SóProvas


ID
3718837
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
Prefeitura de Betim - MG
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Conto: uma morada

O sonho de uma velha senhora

Juremir Machado da Silva


Contava-se que ela havia passado a vida lutando contra homens, doenças e intempéries. Dizia-se que criara sozinha onze filhos e enfrentara oito tormentas de derrubar casas e deixar muita gente desesperada. Durante muito tempo, teve um apelido: a flagelada. Era alta, magérrima e de olhos muito negros, duas bolas escuras que pareciam cintilar à beira do abismo. Era uma mulher de fala forte, voz rouca, agravada pelo cigarro, não menos de trinta por dia, do palheiro ao sem filtro, o que viesse, qualquer coisa que lhe permitisse sair do ar.

– Meu silêncio diz tudo – era o máximo que concedia a algum vizinho.

Apesar do seu jeito esquisito, era amada por quase todos. Gostava-se da sua coragem, da sua franqueza, alguns até falavam de uma ternura escondida por trás dos gestos de fera indomável. Muitos nem sabiam mais o nome dela. Era chamada simplesmente de “a velha”. Contava-se que prometera a si mesma viver cem anos para debochar das agruras da vida. Servira durante décadas de parteira, de benzedeira e até de responsável pela ordem nas redondezas. Impunha respeito, resolvia litígios, dava bons conselhos, sentia pena das jovens apaixonadas. Com o passar do tempo, ficou mais impaciente e menos propensa a ouvir longas e repetitivas histórias.

      (...)

Destino – Não se contava, porém, quando havia perdido tudo. Ficara sem casa. Vivia na cidade num quarto emprestado por um velho conhecido. Quando se imaginava que estava esgotada, que só esperava o fim para se livrar dos tormentos, ela se revelou mais firme do que nunca. Queria viver. Mais do que isso, deu para dizer a quem quisesse ouvir que tinha um sonho.

– Um sonho?

– Sim, a Velha tem um sonho.

A notícia espalhou-se como um acontecimento improvável. Com o que podia sonhar a velha? Contava-se que homens faziam apostas enquanto jogavam cartas ou discutiam futebol, mulheres especulavam sobre esse sonho, crianças se interessavam pelo assunto, todos queriam entender como podia aquela mulher árida ter um sonho, algo que a maioria, mais nova, já não tinha. Por alguns meses, pois ela fazia do seu novo silêncio um trunfo, foi cercada de atenção na busca obsessiva por uma resposta. Teriam até lhe oferecido dinheiro para revelar o seu sonho num programa de rádio.

Conta-se que numa tarde mormacenta de janeiro, com um temporal prestes a desabar, ela disse com a sua voz grave um pouco mais vibrante para quem pudesse ouvir (nunca se soube quem foi o primeiro saber):

– Quero voltar para casa.

Que casa era essa? A velha queria retornar ao lugar onde havia nascido, um lugar perdido na campanha onde vicejava solitário um cinamomo. Sonhava em ter uma casinha ali para viver os seus últimos anos. Desse ponto de observação, podia-se enxergar um enorme vazio. A comunidade, sempre tão dispersa, mobilizou-se como se, de repente, tudo fizesse sentido. O dono da terra aceitou que lhe erguessem um rancho no meio do nada para que ela fincasse suas raízes por alguns anos. Um mutirão foi organizado para erguer a morada. Até políticos contribuíram para a compra do modesto material – tábuas, pregos, latas – necessário à construção da residência. Num final de semana de fevereiro, a casa foi erguida.

Um rancho de duas peças: quarto e cozinha. Uma latrina a dez passos do cinamomo. Caía a noite quando tudo ficou pronto. Os homens embarcaram na carroceria de um velho caminhão e partiram. Ela ficou só no lugar que escolhera para viver depois de tantas lutas encarniçadas com o destino. Sentia-se vitoriosa. A lua cheia banhou os campos naquela noite. Ela passeou até onde as velhas pernas lhe permitiram. Deitou-se no catre com colchão novo. Fez questão de manter a sua cama. Morreu ao amanhecer com o sol faiscando na cobertura de lata reluzindo de tão nova e duradoura.

Adaptado de:<https://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/conto-uma-morada-1.392657>. Acesso em 26 jan. 2020.

O termo em destaque, no trecho “Não se contava, porém, quando havia perdido tudo.”, NÃO poderia ser substituído, sem alteração de sentido, por

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: C

    ✓ “Não se contava, porém, quando havia perdido tudo.”

    ➥ Temos, em destaque, uma conjunção coordenativa adversativa. Outros com essa mesma classificação: não obstante, porém, só que, contudo, senão (=mas sim), todavia, entretanto, no entanto, ainda assim.

