SóProvas


ID
1790644
Banca
FCC
Órgão
DPE-RR
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Por volta de 1968, impressionado com a quantidade de bois que Guimarães Rosa conduzia do pasto ao sonho, julguei que o bom mineiro não ficaria chateado comigo se usasse um deles num poema cabuloso que estava precisando de um boi, só um boi.

      Mas por que diabos um poema panfletário de um cara de vinte anos de idade, que morava num bairro inteiramente urbanizado, iria precisar de um boi? Não podia então ter pensado naqueles bois que puxavam as grandes carroças de lixo que chegara a ver em sua infância? O fato é que na época eu estava lendo toda a obra publicada de Guimarães Rosa, e isso influiu direto na minha escolha. Tudo bem, mas onde o boi ia entrar no poema? Digo mal; um bom poeta é de fato capaz de colocar o que bem entenda dentro dos seus versos. Mas você disse que era um poema panfletário; o que é que um boi pode fazer num poema panfletário?

      Vamos, confesse. Confesso. Eu queria um boi perdido no asfalto; sei que era exatamente isso o que eu queria; queria que a minha namorada visse que eu seria capaz de pegar um boi de Guimarães Rosa e desfilar sua solidão bovina num mundo completamente estranho para ele, sangrando a língua sem encontrar senão o chão duro e escaldante, perplexo diante dos homens de cabeça baixa, desviando-se dos bêbados e dos carros, sem saber muito bem onde ele entrava nessa história toda de opressores e oprimidos; no fundo, dentro do meu egoísmo libertador, eu queria um boi poema concreto no asfalto, para que minha impotência diante dos donos do poder se configurasse no berro imenso desse boi de literatura, e o meu coração, ou minha índole, ficasse para sempre marcado por esse poderoso símbolo de resistência.

      Fez muito sucesso, entre os colegas, o meu boi no asfalto; sei até onde está o velho caderno com o velho poema. Mas não vou pegá-lo − o poema já foi reescrito várias vezes em outros poemas; e o meu boi no asfalto ainda me enche de luz, transformado em minha própria estrela.

(Adaptado de: GUERRA, Luiz, "Boi no Asfalto", Disponível em: www.recantodasletras.com.br. Acessado em: 29/10/2015) 

Considere:

I. No segmento ... que morava num bairro inteiramente urbanizado, iria precisar de um boi? (2° parágrafo) os verbos sublinhados possuem o mesmo sujeito.

II. Na oração ... o que é que um boi pode fazer num poema panfletário? (2° parágrafo), o segmento sublinhado é expletivo, de modo que pode ser suprimido sem prejuízo para a correção.

III. No segmento ... as grandes carroças de lixo que chegara a ver em sua infância... (2° parágrafo), a locução verbal sublinhada pode ser substituída por "tivesse chegado a ver", por estar no pretérito-mais-que-perfeito.

Está correto o que se afirma APENAS em 

Alternativas
Comentários
  • Alguém poderia me explicar a razão pela qual a assertiva "I" foi considerada correta? O verbo "morava" não remete a "cara de vinte de anos de idade" e "iria precisar" não remete a "poema panfletário"?

    Agradeço desde já.

  • Também fiquei na dúvida... Mas depois de ler e reler percebi que na verdade a frase  -  escrita de forma indireta  - ficaria na forma direta como:

    Um cara de vinte anos de idade, que morava num bairro inteiramente urbanizado (or. sub adj, expl.),  iria precisar de um boi para um poema panfletário.

    Quem iria precisar de um boi? um cara de vinte anos de idade.

    A forma como está no texto pode confundir mesmo, dando a entender que o poema era quem precisa de um boi.

    Bom, espero ter ajudado.


    Força e Fé sempre!


  • Muito obrigado pelo esclarecimento, Silvani!

  • I. No segmento ... que morava num bairro inteiramente urbanizado, iria precisar de um boi? (2° parágrafo) os verbos sublinhados possuem o mesmo sujeito. 

    ====

    Mas por que diabos um poema panfletário de um cara de vinte anos de idade, que morava num bairro inteiramente urbanizado, iria precisar de um boi? 

    ====

    Notem que o trecho em negrito é dispensável.

