SóProvas


ID
1774561
Banca
FUNCAB
Órgão
ANS
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                   Arquimedes, o bom repórter

      Faz parte do meu ofício inventar. Mentir, sem qualquer consideração teológica. Preencher as páginas em branco, esforçando-me por criar heróis mesquinhos e sublimes. Um ofício que se funde com as adversidades do cotidiano e que, pautado por uma estética insubordinada, comporta todas as escalas morais, afugenta os ideários uniformizadores.

      A literatura brota de todos os homens, de todas as épocas. Sua ambígua natureza determina que os escritores integrem uma raça fadada a exceder-se. Seus membros, como uma seita, vivem na franja e no âmago da realidade, que constrange e ilumina ao mesmo tempo. E sem a qual a criação fenece. A arte dos escritores arregimenta a sucata e o sublime, o que se oxida em meio aos horrores, o que se regenera sob o impulso dos suspiros de amor. Apalpa a matéria secreta que sangra e aloja-se nos porões da alma.

      Há muito sei que a escrita não poupa o escritor. E que, ao ser um martírio diário, coloca-o a serviço do real. E enquanto este mero exercício de acumular palavras, de dar-lhes sentido, for um ato de fé no humano, a literatura seguirá sendo protagonista do enigma que envolve vida e morte. Uma arte que geme, emite sinais, desenha signos, e que constitui uma salvaguarda civilizadora perante a barbárie. Em cujas páginas batalha-se pelo provável entendimento entre seres e situações intoleráveis. Como se por meio de certos recursos estéticos fosse possível conciliar antagonismos, praticar a tolerância, ativar sentimentos, testar os limites da linguagem e da ambiguidade da solidão humana. Salvar, enfim, os seres trágicos que somos.

      Não sei ser outra coisa que escritora. Já pelas manhãs, enquanto crio, apalpo emoções benfazejas, sentimentos instáveis, a substância sob o abrigo do sinistro e da esperança. Tudo o que a realidade abusiva refuta. É mister, contudo, combater os expurgos estéticos para narrara história jamais contada.

      A criação literária, porém, que se faz à sombra da comunidade humana, aproximou-me sempre daqueles cujas experiências pessoais eram vizinhas no ato de escrever. Por isso, desde a infância, senti-me irmanada aos jornalistas no uso das palavras e na maneira de captar o mundo. E a tal ponto vinculada aos jornais que nos vinham a casa, já pelas manhãs, que disputava com o pai o privilégio de lê-los antes dele. De aproximar-me destas páginas vivazes que, arrancando-me da sonolência, proclamavam que a vida despertara antes de mim. O drama humano não tinha instante para começar, precedera-me há horas, há milênios.

PIÑON, Nélida. Aprendiz de Homero. Rio de Janeiro: Editora Record, 2008, p. 81-82, fragmento. 

“E a tal ponto vinculada aos jornais que nos vinham a casa, já pelas manhãs, que disputava com o pai o privilégio de lê-los antes dele."

No período transcrito, a correlação discursiva entre a expressão “a tal ponto" com o conectivo “que" foi usada para exprimir o sentido de: 

Alternativas
Comentários
  • Aprendi essa dica:

    Toda causa aceita um porque

    Toda consequência aceita um por isso


  • Tal...que = conjunção consecutiva

  • Não entendi... alguém poderia me explicar por que não é causa e sim consequência.  Pensei q o fato de vincular aos jornais (causa) , q (consequência) vinham a casa.

  • Entendi da seguinte forma: a oração subordinada a que a banca se refere é a que começa com o segundo "que" (que disputava com o pai o privilégio de lê-los antes dele). Portanto, a consequência de disputar com o pai tem como causa estar vinculada aos jornais. A formação já dá ideia de consecutiva: Tal... que. Mas se ainda existir dúvida se é causa ou consequência, deve-se observar onde está a conjunção. Neste caso, como a conjunção está na consequência, só pode ser essa a resposta. Só seria causal se a conjunção estivesse na causa.

    Espero ter ajudado!

  • Não entendi a que "que" ele se refere, se ao primeiro, segundo ou ambos! alguém pode me explicar?

    obrigada.

  • Concurseira, acertei a questão considerando o segundo "que". O primeiro "que" está apenas restringindo o sentido do "jornais".

  • Legal seu exemplo Dayane. Tenho dificuldade nesse tipo de questão...

    Então seguindo sua dica, a questão ficaria assim? 

    "E a tal ponto vinculada por isso"???? (aceitou o por isso) É isso mesmo?

    Quem puder esclarecer essa dúvida agradeço. :)


     

  • Não sei se está  certo, mas aprendi que na Causal não há palavra que expresse intensidade, como nesta frase existe a palavra tal só pode ser consecutiva

  • fui pelas regras das conjunções.

     a conjunção "que" antecedida de TAL,TÃO,TAMANHO,TANTO E CADA  da a ideia de conseguência....

  • GABARITO D

    conjunções consecutivas (indicam consequência): tal que, tanto que, tão que, tal que, de modo que, de sorte que, de maneira que, sem que...

  • "T" na frente "que" atrás= consequência!

  • Tiago, é assim com a grande maioria aqui! kkkk