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ID
4138594
Banca
IDECAN
Órgão
Prefeitura de Manhumirim - MG
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Entre os mundos real e virtual

     Ninguém precisa mais se preocupar em invadir a nossa privacidade. Nós nos expomos em rede global.

           Nosso mundo pós-moderno é fragmentado. Uma de suas expressões mais evidentes é o videoclipe. Enxurrada de flashes, vibrações acústicas, sons distorcidos. Rompe-se a linearidade, enquanto a simultaneidade embaralha passado, presente e futuro. Tudo é simuladamente aqui e agora.
         O Iluminismo, ancorado na literatura, cede lugar à digitalização frenética. Mundo que carece de sentido. Forma que dispensa conteúdo. A performance do artista ultrapassa a arte que ele produz. Seu nome vale mais que seu desempenho. A valoração dá lugar à exaltação.
          Einstein, que desnudou o mistério do Universo com suas equações, foi sucedido por Steve Jobs, que nos ofereceu maravilhas tecnológicas embaladas de refinamento estético, movidas a velocidade que desafia o cérebro humano.
        Agora a alienação já não resulta de ideologias que distorcem a realidade para nos incutir a mentira como verdade. Basta que sejamos deslocados do real para o virtual. Somos seres que trafegam simultaneamente em dois mundos: o da realidade de nossas necessidades e o da virtualidade de nossos sonhos e desejos.
       Trancados em nossos egos, avessos à sociabilidade, navegamos nas redes sociais que dispensam texto e contexto. Bastam vocábulos desconexos, abreviações, o balbuciar de sinais gráficos que nos conectam com a plateia global que, acomodada no teatro do mundo, desconectada do real, mantém os olhos fixos no palco vazio.
     As grandes narrativas são deletadas por esse tempo desprovido de memória e utopia. O passado passou, o futuro é uma quimera... Só resta o presente que se sucede prisioneiro da circularidade infinita.
      Ninguém ingressa em uma casa sem antes avisar ou ser convidado, marcar hora, identificar-se com o porteiro e justificar a espera e atenção.
       No entanto, centenas de pessoas invadem, pelas redes sociais, o nosso espaço privado, ferem a nossa sensibilidade com ofensas e desaforos, desafiam os nossos valores, jogam-nos na vala comum das emoções cifradas. Tudo se assemelha a um jogo de pingue-pongue com rede, porém sem mesa.
    Viciados em digitalização, aprisionados pela tecnologia que assegura retorno imediato ao capital, perdemos horas e horas da vida atirados ao ringue onomatopaico. Não navegamos, naufragamos. Deixamo-nos aprisionar pelas redes que nos favorecem a evasão de privacidade.
        Ora, ninguém precisa mais se preocupar em invadir a nossa privacidade. Nós mesmos nos expomos em rede global, arrancamos máscaras e roupas, escancaramos nossa indigência cultural e nossa miséria espiritual.
     Como artefato tecnológico, somos também apenas uma forma. Um objeto jogado aleatoriamente no turbulento mar da dessignificação.
     Escravos da virtualidade, acorrentados nas redes, não somos mais capazes de desligar o celular e de nos desligar dele. É ele que nos permite olhar o mundo pela janelinha eletrônica dessa prisão em que nos trancamos, cuja chave jogamos nas águas que cercam a ilha na qual nos isolamos, desprovidos de alteridade e sentido.

(Frei Betto. O Globo, 10/08/2015.) 

O trecho “Agora a alienação já não resulta de ideologias que distorcem a realidade para nos incutir a mentira como verdade.” (4º§) tem mantida a correção gramatical e semântica em:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO - D

    A) A alienação, resultado de ideologias que distorcem a realidade, nos incute a mentira como verdade.

    Na redação original a alienação não resulta de ideologias que distorcem a realidade.

    ___________________________________________________

    B) Contudo, a alienação já não resulta de ideologias que distorcem a realidade para nos incutir a mentira como verdade.

    Não há noção de adversidade no período original.

    ___________________________________________________

    C) Agora a alienação ainda não resulta de ideologias que distorcem a realidade para nos incutir a mentira como verdade.

    A alienação pela redação original já não resulta mais . O sentido foi alterado.

    __________________________________________________

    D) Agora a alienação não é mais resultado de ideologias que distorcem a realidade para nos incutir a mentira como verdade.

    Comparando com a redação original:

    Agora a alienação já não resulta de ideologias que distorcem a realidade para nos incutir a mentira como verdade.” 

    Bons estudos!

  • valha, meu pai!

  • Para entender melhor essa questão recomendo que retornem aos parágrafos anteriores.

  • Na letra A, a omissão do advérbio "Agora" altera o sentido original.

    Na letra B, a substituição do advérbio de tempo "Agora" pela conjunção adversativa "Contudo" muda o sentido original.

    Na letra C, a substituição de "já" por "ainda" muda o sentido original. O primeiro indica uma mudança, ao passo que o segundo, uma ideia de permanência.

    Na letra D, a troca de "já não resulta" por "não é mais resultado" preserva a ideia original de mudança.