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ID
5349055
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
CBM-TO
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 1A1-I


    A manhã era fresca na palhoça da velha dona Ana no Alto Rio Negro, um lugar onde a história é viva e a gente é parte dessa continuidade. Dona Ana explicava que “antes tinha o povo Cuchi, depois teve Baré escravizado vindo de Manaus pra cá na época do cumaru, da batala, do pau-rosa. Muitos se esconderam no rio Xié. Agora somos nós”. Terra de gente poliglota, de encontros e desencontros estrangeiros.

     No início desse mundo, havia dois tipos de cuia: a cuia de tapioca e a cuia de ipadu. Embora possam ser classificadas como pertencentes à mesma espécie botânica (Crescentia cujete), a primeira era ligada ao uso diário, ao passo que a outra era usada como veículo de acesso ao mundo espiritual em decorrência do consumo de ipadu e gaapi (cipó Banisteriopsis caapi). Os pesquisadores indígenas atuais da região também destacam essa especificidade funcional. Assim, distinguem-se até hoje dois tipos de árvore no Alto Rio Negro: as árvores de cuiupis e as de cuias, que recebem nomes diferentes pelos falantes da língua tukano.

     Dona Ana me explica que os cuiupis no Alto Rio Negro são plantios muito antigos dos Cuchi, e os galhos foram trazidos da beira do rio Cassiquiari (afluente do rio Orinoco, na fronteira entre Colômbia e Venezuela), onde o cuiupi “tem na natureza”, pois cresce sozinho e em abundância. Já a cuia redonda, diz-se que veio de Santarém ou de Manaus, com o povo Baré nas migrações forçadas que marcaram a colonização do Rio Negro. Os homens mais velhos atestam que em Manaus só tinha cuia. De lá, uma família chamada Coimbra chegou trazendo gado e enriqueceu vendendo cuias redondas no Alto Rio Negro.

     Cuiupis e cuias diferem na origem e também nos ritmos de vida. As árvores de cuiupi frutificam durante a estação chamada kipu-wahro. Antes de produzirem frutos, perdem todas as folhas uma vez por ano. A árvore de cuia, diferentemente do cuiupi, mantém as folhas e a produção de frutos durante todo o ano.


Priscila Ambrósio Moreira. Memórias sobre as cuias. O que contam os quintais e as florestas alagáveis na Amazônia brasileira? In: Joana Cabral de Oliveira et al. (Org.). Vozes Vegetais. São Paulo: Ubu Editora, p. 155-156 (com adaptações).

Cada uma das opções a seguir apresenta uma proposta de reescrita para o seguinte trecho do segundo parágrafo do texto 1A1-I: “Embora possam ser classificadas como pertencentes à mesma espécie botânica (Crescentia cujete), a primeira era ligada ao uso diário, ao passo que a outra era usada como veículo de acesso ao mundo espiritual em decorrência do consumo de ipadu e gaapi (cipó Banisteriopsis caapi).”. Assinale a opção cuja proposta mantém os sentidos originais e a correção gramatical desse trecho.

Alternativas
Comentários
  • A primeira era ligada ao uso diário, enquanto a outra era usada como veículo de acesso ao mundo espiritual em decorrência do consumo de ipadu e gaapi (cipó Banisteriopsis caapi), mas ambas podem ser classificadas como pertencentes à mesma espécie botânica (Crescentia cujete)

  • Gabarito: A

    Embora possam ser classificadas como pertencentes à mesma espécie botânica (Crescentia cujete), a primeira era ligada ao uso diário, ao passo que a outra era usada como veículo de acesso ao mundo espiritual em decorrência do consumo de ipadu e gaapi (cipó Banisteriopsis caapi).”

    • Embora: conjunção subordinativa concessiva
    • Ao passo que: conjunção subordinativa temporal

    O texto estava na ordem indireta, e nas alternativas foi colocada na ordem direta. Observe as trocas das conjunções e, consequentemente, o sentido:

    A) A primeira era ligada ao uso diário, enquanto a outra era usada como veículo de acesso ao mundo espiritual em decorrência do consumo de ipadu e gaapi (cipó Banisteriopsis caapi), mas ambas podem ser classificadas como pertencentes à mesma espécie botânica (Crescentia cujete).

    • Enquanto: conjunção subordinativa temporal Ou seja, dá pra trocar por ao passo que
    • Mas: conjunção coordenativa adversativa, Em regra, há mudança de sentido, pois a conjunção adversativa enfatiza, enquanto a conjunção concessiva atenua. PORÉM traz a mesma ideia de contrariedade que a conjunção adversativa tem, e por não haver uma alternativa melhor, essa é a alternativa que resta.

    B) A primeira era ligada ao uso diário, na medida em que a outra valia como meio de acesso ao mundo espiritual em decorrência do consumo de ipadu e gaapi (cipó Banisteriopsis caapi), conquanto ambas podem ser classificadas como pertencentes à mesma espécie botânica (Crescentia cujete).

    • Na medida em que: conjunção subordinativa causal
    • Conquanto: conjunção subordinativa concessiva

    C) A primeira destinava-se ao uso diário, e a outra era usada como veículo de acesso ao mundo espiritual em decorrência do consumo de ipadu e gaapi (cipó Banisteriopsis caapi), de modo que ambas podem ser classificadas como pertencentes à mesma espécie botânica (Crescentia cujete).

    • E: conjunção coordenativa aditiva
    • De modo que: conjunção subordinativa consecutiva

    D) A primeira vinculava-se ao uso diário, enquanto a outra era usada como veículo de acesso ao mundo espiritual em decorrência do consumo de ipadu e gaapi (cipó Banisteriopsis caapi), porque ambas podem ser classificadas como pertencentes à mesma espécie botânica (Crescentia cujete).

    • Enquanto: conjunção subordinativa temporal
    • Porque: conjunção coordenativa explicativa