SóProvas


ID
5502304
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
Prefeitura de João Pessoa - PB
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Borderline: o transtorno que faz pessoas irem do "céu ao inferno" em horas

Tatiana Pronin


Uma alegria contagiante pode se transformar em tristeza profunda em um piscar de olhos porque alguém "pisou na bola". O amor intenso vira ódio profundo, porque a atitude foi interpretada como traição; o sentimento sai de controle e se traduz em gritos, palavrões e até socos. E, então, bate uma culpa enorme e o medo de ser abandonado, como sempre. Dá vontade de se cortar, de beber e até de morrer, porque a dor, o vazio e a raiva de si mesmo são insuportáveis. As emoções e comportamentos exaltados podem dar uma ideia do que vive alguém com transtorno de personalidade borderline (ou "limítrofe"). 

Reconhecido como um dos transtornos mais lesivos, leva a episódios de automutilação, abuso de substâncias e agressões físicas. Além disso, cerca de 10% dos pacientes cometem suicídio. Além da montanha-russa emocional e da dificuldade em controlar os impulsos, o borderline tende a enxergar a si mesmo e aos outros na base do "tudo ou nada", o que torna as relações familiares, amorosas, de amizade e até mesmo a com o médico ou terapeuta extremamente desgastantes.

Muitos comportamentos do "border" (apelido usado pelos especialistas) lembram os de um jovem rebelde sem tolerância à frustração. Mas, enquanto um adolescente problemático pode melhorar com o tempo ou depois de uma boa terapia, o adulto com o transtorno parece alguém cujo lado afetivo não amadurece nunca.

Ainda que seja inteligente, talentoso e brilhante no que faz, reage como uma criança ao se relacionar com os outros e com as próprias emoções — o que os psicanalistas chamam de "ego imaturo". Em muitos casos, o transtorno fica camuflado entre outros, como o bipolar, a depressão e o uso abusivo de álcool, remédios e drogas ilícitas.

De forma resumida, um transtorno de personalidade pode ser descrito como um jeito de ser, de sentir, se perceber e se relacionar com os outros que foge do padrão considerado "normal" ou saudável. Ou seja, causa sofrimento para a própria pessoa e/ou para os outros. Enquadrar um indivíduo em uma categoria não é fácil — cada pessoa é um universo, com características próprias. [...]

O diagnóstico é bem mais frequente entre as mulheres, mas estudos sugerem que a incidência seja igual em ambos os sexos. O que acontece é que elas tendem a pedir mais socorro, enquanto os homens são mais propensos a se meter em encrencas, ir para a cadeira ou até morrer mais precocemente por causa de comportamentos de risco. Quase sempre o transtorno é identificado em adultos jovens e os sintomas tendem a se tornar atenuados com o passar da idade.

Transtornos de personalidade são diferentes de transtornos mentais (como depressão, ansiedade, transtorno bipolar, psicose etc.), embora seja difícil para leigos e desafiante até para especialistas fazer essa distinção, já que sobreposições ou comorbidades (existência de duas ou mais condições ao mesmo tempo) são muito frequentes. Não é raro que o borderline desenvolva transtorno bipolar, depressão, transtornos alimentares (em especial a bulimia), estresse pós-traumático, déficit de atenção/hiperatividade e transtorno por abuso de substâncias, entre outros. [...]

O paciente borderline sofre os períodos de instabilidade mais intensos no início da vida adulta. Há situações de crise, ou maior descontrole, que podem até resultar em internações porque o paciente coloca sua própria vida ou a dos outros em risco. Por volta dos 40 ou 50 anos, a maioria dos "borders" melhora bastante, probabilidade que aumenta se o paciente se engaja no tratamento. [...]

A personalidade envolve não só aspectos herdados, mas também aprendidos, por isso a melhora é possível, ainda que seja difícil de acreditar no início. Se a psicoterapia é importante para ajudar o bipolar a identificar uma virada e evitar perdas, no transtorno de personalidade ela é o carro-chefe do tratamento. [...]

Medicamentos ajudam a aliviar os sintomas depressivos, a agressividade e o perfeccionismo exagerado, e são ainda mais importantes quando existe um transtorno mental associado. Os fármacos mais utilizados são os antidepressivos (flluoxetina, escitalopram, venlafaxina etc.), os estabilizadores de humor (lítio, lamotrigina, ácido valproico etc.), os antipsicóticos (olanzapina, risperidona, quietiapina etc.) e, em situações pontuais, sedativos ou remédios para dormir (clonazepan, diazepan, alprazolan etc.). Esses últimos costumam ser até solicitados pelos pacientes, mas devem ser evitados ao máximo, porque podem afrouxar o controle dos impulsos, assim como o álcool, além de causarem dependência. [...] 


Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2018/04/16/borderline-a-doenca-que-faz-10-dos-diagnosticados-cometerem-suicidio.htm. Acesso em: 04 jan. 2021.

Referente ao seguinte excerto, assinale a alternativa correta.

“Há situações de crise, ou maior descontrole, que podem até resultar em internações porque o paciente coloca sua própria vida ou a dos outros em risco. Por volta dos 40 ou 50 anos, a maioria dos "borders" melhora bastante, probabilidade que aumenta se o paciente se engaja no tratamento. [...]” 

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: E.