    ====

    Logo a oração teria sentido se estivesse da seguinte forma:

    Mas por que diabos um poema panfletário  iria precisar de um boi? 

    ====

    Logo, a I está incorreta pois o sujeito de morava é um cara e de iria precisar é poema panfletário.

    Gabarito deve ser alterado para a letra C. 

  • Alguém poderia explicar o erro da assertiva III? Desde logo agradeço!!


  • Renata, a substituição da proposta na III teria que ser: "tinha chegado a ver", conforme fundamentação abaixo:



    03) Pretérito Mais-que-perfeito Composto do Indicativo:

    É a formação de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no Pretérito Imperfeito do Indicativo e o principal no particípio, tendo o mesmo valor que o Pretérito Mais-que-perfeito do Indicativo simples.

    Por exemplo:Eu já tinha estudado no Maxi, quando conheci Magali.



    http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf66.php

  • Entendo que na assertiva I o sujeito de morava é o QUE, pois retoma "cara de vinte anos de idade". Tudo bem que quando o pronome relativo retoma, podemos inferir que o sujeito é o mesmo para as duas orações, mas acredito que tal assertiva não poderia ser considerada correta, nesses moldes. Mais alguém pensa da mesma maneira? 

  • A explicação de guilherme sonksen está correta, o gabarito foi alterado para letra C.

  • Acho que o item III está errado porque há um conflito nas substituições. Talvez o correto seria "tinha chegado a ver" e não "tivesse chegado a ver..."

  • O erro da III é simples: "tivesse chegado" é uma locução cujo verbo auxiliar está no modo subjuntivo (imperfeito do subjuntivo - tivesse), o que denota hipótese; ao passo que "chegara" é um verbo no modo indicativo (preterito-mais-que-perfeito do indicativo), o que denota certeza, afirmação. Logo, as duas expressões não podem ser sinônimas.

    A dica corriqueira pra identificar o modo subjuntivo (que denota hipótese, conjetura) é colocar as partículas QUE, SE e QUANDO antes da frase:

     

    QUE eu passe no concurso (presente do subjuntivo).

    SE eu passaSSE  no concurso (pretérito imperfeito do subjuntivo).

    QUANDO eu passar no concurso (futuro do subjuntivo).

    Sorte pra nós todos!

  • NUNCA ESQUECI ESSA DA PROF. FLAVIA RITA

    FORMULA DO AMOR: TINHA / HAVIA + PARTÍCIO = RA / RÉ (VÓS)

     

    ESPERO TER AJUDADO

  • I. No segmento ... que morava num bairro inteiramente urbanizado, iria precisar de um boi? (2° parágrafo) os verbos sublinhados possuem o mesmo sujeito. 

    ====

    Mas por que diabos um poema panfletário de um cara de vinte anos de idade, que morava num bairro inteiramente urbanizado, iria precisar de um boi? 

     

    O sujeito do verbo morar é o " QUE" .

    O " que " exerce a função de pronome demonstrativo . A oração entre virgulas é uma Oração Adjetiva Explicativa . O  verbo morar concorda com o seu antecedente " um cara de vinte anos de idade", contudo o sujeito é o " Que ". 

  • No item III,o correto é "tinha chegado a ver"

  • Resumindo:

     

    I- Quem morava num bairro  inteiramente urbanizado? R: Um cara de vinte anos de idade. Quem iria precisar de um boi? R: o poema. ERRADA!

     

    II- Certa, a supressão do termo sublinhado não impacta no entendimento da passagem do texto.

     

    III- ERRADA! Mesmo que você não soubesse nada sobre conjugação, note que o "chegara" passa a idéia de certeza que ocorreu, e o "tivesse" passa incerteza.

     

    Gabarito letra C

  • Só errei porque não li o trecho do texto que fala o item I. Baseie-me apenas no trecho escrito. Boa parte das questões não se faz necessário ler novamente o trecho do texto para entender, mas agora ficarei mais atento quanto a isso.

  • Prova de alto nível essa, da FCC. Nivelando por cima.

  • O item I está errado, pois o sujeito do verbo " morava" é na verdade o pronome relativo "QUE".

     

  • que prova difícil, se do TRE estiver assim, já era, errei bastante.