    Na letra "c" (=portanto: conjunção coordenativa conclusiva, ela não possui o mesmo sentido da conjunção "porém", logo temos a nossa resposta). 

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Gab: C

    “Não se contava, porém, quando havia perdido tudo.”

    >> Trata-se de uma conjunção coordenativa adversativa;

    >> Adversativas – ligam duas orações ou palavras, expressando ideia de contraste, de oposição.

    > São elas: Mas, porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto, não obstante.

    >> Portanto: é conclusiva!

    >> Conclusivas: ligam à anterior uma oração que expressa ideia de conclusão ou consequência.

    >São elas: logo, pois, portanto, por conseguinte, por isso, assim.

  • Portanto - Conj. coordenativa conclusiva.

    As demais são conj. coordenativas adversativas.

  • Para responder à questão, leva-se em conta a equivalência conjuntiva, isto é, conjunções que encerram o mesmo sentido. Inspecionemos o fragmento:

    “Não se contava, porém, quando havia perdido tudo.”

    Na estrutura acima, "porém" denota contraste, oposição, ou seja, trata-se de uma conjunção coordenativa adversativa. Equivale a contudo, todavia, entretanto e no entanto. Em contrapartida, a conjunção "portanto" tem valor conclusivo, sendo sinônimo de logo, pois (entre vírgulas).

    Letra C

  • Essa daí meu aluno num pode errar.

    Lembrei Alexandre Soares grande mestre.

    Portanto é conclusivo. Os demais, adversativo.

    Gab. C

  • Pão, Pão. Queijo, Queijo.

  • Portanto = conclusivo. As demais, adversativas.

  • GABARITO: C

    Adversativas: ligam duas orações ou palavras, expressando ideia de contraste ou compensação. São elas: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não obstante. Por exemplo: Tentei chegar mais cedo, porém não consegui.

    Conclusivas: ligam a oração anterior a uma oração que expressa ideia de conclusão ou consequência. São elas: logo, pois (depois do verbo), portanto, por conseguinte, por isso, assim. Por exemplo: Marta estava bem preparada para o teste, portanto não ficou nervosa.

  • GABARITO LETRA C

    ALTERNATIVA QUE A CONJUNÇÃO QUE NÃO É CABÍVEL NA ORAÇÃO.

    a) contudo. CERTO

    ------------------------------------------

    b)todavia. CERTO.

    ------------------------------------------

    c)portanto. GABARITO.

    CONJUNÇÃO COORDENADA CONCLUSIVA.

    CONCLUSIVAS: Logo, /Portanto, /Assim, /por isso, /Então, /enfim, /por consequência, /por conseguinte, / consequentemente, / conseguinte, /dessarte, /destarte, /isso posto, /pelo que, /daí. /De modo que, /De maneira que. /De forma que. /Em vista disso, /donde. /Por onde. /agora. / deste modo. / Dessa forma. /Com isso. / sendo assim/. etc.

    ------------------------------------------

    d)entretanto. CERTO

    ------------------------------------------

    e)no entanto. CERTO

    ------------------------------------------

    Orações coordenadas adversativas: O sentido adversativo é aquele que indica uma oposição em relação ao que foi dito anteriormente, podendo caracterizar, portanto, uma ideia de contraste.

    Ex:

    -- >Mas. /porém. / contudo. / todavia. /entretanto. /no entanto. /entanto. / não obstante. /apesar disso. / Ainda assim. / em todo caso. /mesmo assim. /de outra sorte. /ao passo que.

     

  • Gabarito: C

    Portanto: Conjunção conclusiva.

  • Portanto é conclusiva

  • A - contudo. | Adversativa

    B - todavia. | Adversativa

    C - portanto. | Conclusiva GABARITO

    D - entretanto. | Adversativa 

    E - no entanto. | Adversativa

  • Não se contava, portanto, quando havia perdido tudo.

    → portanto "conectivo coordenativo conclusivo"

    > Os demais são conectivos adversativos

    GABARITO C - Não podendo substituir conectivos adversativos por conclusivos

  • ORAÇÃO COORDENADA SINDÉTICA ADVERSATIVA (mas, porém, contudo, entretanto, todavia, no entanto)

  • Conjunções conclusivas: portanto,logo,por isso,por conseguinte.

    Conjunções adversativas:porém,contudo,todavia,entretanto,no entanto,senão,que= mas,ainda assim.

  • Aquela questão que eu quero na minha prova!

  • gab: c

    conclusivas: portanto,logo,entao,assim,destarte,conseguinte .