SóProvas


ID
2359597
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
EBSERH
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A BELEZA E A ARTE NÃO CONSTITUEM NENHUMA GARANTIA MORAL
Contardo Calligaris
Gostei muito de “Francofonia”, de Aleksandr Sokurov. Um jeito de resumir o filme é este: nossa civilização é um navio cargueiro avançando num mar hostil, levando contêineres repletos dos objetos expostos nos grandes museus do mundo. Será que o esplendor do passado facilita nossa navegação pela tempestade de cada dia? Será que, carregados de tantas coisas que nos parecem belas, seremos capazes de produzir menos feiura? Ou, ao contrário, os restos do passado tornam nosso navio menos estável, de forma que se precisará jogar algo ao mar para evitar o naufrágio?
Essa discussão já aconteceu. Na França de 1792, em plena Revolução, a Assembleia emitiu um decreto pelo qual não era admissível expor o povo francês à visão de “monumentos elevados ao orgulho, ao preconceito e à tirania” – melhor seria destruí-los. Nascia assim o dito vandalismo revolucionário – que continua.
Os guardas vermelhos da Revolução Cultural devastaram os monumentos históricos da China.
O Talibã destruiu os Budas de Bamiyan (séculos 4 e 5). Em Palmira, Síria, o Estado Islâmico destruiu os restos do templo de Bel (de quase 2.000 anos atrás). A ideia é a seguinte: se preservarmos os monumentos das antigas ideias, nunca teremos a força de nos inventarmos de maneira radicalmente livre.
Na mesma Assembleia francesa de 1792, também surgiu a ideia de que não era preciso destruir as obras, elas podiam ser conservadas como patrimônio “artístico” ou “cultural” – ou seja, esquecendo sua significação religiosa, política e ideológica.
Sentado no escuro do cinema, penso que nós não somos o navio, somos os contêineres que ele carrega: um emaranhado de esperanças, saberes, intuições, dúvidas, lamentos, heranças, obrigações e gostos. Tudo dito belamente: talvez o belo artístico surja quando alguém consegue sintetizar a nossa complexidade num enigma, como o sorriso de “Mona Lisa”.
Os vândalos dirão que a arte não tem o poder de redimir ou apagar a ignomínia moral. Eles têm razão: a estátua de um deus sanguinário pode ser bela sem ser verdadeira nem boa. Será que é possível apreciá-la sem riscos morais?
Não sei bem o que é o belo e o que é arte. Mas, certamente, nenhum dos dois garante nada.
Por exemplo, gosto muito de um quadro de Arnold Böcklin, “A Ilha dos Mortos”, obra imensamente popular entre o século 19 e 20, que me evoca o cemitério de Veneza, que é, justamente, uma ilha, San Michele. Agora, Hitler tinha, em sua coleção particular, a terceira versão de “A Ilha dos Mortos”, a melhor entre as cinco que Böcklin pintou. Essa proximidade com Hitler só não me atormenta porque “A Ilha dos Mortos” era também um dos quadros preferidos de Freud (que chegou a sonhar com ele).
Outro exemplo: Hitler pintava, sobretudo aquarelas, que retratam edifícios austeros e solitários, e que não são ruins; talvez comprasse uma, se me fosse oferecida por um jovem artista pelas ruas de Viena. Para mim, as aquarelas de Hitler são melhores do que as de Churchill. Pela pior razão: há, nelas, uma espécie de pressentimento trágico de que o mundo se dirigia para um banho de sangue.
É uma pena a arte não ser um critério moral. Seria fácil se as pessoas que desprezamos tivessem gostos estéticos opostos aos nossos. Mas, nada feito.
Os nazistas queimavam a “arte degenerada”, mas só da boca para fora. Na privacidade de suas casas, eles penduraram milhares de obras “degeneradas” que tinham pretensamente destruído. Em Auschwitz, nas festinhas clandestinas só para SS, os nazistas pediam que a banda dos presos tocasse suingue e jazz – oficialmente proibidos.
Para Sokurov, o museu dos museus é o Louvre. Para mim, sempre foi a Accademia, em Veneza. A cada vez que volto para lá, desde a infância, medito na frente de três quadros, um dos quais é “A Tempestade”, do Giorgione. Com o tempo, o maior enigma do quadro se tornou, para mim, a paisagem de fundo, deserta e inquietante. Pintado em 1508, “A Tempestade” inaugura dois séculos que produziram mais beleza do que qualquer outro período de nossa história. Mas aquele fundo, mais tétrico que uma aquarela de Hitler, lembra-me que os dois séculos da beleza também foram um triunfo de guerra, peste e morte – Europa afora.
É isto mesmo: infelizmente, a arte não salva.
Texto adaptado de: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2016/08/1806530-a-beleza-e-a-arte-nao-constituem-nenhuma-garantia-moral.shtml

Assinale a alternativa correta acerca dos excertos retirados do texto e comentados a seguir.

