SóProvas


ID
5415472
Banca
SELECON
Órgão
Câmara de Cuiabá - MT
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto l ( Texto para a questão)

Instintos e descivilização

Quão robusta é a ordem civilizada ocidental? A julgar pelo século XX, e mesmo sem levar em conta as duas guerras mundiais, talvez menos do que pareça. O padrão é conhecido: situações de conflito armado, cataclismos naturais e colapso econômico agudo – como, por exemplo, a hiperinflação alemã no início dos anos 1920; o blecaute que atingiu Nova York no outono de 1965; a guerra civil iugoslava da década de 1990; ou a passagem do furacão Katrina por New Orleans em meados de 2005 – revelam a fragilidade da fina superfície de civilidade e decoro sobre a qual assenta a nossa civilização. Sob impacto do abalo provocado por desastres como esses , o comportamento das pessoas sofre uma drástica mutação: enquanto alguns, em geral poucos, agem de forma solidária e até mesmo heroica, a maior parte da população atingida regride a um estado de violência e selvageria no qual a lógica do “salve-se quem puder” deságua na rápida escalada dos furtos, assaltos, saques, crimes, estupros e vandalismo. Quase que num piscar de olhos, o cordato cidadão civilizado – “casado, fútil, cotidiano e tributável” – se transforma em besta feroz, capaz das piores atrocidades. – Como entender o perturbador fenômeno? A interpretação usual propõe o modelo hobbesiano. O ser humano no fundo é um animal selvagem e terrível. Remova os sustentáculos elementares da ordem civilizada; dispa a camisa de força social; suspenda, ainda que brevemente, a vigilância e a ameaça de punição aos infratores do código legal, e, em pouco tempo, retrocedemos ao “estado natural hobbesiano” e à “guerra de todos contra todos”. O civilizado sem máscara da civilidade não é outro senão o animal humano em sua versão nativa, sem amarras nem recalques, como que de volta à selva e aos estágios da evolução em que as faculdades de inibição erguidas ao longo do processo civilizatório dormiam ainda no embrião da mente. Os episódios de regressão à barbárie seriam, em suma, o psiquismo arcaico do animal humano posto a nu. – O modelo hobbesiano poderia ter tomado como plausível, não fosse uma falha capital do argumento. Que a regressão à barbárie revele alguma coisa do nosso psiquismo arcaico não há por que duvidar. Mas o que vem à tona no caso não é o “estado de natureza” do mundo pré-civilizado ou o animal homem tal como a evolução o teria produzido – o que vem à tona é o bicho-homem descivilizado, ou seja, o civilizado que se vê repentinamente fora da jaula e apto a dar livre curso aos impulsos e instintos naturais tolhidos e asfixiados pela ordem civilizada. O descivilizado é o civilizado à solta: livres das amarras e restrições da vida comum mas portador de um psiquismo arcaico que foi pesadamente macerado e em larga medida deformado pela renúncia instintual imposta pelo processo civilizatório. A ferocidade que tomou conta dos conquistadores europeus no Novo Mundo e o surto de bestialidade fascista que varreu a Europa no século passado são exemplos extremos dessa realidade. O equívoco do modelo hobbesiano é confundir o homem descivilizado feito lobo do homem – ávido de desafogo e revide contra tudo e contra todos – com um suposto estado primitivo ou de pura natureza do animal. – “Você pode expelir a natureza com um varapau pontiagudo”, adverte Horácio, “mas ela sempre retornará.” A verdade do poeta, “nem o fogo, nem o ferro, nem o tempo devorador poderão abolir”. Mas à luz do exposto acima não seria talvez de todo impróprio emendar: a natureza expelida não sai ilesa – ela traz em seu retorno as marcas e as feridas da violenta expulsão.

Eduardo Giannetti
(Trópicos utópicos: uma perspectiva brasileira da crise
civilizatória. São Paulo: Cia das Letras, 2016)

“a natureza expelida não sai ilesa – ela traz em seu retorno as marcas e as feridas da violenta expulsão”. No trecho, o travessão pode ser substituído por:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: B

    enquanto que = temporal

    uma vez que = causal

    a fim de que = finalidade

    ainda que = concessiva

  • Uma vez que é causa, assim como a questão. A oração tem ideia de causa e o travessão poderá ser substituído pela conjunção subordinativa causal.

    São conjunções causais: pois, porque, visto que, dado que, como, uma vez que, na medida em que, já que, porquanto, devido a, haja vista que, dado que...

  • Gab B

    Conjunções Causais:

    Porque

    Pois

    Porquanto

    Pois que

    Por isso que

    Uma vez que

    Visto como

    Visto que

    O fato de = Causa

    Faz com que = Consequência

  • A questão exige conhecimento de emprego dos conectores e quer saber qual assertiva traz um conector que pode substituir o travessão. Vejamos:

    “a natureza expelida não sai ilesa – ela traz em seu retorno as marcas e as feridas da violenta expulsão”

    A primeira sentença é uma consequência da primeira, ou seja, a segunda é a causa dessa consequência e pode ser iniciada por uma conjunção causal.

    Dito isso, iremos procurar a assertiva que tenha um conector de causa. Analisemos:

    a) Incorreta.

    Enquanto que⇾ essa locução conjuntiva tem carga semântica de fatos simultâneos ou adversidade.

    b) Correta.

    Uma vez que⇾ essa locução conjuntiva é causal.

    “a natureza expelida não sai ilesa uma vez que ela traga em seu retorno as marcas e as feridas da violenta expulsão”

    c) Incorreta.

    A fim de que⇾ essa locução conjuntiva expressa finalidade.

    d) Incorreta.

    Ainda que⇾ essa locução conjuntiva expressa oposição e concessão.

    Gabarito do monitor: B

  • GABARITO: (B - uma vez que)

    “a natureza expelida não sai ilesa – ela traz em seu retorno as marcas e as feridas da violenta expulsão”.  A frase tem sentido de causa e consequência por esse motivo aceita a substituição do travessão pela conjunção causal. As conjuncões causais são : Pois,que,porque,porquanto,dado que - Como,visto que,uma vez que,na medida que,haja vista que,já que. 

  • Minas Gerais s2

  • Uma vez que: causal

  • Conjunções Causais:

    Porque

    Pois

    Porquanto

    Pois que

    Por isso que

    Uma vez que

    Visto como

    Visto que

  • E ai, tudo bom?

    Gabarito: B

    Bons estudos!

    -O resultado da sua aprovação é construído todos os dias.

  • Causais: já que, porque, que, visto que, uma vez que, sendo que, como, pois que, visto como, na medida em que, haja vista que.

  • GABARITO B

    “a natureza expelida não sai ilesa uma vez que ela traz em seu retorno as marcas e as feridas da violenta expulsão”.

  • Meu sonho DECORAR essas conjunções!!!! :'(

    Alguém tem um Mnemônico, diquinha bacana para compartilhar????? :D

  • selecon, janeiro, estamos chagando #fe
  • PPMG

  • Fácil demais.

  • Gabarito: b

  • Gab B

    Uma vez que - Causal

  • Todo mundo buscando aquela vaga no serviço público pra fugir da crise. Mesmo sem ter ideia da função que vai desempenhar. #PRACIMA
  • b) Correta.

    Uma vez que⇾ essa locução conjuntiva é causal.

    “a natureza expelida não sai ilesa uma vez que ela traga em seu retorno as marcas e as feridas da violenta expulsão”

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    .

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