  • Algum ALFARTANO aqui? Alfartaaaanos!!!!! Forçaaaaaaa!!!! Paragominas-Pará aqui Rumo ao TRF1
  • Tinha chegado a ver...

  • Gabarito deu como certo a questão "E", NÃO ENTENDI

     

  • III- ERRADA! Mesmo que você não soubesse nada sobre conjugação, note que o "chegara" passa a idéia de certeza que ocorreu, e o "tivesse" passa incerteza

    Correto seria TINHA( havia) CHEAGADO.

  • campanha , nao comente mas nada professor ARENILDO , muito ruim esse professor affff

  • I. o erro está no seguinte: o v. 'morava' tem como sujeito 'um cara de 20 anos de idade'; a loc. v. 'iria precisar' tem como sujeito 'um poema panfletário'.

    II. certa.

    III. o v. 'chegara' poderia ser substituído por 'tinha/havia chegado'.

  • O Arenildo é excelente pessoal.

  • Errei por não ler o texto ;/ rsrs

  • Questão até fácil porque você mesmo pode arquitetar a forma correta e perceber o erro. Só essa alternativa I que realmente precisou de atenção, hahahahha

  •  

    Ailton Hugo

    56% não acharam facil, comentário sem conteúdo, humildade sempre....

  •  

    I- Quem morava num bairro  inteiramente urbanizado?  Um cara de vinte anos de idade.

     Quem iria precisar de um boi? o poema. ERRADA

     

    II- Partícula expletiva- É um termo da oração considerado desnecessário, podendo ser retirado sem qualquer prejuízo para ela. 

    o que é que um boi pode fazer num poema panfletário? 

    o que um boi pode fazer num poema panfletário?  NÃO ALTERA   CERTA

     

    III-as grandes carroças de lixo que chegara a ver em sua infância...

      poderia ser substituído por tinha ou havia chegado ERRADA

    GAB- C

     

    ''Talento é dom, é graça. E sucesso nada tem haver com sorte, mas com determinação e trabalho.''

    Augusto Branco

  • C) Expletivo- Que serve para preencher ou completar.Gramática Diz-se das palavras ou expressões não indispensáveis ao sentido de uma frase, mas usadas como realce ou ênfase.

  • Expletivo: É um termo da oração considerado desnecessário, podendo ser retirado sem qualquer prejuízo para ela. A partícula expletiva é também chamada de partícula de realce.

    Fonte: https://professoramarialucia.wordpress.com/2012/02/23/o-que-e-uma-particula-expletiva/

  •     Mas por que diabos um poema panfletário de um cara de vinte anos de idade, que morava num bairro inteiramente urbanizado, iria precisar de um boi? 

    O sujeito semântico de ''morava'' é ==> um cara de vinte anos de idade

    O sujeito sintâtico de ''morava'' é ==> o pronome ''que'' que retoma o ''um cara de vinte anos de idade''

     

    O sujeiro de ''iria precisar'' é ==> um poema panfletário

  • Só lembrando que, sintaticamente, o sujeito de "morava" não é "um cara de vinte anos de idade", mas sim o pronome relativo "que", que retoma, semanticamente, a ideia de "um cara de vinte anos de idade", o que não é a mesma coisa que afirmar que o sujeito é esse termo. Posto isso, a explicação das demais já foi bem dada pelos colegas. Bons estudos e atenção com esse tipo de questão.

     

    Quem escolheu a busca não pode recusar a travessia - Guimarães Rosa

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    Gabarito: C

  • Já teve questões da FCC que na l estaria correta

  • Errei por causa da III. Não vi erro gramatical, apenas mudança de sentido. O enunciado não falou nada de sentido.

  • Pensei da seguinte forma:

    III - "as grandes carroças de lixo que chegara a ver (vira) em sua infância..." > locução verbal no pretérito mais que perfeito do INDICATIVO, indica fato certo.

    "tivesse chegado a ver" > Locução verbal de tempo composto no pretérito mais que perfeito do SUBJUNTIVO , indica hipótese

    Embora eles estejam no mesmo tempo verbal ( pretérito mais que perfeito), seus modos verbais são diferentes. Os sentidos são diferentes se os modos verbais também são, logo não daria para substituí-los.