Alternativas
Comentários
  • A) ... não somos o navio (VL)

    B) Sujeito simples: os nazistas.

    C) Para - preposição.

    D) GABARITO

    E) Suj - a tempestade - verbo concorda com o sujeito, por isso inaugura está no singular.

  • A) "Somos" = nós somos ( 3 pessoa)

    B) sujeito simples no plural

    C) para ( preposição)

    D) Correto

    E) quem inaugura é a tempestade e não os "dois seculos" 

  • Cheio de questões repetidas neste site, que saco. :(

  • Dica: Responder questões repetidas é um bom exercício, pois ajuda a saber se o que aprendeu está de fato fixado. Errar uma questão que já foi respondida de forma correta é sinal de que algo não está correto nos estudos, ou seja, necessita de reforço e correção constante.

  • Alguém aí pode me ajudar? Marquei a letra "A" como ascertiva. A alternativa "a" diz em: "somos o navio"  que o verbo está conjugado na 1º pessoal do plural! Somo quem? Nós somos. Não está correto por quê? Nós se refere a 1º pessoal do plural! ONde está o erro?

  • #Yarley Queiroga, Respondendo iten A

    SOMOS  é Verbo de ligação . Então "o navio" e "os contêineres" são predicados. O restante da questão esta correta.

  • Yarley Queiroga

    "somos" é derivado do verbo SER o qual é considerado um verbo de ligação. Sendo assim, ocorre a indeterminação do sujeito. 

    Seu raciocínio está correto, todavia, existe uma lista com tais verbos de ligação que devemos decorar. Blza!?

  • a)  Em relação ao trecho “Sentado no escuro do cinema, penso que nós não somos o navio, somos os contêineres que ele carrega [...]”, os verbos destacados estão conjugados na primeira pessoa do plural e são complementados por PREDICATIVO DO SUJEITO, respectivamente, o navio e os contêineres. Isso ocorre porque o verbo ser é verbo de ligação, assim sendo o que vem depois dele qualifica o sujeito (adjetivo) e sintaticamente será predicativo do sujeito 

     b)Em relação ao trecho “Os nazistas queimavam a ‘arte degenerada’, mas só da boca para fora.” o verbo destacado está no plural, pois concorda com um sujeito SIMPLES e o mas trata-se de uma conjunção adversativa.  O SUJEITO NÃO É COMPOSTO. 

     c)  Em relação ao trecho “Para Sokurov, o museu dos museus é o Louvre. Para mim, sempre foi a Accademia, em Veneza.”, ambos os termos destacados tratam-se de conjunções que introduzem uma noção de OPINIÃO. 

     d) Em relação ao trecho “[...] há, nelas, uma espécie de pressentimento trágico de que o mundo se dirigia para um banho de sangue.”, o verbo destacado não possui sujeito e nelas tratase de uma contração entre a preposição em e o pronome pessoal elas e indica uma noção de posição.

    O verbo haver no sentido de existir será impessoal, ou seja, não terá sujeito, ficará na 3º pessoa do singular.  RESPOSTA 

     e)  Em relação ao trecho “Pintado em 1508, ‘A Tempestade’ inaugura dois séculos que produziram mais beleza do que qualquer outro período de nossa história.”, o verbo destacado NÃO  deveria estar conjugado no plural para concordar com a expressão “dois séculos”, fato que  NÃO pode ser comprovado pela transformação para a voz passiva, assim, “dois séculos são inaugurados por ‘A Tempestade’”.

    A Tempestade’(SUJEITO) inaugura (VTD) dois séculos (OBJETO DIRETO) - VOZ ATIVA

    o que era OD na voz ativa passa ser sujeito na voz passiva e o que era sujeito na voz ativa passa a ser agente da passiva.

    “dois séculos são inaugurados por ‘A Tempestade’”.

     

  • O verbo ``Haver´´ no sentido de ``existir´´, não possui sujeito. (O sujeito é INEXISTENTE)!

     

  • Deiveson Cruz, podemos resolver as mesmas questões quantas vezes quisermos. Só que teremos um histórico nas estatísticas. Mas quando a questão é repetida perdemos isso. E nem teremos certeza se acertamos anteriormente ou não. Além disso, comentários/bizus valiosos ficam dispersos, ficando inclusive mais complicado repetir uma mesma dica em todas as questões repetidas.

    Assim, considero negativa a repetição. É interessante assinalar em 'notificar erro > questão duplicada'.
    Se bem que não sei se vc é assinante e tem acesso a essas ferramentas que citei...
     

