O espelho
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Sendo talvez meu medo a revivescência de impressões atávicas? O espelho inspirava
receio supersticioso aos primitivos, aqueles povos com a idéia de que o reflexo de uma
pessoa fosse a alma. Via de regra, sabe-o o senhor, é a superstição fecundo ponto de
partida para a pesquisa. A alma do espelho – anote-a – esplêndida metáfora. Outros, aliás,
identificavam a alma com a sombra do corpo; e não lhe terá escapado a polarização: luz –
treva. Não se costumava tapar os espelhos, ou voltá-los contra a parede, quando morria
alguém da casa? Se, além de os utilizarem nos manejos de magia, imitativa ou simpática,
videntes serviam-se deles, como da bola de cristal, vislumbrando em seu campo esboços de
futuros fatos, não será porque, através dos espelhos, parece que o tempo muda de direção
e de velocidade? Alongo-me, porém. Contava-lhe...
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ROSA, Guimarães. Primeiras estórias. 50ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 122.
Assinale a alternativa incorreta, levando em consideração o Texto 3.