    A - Em “Há situações de crise, ou maior descontrole, [...]”, o verbo “haver” poderia ser substituído por “existir” sem mudanças no que tange à concordância. ERRADO: Não poderia ser substituído, pois ocasionaria erro de concordância. Ficaria certo "existem".

    B- No trecho “Há situações de crise, ou maior descontrole, que podem até resultar em internações [...]”, o pronome “que” em destaque retoma a locução “de crise”. ERRADO: Está retomando "situações".

    C- Em “[...] a maioria dos "borders" melhora bastante, [...]”, o verbo “melhora”, segundo a norma-padrão, deveria ser empregado no plural, para concordar com “borders”. ERRADO: Nesse caso, o verbo concorda ou com o núcleo da expressão partitiva (parte) ou com o termo determinante. Quando sujeito for uma expressão partitiva, seguida ou precedida de um termo determinante, o verbo pode concordar com o núcleo da expressão partitiva ou com o núcleo do termo determinante. Ex.: a maioria de, a minoria de, boa parte de . . . 

    D - O termos destacados em “[...] se o paciente se engaja no tratamento [...]” desempenham a mesma função gramatical. ERRADO: o 1º “se” é uma conjunção subordinada condicional e o 2º “se” é um pronome reflexivo.

    E - No trecho “[...] probabilidade que aumenta se o paciente se engaja no tratamento.”, a oração adjetiva em destaque restringe o termo “probabilidade”. CERTO:

    As orações subordinadas adjetivas desempenham função de adjetivo, isto é, elas subordinam-se a um nome (substantivo, pronome substantivo, numeral substantivo) e o caracterizam, porque é esta a função do adjetivo.

    Elas são introduzidas, quando desenvolvidas, por pronomes relativos. Elas desempenham a função de adjunto adnominal.

    São classificadas em:

    Explicativas: vêm isoladas por vírgulas, travessões ou parênteses e, semanticamente, referem-se à totalidade do referente. (toda parte)

    Restritivas: não vêm isoladas por vírgulas, travessões ou parênteses e o atributo refere-se a uma parte do seu referente. (nem todos)

    Faça das dificuldades sua motivação!

  • alternativa A, mal formulada

  • Assertiva E

    No trecho “[...] probabilidade que aumenta se o paciente se engaja no tratamento.”, a oração adjetiva em destaque restringe o termo “probabilidade”.

  • Com vírgula: explicativa;

    sem vírgula: restritiva.

    >> As bancas adoram perguntar se a retirada ou a inclusão da vírgula acarreta prejuízo ao sentido da frase. Assim, pode-se afirmar sem medo que causa incorreção no sentido.

  • Para responder a esta questão, exige-se conhecimento em análise sintática. O candidato deve indicar a assertiva que faz correta análise do período abaixo. Vejamos:

    “Há situações de crise, ou maior descontrole, que podem até resultar em internações porque o paciente coloca sua própria vida ou a dos outros em risco. Por volta dos 40 ou 50 anos, a maioria dos "borders" melhora bastante, probabilidade que aumenta se o paciente se engaja no tratamento. [...]” 

    a) Incorreta.

    Em “Há situações de crise, ou maior descontrole, [...]”, o verbo “haver” poderia ser substituído por “existir” sem mudanças no que tange à concordância. 

    O verbo "haver" pode ser trocado pelo verbo "existir". No entanto, o verbo existir deve ir para o plural, pois este não é impessoal igual ao verbo "haver" e deve concordar com "situações de crise" que antes era objeto direto, com a permutação dos verbos passa a ser sujeito. Forma correta: "Existem situações de crise..."

    b) Incorreta.

    No trecho “Há situações de crise, ou maior descontrole, que podem até resultar em internações [...]”, o pronome “que” em destaque retoma a locução “de crise”.

    O pronome relativo "que" retoma "situações de crise", e não só "crise". Tanto isso é verdade que o verbo "poder" está no plural para concordar com o termo que se relaciona com a partícula "que".

    c) Incorreta.

    Em “[...] a maioria dos "borders" melhora bastante, [...]”, o verbo “melhora”, segundo a norma-padrão, deveria ser empregado no plural, para concordar com “borders”.

    Com a expressão "a maioria de" ou qualquer uma outra de igual valor, o verbo pode concordar com essa expressão ou com o adjunto adnominal. Ou seja, pode concordar com "a maioria de" ou com "dos "borders".

    d) Incorreta.

    Os termos destacados em “[...] se o paciente se engaja no tratamento [...]” desempenham a mesma função gramatical.

    A primeira partícula "se" pode ser trocada por "caso", isso leva a concluir que é uma conjunção condicional e a segunda partícula "se" é uma parte integrante do verbo, pois o verbo não pode ser conjugado sem esse pronome, são verbos que denotam atitudes próprias do ser. Ou seja, ambas não possuem a mesma função.

    e) Correta.

    No trecho “[...] probabilidade que aumenta se o paciente se engaja no tratamento.”, a oração adjetiva em destaque restringe o termo “probabilidade”.

    A partícula "que" retoma a palavra "probabilidade" a fim de se evitar repetição, podendo ser trocada por "a qual", nesse caso trata-se de uma oração subordinada adjetiva restritiva (sem vírgula).

    Gabarito: E