  • a)  Em relação ao trecho “Sentado no escuro do cinema, penso que nós não somos o navio, somos os contêineres que ele carrega [...]”, os verbos destacados estão conjugados na primeira pessoa do plural e são complementados por objetos diretos, respectivamente, o navio e os contêineres. = OBJ. INDIRETOS " QUEM PENSA , PENSA EM..."

    b) Em relação ao trecho “Os nazistas queimavam a ‘arte degenerada’, mas só da boca para fora.” o verbo destacado está no plural, pois concorda com um sujeito composto e o mas trata-se de uma conjunção adversativa. = SUJEITO SIMPLES

    c)  Em relação ao trecho “Para Sokurov, o museu dos museus é o Louvre. Para mim, sempre foi a Accademia, em Veneza.”, ambos os termos destacados tratam-se de conjunções que introduzem uma noção de finalidade. = 1° PARA --- SEGUNDO; CONFORME ( CONJ. SUB. CONFORMATIVA)

    d) Em relação ao trecho “[...] , nelas, uma espécie de pressentimento trágico de que o mundo se dirigia para um banho de sangue.”, o verbo destacado não possui sujeito e nelas tratase de uma contração entre a preposição em e o pronome pessoal elas e indica uma noção de posição. CERTO

    e)  Em relação ao trecho “Pintado em 1508, ‘A Tempestade’ inaugura dois séculos que produziram mais beleza do que qualquer outro período de nossa história.”, o verbo destacado deveria estar conjugado no plural para concordar com a expressão “dois séculos”, fato que pode ser comprovado pela transformação para a voz passiva, assim, “dois séculos são inaugurados por ‘A Tempestade’”.

  • Em 21/04/2018, às 15:49:06, você respondeu a opção D.Certa!

    Em 04/02/2018, às 11:56:13, você respondeu a opção A.Errada!

  • A questão não é monstruosa, mas com um texto desse tamanho deveria ter referências, em cada questão, para retornar ao texto se fosse preciso.

  • A justificativa da Pris Adm para a letra a ser errada não faz sentido, porque o verbo que está sendo considerado não é o verbo "pensar" (que, de fato, se complementa por obj. indireto) mas sim o verbo "ser".

  •  “Sentado no escuro do cinema, penso que nós não somos o navio, somos os contêineres que ele carrega [...]”

    O ver "ser" é verbo de ligação, portanto não tem objeto direto e sim predicativo.

     

    Errei por total falta de atenção :(

     

  • LETRA TEM UM PEGUINHA. 

  • a) 

    ser = verbo de ligação !!o que vem depois é predicativo do sujeito!!

    lembrando = predicadivo nominal  = verbo de ligação + adjetivo = caracteristica do sujeito!!! ALO VOCE


    realmente ele está na terceira plural porem nao exige complemento direto ja

    que é verbo de ligação!!!

    eu sou 

    tu e´s

    ele é 

    nos somos


    b)concorda com o sujeito no plural e nao composto! pois só tem um nucleo!!! errada!!!



    c) finalidade seria algo como . fiz o concurso a fim de passar.. para passar!! 

    para aí está mais para comparação!!=errada



    d)há = verbo impessoal sem sujeito ok .. 

    Contração

    Exemplos:


    de + o(s) = do(s)


    de + a(s) = da(s)


    em + o(s) = no(s)


    em + a(s) = na(s)


    em + ele(s) = nele(s)


    em + ela(s) = nela(s)


    de + ali(s) = dali


    de + ele(s) = dele(s)


    de + ela(s) = dela(s)


    a + a(s) = à(s)


    a + aquele(s) = àquele(s)


    a + aquela(s) = àquela(s)


    a + aquilo = àquilo



    e)inaugura concordando com a tempestade..

    A Tempestade’ inaugura dois séculos que produziram mais beleza do que qualquer outro período de nossa história.


    QUEM INAUGURA DOIS SECULOS? A TEMPESTADe

    tempestade= SUJEITO!!

    INAUGURAR VERBO TRANSITIVO DIRETO!! 

    DOIS SECULOS = OBJETO DIRETO  


    SUJEITO + VERBO + OBJETO DIRETO = VOZ ATIVA!!


    O QUE OBJETO NA VOZ ATIVA PASSA A SER SUJEITO NA VOZ PASSIVA

    E O QUE ERA SUJEITO PASSA A SER AGENTE DA PASSIVA

    LEMBRANDO QUE SÓ PODE FAZER A TRANSFORMAÇÃO COM VERBOS TRANSITIVO DIRETOS! OU TDI






  • Poxa!

    Total atenção.

  • Sentado no escuro do cinema, penso que nós não somos o navio, somos os contêineres que ele carrega [...]”

    O ver "ser" é verbo de ligação, portanto não tem objeto direto e sim predicativo.

     

    Errei por total falta de atenção :(

     

    Muito bom!! as Bancas adoram usar os verbos de ligação se relacionando com "objetos diretos", que na verdade são, corretamente, predicativos. Obrigado pelo seu comentário!

  • Questão super bem feita que realmente privilegia quem estuda.