SóProvas


ID
3613681
Banca
FUNCERN
Órgão
Consórcio do Trairí - RN
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A mercadoria alucinógena


      Enquanto o consumidor imagina que é um ser racional, dotado de juízo e de bom senso, a publicidade na TV abandona progressivamente essa ilusão. Em vez de argumentar para a razão do telespectador, ela apela para as sensações, para as revelações mágicas mais impossíveis. A marca de chicletes promete transportar o freguês para um tal “mundo do sabor” e mostra o garoto-propaganda levitando em outras esferas cósmicas. O adoçante faz surgirem do nada violinistas e guitarristas. O guaraná em lata provoca visões amazônicas no seu bebedor urbano, que passa a enxergar um índio, com o rosto pintado de bravura, no que seria o pálido semblante de um taxista. Seria o tal refrigerante uma versão comercial das beberagens do Santo Daime? Não, nada disso. São apenas os baratos astrais da nova tendência da publicidade. Estamos na era das mercadorias alucinógenas. Imaginariamente alucinógenas.

      É claro que ninguém há de acreditar que uma goma de mascar, um adoçante ou um guaraná proporcionem a transmigração das almas. Ninguém leva os comerciais alucinógenos ao pé da letra, mas cada vez mais gente se deixa seduzir por eles. É que o encanto das mercadorias não está nelas, mas fora delas — e a publicidade sabe disso muito bem. Ela sabe que esse encanto reside na relação imaginária que ela, publicidade, fabrica entre a mercadoria e seu consumidor. Pode parecer um insulto à inteligência do telespectador, mas ele bem que gosta. É tudo mentira, mas é a maior viagem. A julgar pelo crescimento dessas campanhas, o público vibra ao ser tratado como quem se esgueira pelos supermercados à cata de alucinações.

      Por isso, a publicidade se despe momentaneamente de sua alegada função cívica — a de informar o comprador para que ele exerça o seu direito de escolha consciente na hora da compra — e apenas oferece a felicidade etérea, irreal e imaterial, que nada tem a ver com as propriedades físicas (ou químicas) do produto. A publicidade é a fábrica do gozo fictício — e este gozo é a grande mercadoria dos nossos tempos, confortavelmente escondida atrás das bugigangas oferecidas. Quanto ao consumidor, compra satisfeito a alucinação imaginária. Ele também está cercado de muito conforto, protegido pela aparência de razão que todos fingem ser sua liberdade. Supremo fingimento. O consumidor não vai morrer de overdose dessa droga. Ele só teme ser barrado nos portais eletrônicos do imenso festim psicodélico. Morreria de frio e de abandono. Ele só teme passar um dia que seja longe de seu pequeno gozo alucinado.

FONTE: BUCCI, Eugênio. Veja. São Paulo, 29 abr.1998. In: ANTUNES, Irandé. Análise de textos: fundamentos e práticas. São Paulo: Parábola Editorial, 2010. p.80-81. [Fragmento]

Marque a opção em que a justificativa esteja coerente com a estrutura da frase dada como exemplo, em relação à pontuação, sintaxe e coesão.

Alternativas
Comentários
  • ✅ Gabarito: D

    A) Em “O adoçante faz surgirem do nada violinistas e guitarristas.”, verifica-se que os termos sintáticos estão dispostos conforme a ordem canônica → INCORRETO. A ordem canônica é a ordem direta (=sujeito+verbo+complemento). Na frase o sujeito vem após o verbo (=está na ordem indireta).

    B) Em “É que o encanto das mercadorias não está nelas, mas fora delas — e a publicidade sabe disso muito bem”, o termo em destaque refere-se a uma afirmação posterior acerca das mercadorias → INCORRETO. O pronome demonstrativo em destaque possui caráter anafórico (=retoma algo, refere-se a algo anterior e não posterior).

    C) Em “— a de informar o comprador para que ele exerça o seu direito de escolha consciente na hora da compra —”, por ser uma oração intercalada dispensa o uso dos travessões → INCORRETO. Por ser uma oração intercalada, deve sim ser separada por pontuação, uso obrigatório.

    D) Em “É claro que ninguém há de acreditar que uma goma de mascar, um adoçante ou um guaraná proporcionem a transmigração das almas”, o trecho em destaque é uma oração subordinada substantiva subjetiva → CORRETO. Temos a conjunção subordinada integrante "que" dando início a uma oração subordinada substantiva subjetiva (função de sujeito). ISSO é claro.

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Eu entendi que a alternativa A, está na ordem correta, mas a concordância do verbo está incorreta. Temos uma locução verbal que pela regra geral deveria concordar com o núcleo do sujeito, nesse caso Adoçante. Alguém pode explicar?

  • Assertiva D

    Em “É claro que ninguém há de acreditar que uma goma de mascar, um adoçante ou um guaraná proporcionem a transmigração das almas”, o trecho em destaque é uma oração subordinada substantiva subjetiva.

  • A órdem canônica seria : O adoçante faz surgirem violinistas e guitarristas do nada.

  • A ordem canônica da letra A seria: O adoçante faz violinistas e guitarristas surgirem do nada.

    Em “É claro que ninguém há de acreditar que uma goma de mascar, um adoçante ou um guaraná proporcionem a transmigração das almas”, o trecho em destaque é uma oração subordinada substantiva subjetiva → CORRETO. Temos a conjunção subordinada integrante "que" dando início a uma oração subordinada substantiva subjetiva (função de sujeito). ISSO é claro.

    Gabarito letra ´´D´´ de ACDC. rsrsrsrsrsrs...

  • O erro da questão (A), está na locução verbal "faz surgir". O verbo fazer (auxiliar), esta na 3º pessoa do singular no modo presente do indicativo e o verbo surgir (principal), está na forma nominal, ou seja, no infinitivo. Portanto, o verbo principal, deve estar no singular concordando com o verbo auxiliar. Espero que possa esta certo, mas quero errar aqui e acertar na prova!!!!!AlÔ voceê