SóProvas


ID
3874729
Banca
FEPESE
Órgão
Prefeitura de Mafra - SC
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto.

Pechada

O apelido foi instantâneo. No primeiro dia de aula, o aluno novo já estava sendo chamado de “Gaúcho”. Porque era gaúcho. Recém-chegado do Rio Grande do Sul, com um sotaque carregado.

— Aí, Gaúcho!
— Fala, Gaúcho!

Perguntaram para a professora por que o Gaúcho falava diferente. A professora explicou que cada região tinha seu idioma, mas que as diferenças não eram tão grandes assim. Afinal, todos falavam português. Variava a pronúncia, mas a língua era uma só. E os alunos não achavam formidável que num país do tamanho do Brasil todos falassem a mesma língua, só com pequenas variações?

— Mas o Gaúcho fala “tu”! — disse o gordo Jorge, que era quem mais implicava com o novato.
— E fala certo — disse a professora. — Pode-se dizer “tu” e pode-se dizer “você”. Os dois estão certos. Os dois são português.

O gordo Jorge fez cara de quem não se entregara.

Um dia, o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o que acontecera.

— O pai atravessou a sinaleira e pechou.
— O quê?
— O pai. Atravessou a sinaleira e pechou.

A professora sorriu. Depois achou que não era caso para sorrir. Afinal, o pai do menino atravessara uma sinaleira e pechara. Podia estar, naquele momento, em algum hospital. Gravemente pechado. Com pedaços de sinaleira sendo retirados do seu corpo.

—– O que foi que ele disse, tia? — quis saber o gordo Jorge.
— Que o pai dele atravessou uma sinaleira e pechou.
— E o que é isso? — Gaúcho… Quer dizer, Rodrigo: explique para a classe o que aconteceu.
—Nós vinha…
—Nós vínhamos.
— Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no vermelho e deu uma pechada noutro auto.

A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que acontecera? Ao mesmo tempo, procurava uma tradução para o relato do gaúcho. Não podia admitir que não o entendera. Não com o gordo Jorge rindo daquele jeito.

“Sinaleira”, obviamente, era sinal, semáforo. “Auto” era automóvel, carro. Mas “pechar” o que era? Bater, claro. Mas de onde viera aquela estranha palavra? Só muitos dias depois a professora descobriu que “pechar” vinha do espanhol e queria dizer bater com o peito, e até lá teve que se esforçar para convencer o gordo Jorge de que era mesmo brasileiro o que falava o novato. Que já ganhara outro apelido. Pechada.

— Aí, Pechada!
— Fala, Pechada!

VERÍSSIMO, Luís Fernando. Pechada. Revista Nova Escola. São Paulo, maio 2001

Assinale a alternativa correta.

Alternativas
Comentários
  •  Gabarito: B

     a) Está correta a frase: “Ele disse que o carro deu perca total” → INCORRETO. O correto é -perda (substantivo); Perca (verbo).
     b) Observe a frase: “Não sei dizer por que não te quero mais”. Está correto o uso da palavra sublinhada → CORRETO. Preposição "por" + conjunção subordinativa integrante "que" (= por qual motivo).
     c) Em: “O carro ficou quebrado” e “O carro ficou deteriorado”, temos exemplos de antônimos nas duas palavras sublinhadas → INCORRETO. Os termos são sinônimos (significados semelhantes) e não antônimos (significados contrários).
     d) Na frase: “O gaúcho falava diferente”, a palavra sublinhada é um adjetivo, em uma análise sintática → INCORRETO. É um adjetivo como classe gramatical e não como função sintática.
     e) Está escrita corretamente a seguinte frase: “Ontem eu quiz perdoar o Pechada, mas hoje, se ele não quizer entender, minha decisão mudará” → INCORRETO. O correto é "quis" e "quiser", ambos com -s e não com -z.

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Na D vejo como um advérbio de modo

    O modo que ele falava era diferente. advérbio ligado ao verbo Falar

  • Correta, B

    Costumo trocar o POR QUE por POR QUAL MOTIVO.

    “Não sei dizer por que não te quero mais” - certo.

    “Não sei dizer por qual motivo não te quero mais” - certo.

    Veja que o sentido é o mesmo, logo assertiva correta: B.

  • Faça uma troca rápida por "por qual" motivo

    O por que permite ser trocado por " pelo(s) qual (ais)" ou por qual motivo