade católica é conceitual. Seus defensores partiam de um pressuposto falso: o de que a população brasileira era homogênea em termos de religião. [...] o mito do bom imigrante católico ignorava estrategicamente a presença de judeus, muçulmanos e protestantes no Brasil. Os três grupos estiveram presentes desde a época colonial e, cada um a seu modo, contribuíram para a formação do país.

Considerado o trecho reproduzido, é correto afirmar:

Alternativas
Comentários
  • a) para que não haja alteração semântica, a locução coesiva utilizada deveria ser “NA MEDIDA EM QUE”, que indica causalidade;

    c) com a referida alteração, haveria necessidade de modificação do ARTIGO DEFINIDO "o", por "a";

    d) os dois pontos estão empregados para introduzir uma oração subordinada substantiva APOSITIVA;

    e) a retirada da vírgula incorreria em erro gramatical, pois termos EXPLICATIVOS devem aparecer entre vírgulas;

     

    Quem escolheu a busca não pode recusar a travessia - Guimarães Rosa

    ------------------- 

    Gabarito: B

  • À medida que tem o sentido de à proporção que.

    Ex: À medida que a renda diminui, o brasileiro reduz gastos em lazer e cultura.

    Na medida em que indica ideia de causa, significa uma vez quevisto quetendo em vista.

    Ex: Para ele, preservar essas áreas, além de aumentar a qualidade de vida, traz mais renda para a população, na medida em que melhora a qualidade dos empregos e das moradias.

  • B) O segundo período manteria a correção com o segmento alternativo “partiam de um pressuposto falso, qual seja, este de que a população brasileira era homogênea em termos de religião”.

    Nesse caso, o pronome relativo "este" retoma, por coesão, o termo "pressuposto fático". Ainda, o termo "qual seja" substitui os dois pontos, dando ideia de explicação.

  • Gabarito: B

    Marquei "E" por não ter me atentado que a conjunção introduz termos explicativos!

    AFF

  • Maria Augusta, eu discordo da sua correção da alternativa E.

    Creio que a justificativa para a incorreção da alternativa seja a seguinte:

    Os três grupos (sujeito da oração) estiveram presentes desde a época colonial e cada um a seu modo, contribuíram (verbo a que se refere o sujeito) para a formação do país.

    Se analisarmos, é possível constatar que, após retirar a vírgula, estaríamos separando o sujeito do seu verbo.

    Creio que seja isso, mas se estiver errado, por favor me corrija.

  • Posso estar errada, mas percebi também na letra E que ao tirar a vírgula após a conjunção, a outra vírgula se manteria e separaria o predicado do sujeito, fazendo com que a assertiva ficasse errada de qualquer jeito.

    Veja: Os três grupos estiveram presentes desde a época colonial e cada um a seu modo, contribuíram para a formação do país. (os três grupos contribuíram... Logo, não se pode ter a vírgula de intruja neste contexto).

    Se eu estiver errada é só falar.

  • alguem sabe me explicar porque "este" (grifado abaixo) esta correto no sentido da frase??

    para mim o correto seria:"qual seja, de que a população brasileira "

    b) O segundo período manteria a correção com o segmento alternativo “partiam de um pressuposto falso, qual seja, este de que a população brasileira era homogênea em termos de religião”.

  • a)Redação alternativa à acima transcrita, que reúna os dois períodos iniciais num só e não prejudique o sentido original, deve valer-se da locução coesiva “à medida que”.ERRADA

    R:Não podemos mudar o valor dos periodos para torná-los com valor de proporcionalidade,pois justamente o que aconteceria se fizesse a troca sugerida.

    ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    b)CORRETA

    c)Se o segmento um pressuposto falso fosse alterado para “uma ideia falsa”, a frase manteria sua correção sem que houvesse necessidade de outra modificação no período.ERRADA

    R:Seus defensores partiam de um pressuposto falso: o de que a população brasileira era homogênea em termos de religião.(a) Precisaria incluir o artigo feminino.

    ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    d)Os dois-pontos estão empregados pelo mesmo motivo que se nota em “Curioso, perguntou: - Quem lhe deu esse belo presente?”, exigidos por verbo dicendi.ERRADA

    R:O primeiro é usado para adicionar um aposto explicativo, já o segundo para um discurso.

    ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    e)No último período, a retirada da vírgula após a conjunção não prejudica a correção original da frase, visto que seu emprego é facultativo.ERRADA

    R:A virgula dupla está isolando o termo “cada um a seu modo”.

    GABARITO B

  • Acertei essa, mas a prova está fora do padrão!

  • Quem vai fazer o trf4 se prepara que é provável que venha no estilo dessa prova, pq sempre dificultam no português

  • Que questão!!! Solicitei comentário do professor.

  • letra E

    Os três grupos (sujeito da oração) estiveram presentes ...... e cada um a seu modo, contribuíram (verbo a que se refere o sujeito) para a formação do país.

    errado, pois:

    após retirar a vírgula, separa-se o sujeito do seu verbo.

  • A letra B utiliza uma expressão que nunca vi na minha vida.... fico indignado quando erro esse tipo de questão

  • com a supressão de ''seus defensores '' , achei que o sujeito fosse: este de que a população brasileira era homogênea em termos de religião”.

    Logo, teria que ficar no plural o verbo, marquei a A , mas não concordava muito tbm kk

  • O réu se acalmava, à medida que a audiência se desenvolvia, em seguida, sorria, à medida que morria.