SóProvas


ID
5440246
Banca
Instituto Consulplan
Órgão
Prefeitura de Formiga - MG
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

As caridades odiosas

    Foi uma tarde de sensibilidade ou de suscetibilidade? Eu passava pela rua depressa, emaranhada nos meus pensamentos, como às vezes acontece. Foi quando meu vestido me reteve: alguma coisa se enganchava na minha saia. Voltei-me e vi que se tratava de uma mão pequena e escura. Pertencia a um menino a que a sujeira e o sangue interno davam um tom quente de pele. O menino estava de pé no degrau da grande confeitaria. Seus olhos, mais do que suas palavras meio engolidas, informavam-me de sua paciente aflição. Paciente demais. Percebi vagamente um pedido, antes de compreender o seu sentido concreto.
  – Um doce, moça, compre um doce para mim. 
    Acordei finalmente. O que estivera eu pensando antes de encontrar o menino? O fato é que o pedido pareceu cumular uma lacuna, dar uma resposta que podia servir para qualquer pergunta, assim como uma grande chuva pode matar a sede de quem queria uns goles de água.  
    Sem olhar para os lados, por pudor talvez, sem querer espiar as mesas da confeitaria onde     possivelmente algum conhecido tomava sorvete, entrei, fui ao balcão e disse com uma dureza que só Deus sabe explicar: um doce para o menino.
    De que tinha eu medo? Eu não olhava a criança, queria que a cena humilhante para mim, terminasse logo. Perguntei- -lhe: que doce você... 
    Antes de terminar, o menino disse apontando depressa com o dedo: aquelezinho ali, com chocolate por cima. Por um instante perplexa, eu me recompus logo e ordenei, com aspereza, à caixeira que o servisse.
    – Que outro doce você quer? Perguntei ao menino escuro. Este, que mexendo as mãos e a boca ainda espera com ansiedade pelo primeiro, interrompeu-se, olhou-me um instante e disse com uma delicadeza insuportável, mostrando os dentes: não precisa de outro não. Ele poupava a minha bondade.
    – Precisa sim, cortei eu ofegante, empurrando-o para a frente. O menino hesitou e disse: aquele amarelo de ovo. Recebeu um doce em cada mão, levando as duas acima da cabeça, com medo talvez de apertá-los... E foi sem olhar para mim que ele, mais do que foi embora, fugiu. A caixeirinha olhava tudo: 
    – Afinal uma alma caridosa apareceu. Esse menino estava nesta porta há mais de uma hora, puxando todas as pessoas mas ninguém quis dar. 
    Fui embora, com o rosto corado de vergonha. De vergonha mesmo? Eu estava cheia de um sentimento de amor, gratidão, revolta e vergonha. Mas, como se costuma dizer, o sol parecia brilhar com mais força. Eu tivera a oportunidade de... E para isso foi necessário que outros não lhe tivessem dado doce.
    E, agora, sozinha, meus pensamentos voltavam lentamente a ser os anteriores, só que inúteis. 
(As caridades odiosas. Clarice Lispector. Com adaptações.)

No trecho “– Um doce, moça, compre um doce para mim.” (2º§), as vírgulas foram utilizadas para separar:

Alternativas
Comentários
  • Por que ?

  • Ao meu ver é um vocativo haha Vamos esperar alguém mais culto responder kkk
  • Imagino que o gabarito esteja mesmo incorreto. É claramente um vocativo.

  • ORAÇÃO DESLOCADA!!!!!!!!!!!!!

    Um doce, moça, compre um doce para mim.

    COMPRE UM DOCE PARA MIM, UM DOCE, MOÇA.

    VERBO "COMPRAR" É TRANSITIVO DIRETO E INDIRETO.

    COMPRAR O QUÊ?

    A QUÊM?

    LETRA: D

  • CUIDADO

    A questão não possui gabarito

    A banca é clara ao questionar a função do termo separado pelas "vírgulas", no plural, presentes em:

    "– Um doce, moça, compre um doce para mim.” (2º§)

    A passagem é composta pela oração "compre um doce para mim". A construção "um doce", que encabeça a construção, é objeto direto do verbo "comprar", repetido em espécie de objeto direto pleonástico com função enfática. O termo "moça", intercalado aos termos anteriores, é vocativo.

    Esclarecidos os elementos da oração, a primeira vírgula possui dupla função, isolando a repetição do objeto que se encontra anteposto e demarcando o início do termo vocativo. A segunda vírgula encerra o termo vocativo.

    A) O aposto.

    Incorreta. Não há termo apositivo na construção.

    B) O vocativo.

    Correta. As vírgulas, e a banca é expressa ao questionar as duas, isolam o vocativo "moça".

    C) Um termo explicativo.

    Incorreta. Não há termo explicativo na construção.

    D) Um complemento verbal.

    Incorreta. Pode-se dizer que a primeira virgula demarca termo com natureza de complemento verbal direto, mas a segunda vírgula não guarda com ele qualquer relação.

    Gabarito da banca na alternativa D

    Gabarito correto na alternativa B

  • vocativo

  • É vocativo, "moça" não dá sentido ao verbo, é um vocativo.

  • Seria no mínimo anulada

  • A QConcursos deveria dar mais atenção aos alunos(as) que possui na plataforma. Prof que é bom nem de longe vemos aqui...Tá muito dif!

  • apos recurso a banca entendeu que é letra b
  • concordo com o Ivan Lucas. Separa-se vocativo com virgulas.

  • O qconcursos deixando a desejar nos comentários dos professores !