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ID
5390077
Banca
PUC-MINAS
Órgão
PUC-MINAS
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 2 / Parte 2
A importância do ato de ler2
Paulo Freire

Continuando neste esforço de “re-ler” momentos fundamentais de experiências de minha infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica da importância do ato de ler se veio em mim constituindo através de sua prática, retomo o tempo em que, como aluno do chamado curso ginasial, me experimentei na percepção crítica dos textos que lia em classe, com a colaboração, até hoje recordada, do meu então professor de língua portuguesa. Não eram, porém, aqueles momentos puros exercícios de que resultasse um simples dar-nos conta de uma página escrita diante de nós que devesse ser cadenciada, mecânica e enfadonhamente “soletrada” e realmente lida. Não eram aqueles momentos “lições de leitura”, no sentido tradicional desta expressão. Eram momentos em que os textos se ofereciam à nossa inquieta procura, incluindo a do então jovem professor José Pessoa.

Algum tempo depois, como professor também de português, nos meus vinte anos, vivi intensamente a importância de ler e de escrever, no fundo indicotomizáveis, com os alunos das primeiras séries do então chamado curso ginasial. A regência verbal, a sintaxe de concordância, o problema da crase, o sinclitismo pronominal, nada disso era reduzido por mim a tabletes de conhecimentos que devessem ser engolidos pelos estudantes. Tudo isso, pelo contrário, era proposto à curiosidade dos alunos de maneira dinâmica e viva, no corpo mesmo de textos, ora de autores que estudávamos, ora deles próprios, como objetos a serem desvelados e não como algo parado, cujo perfil eu descrevesse. Os alunos não tinham que memorizar mecanicamente a descrição do objeto, mas apreender a sua significação profunda. Só apreendendo-a seriam capazes de saber, por isso, de memorizá-la, de fixá-la. A memorização mecânica da descrição do elo não se constitui em conhecimento do objeto. Por isso, é que a leitura de um texto, tomado como pura descrição de um objeto é feita no sentido de memorizá-la, nem é real leitura, nem dela portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala. 

Creio que muito de nossa insistência, enquanto professoras e professores, em que os estudantes “leiam”, num semestre, um sem-número de capítulos de livros, reside na compreensão errônea que às vezes temos do ato de ler. Em minha andarilhagem pelo mundo, não foram poucas as vezes em que jovens estudantes me falaram de sua luta às voltas com extensas bibliografias a serem muito mais “devoradas" do que realmente lidas ou estudadas. [...] 

A insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada desde outro ângulo, que se encontra, por exemplo, em quem escreve, quando identifica a possível qualidade de seu trabalho, ou não, com a quantidade de páginas escritas. No entanto, um dos documentos filosóficos mais importantes de que dispomos, As teses sobre Feuerbach, de Marx, tem apenas duas páginas e meia... 

Parece importante, contudo, para evitar uma compreensão errônea do que estou afirmando, sublinhar que a minha crítica à magicização da palavra não significa, de maneira alguma, uma posição pouco responsável de minha parte com relação à necessidade que temos, educadores e educandos, de ler, sempre e seriamente, os clássicos neste ou naquele campo do saber, de nos adentrarmos nos textos, de criar uma disciplina intelectual, sem a qual inviabilizamos a nossa prática enquanto professores e estudantes. 

Analise o excerto dado e os itens lexicais nele destacados:

A insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada desde outro ângulo, que se encontra, por exemplo, em quem escreve, quando identifica a possível qualidade de seu trabalho, ou não, com a quantidade de páginas escritas.

Sobre esse fragmento, é INCORRETO afirmar:

Alternativas
Comentários
  • Esta questão avalia conhecimentos múltiplos, tais como emprego de pronomes, coesão textual, concordância e interpretação de texto .

    Após a leitura do trecho do texto associado, nossa tarefa é assinalar qual afirmação está incorreta em relação às regras gramaticais.


    É importante ter atenção para evitar que erros sejam cometidos. Dito isto, vejamos as afirmações:


    A) A palavra “outro", pronome indefinido, refere-se ao substantivo “ângulo", com ele concordando em gênero e número.


    A afirmação está correta . No fragmento “outro ângulo" o pronome indefinido “outro", de fato se refere ao substantivo “ângulo" e, de acordo com as regras de concordância nominal, os modificadores do substantivo (artigo, numeral, pronome, adjetivo) concordam em gênero e número com o nome . Como temos de assinalar a alternativa incorreta, devemos descartar a letra A.


    B) O item “mesmo" (e flexões), segundo a gramática normativa, não deve substituir pronome pessoal – o correto seria “Ela, ainda que..."

    A afirmação está correta . O pronome “mesmo" (e suas flexões) é um pronome demonstrativo e jamais deve substituir um pronome pessoal . Como temos de assinalar a alternativa incorreta, devemos descartar a letra B. C) O item lexical “que", nas duas ocorrências destacadas, é pronome relativo e retoma o termo “visão".

    Esta é a afirmação incorreta e, sendo assim, a resposta da questão . Na primeira ocorrência (“Visão que urge se superada") o “que" é pronome relativo. Já no segundo caso (“ainda que encarnada"), o “que" integra a conjunção concessiva “ainda que ", não sendo, portanto, um pronome relativo.

    D) O pronome possessivo “seu" concorda com o substantivo a que antecede, porém retoma outro pronome, “quem", sujeito do verbo “escrever ".


    A afirmação está correta . No trecho do texto associado, o pronome possessivo “seu" (masculino) concorda com o substantivo “trabalho" (masculino). Porém, ele retoma “quem", que exerce a função de sujeito do verbo “escrever" . Como temos de assinalar a alternativa incorreta, devemos descartar a letra D.

    Gabarito do Professor: Letra C .