SóProvas


ID
2712694
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
TRT - 1ª REGIÃO (RJ)
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                            Texto I


                              O Aleph e o Hipopótamo I

                                                                                             Leandro Karnal


      O tempo é uma grandeza física. Está por todos os lados e em todos os recônditos de nossas vidas. Dizemos que temos tempo de sobra para algumas coisas ou, às vezes, que não temos tempo para nada. Há dias em que o tempo não passa, anda devagar, como se os ponteiros do relógio (alguém ainda usa modelo analógico?) parecessem pesados. Arrastam-se como se houvesse bolas de ferro em suas engrenagens. Tal é o tempo da sala de espera para ser atendido no dentista ou pelo gerente do banco, por exemplo.

      Em compensação, há o tempo que corre, voa, falta. Em nosso mundo pautado pelo estresse, por mais compromissos que a agenda comporta, a sensação de que a areia escorre mais rápido pela ampulheta é familiar e amarga. O tempo escasseia e os mesmos exatos 60 minutos que a física diz que uma hora contém viram uma fração ínfima do tempo de que precisamos.

      Vivemos um presente fugidio. Mal falei, mal agi e o que acabei de fazer virou passado, parafraseando o genial historiador Marc Bloch. Não é incomum querermos que o presente dure mais, se estique, para que uma faísca de felicidade pudesse viver alguns momentos mais longos.

      Se o presente é esse instante impossível de ser estendido, o passado parece um universo em franca expansão. Quanto mais envelhecemos, como indivíduos e como espécie, mais passado existe, mais parece que devemos nos lembrar, não nos esquecer. Criamos estantes com memorabilia, pastas de computador lotadas de fotos, estocamos papéis e contas já pagas, documentos. Criamos museus, parques, tombamos construções, fazemos estátuas e mostras sobre o passado.

      E o futuro? Como nos projetamos nesse tempo que ainda não existe… “Pode deixar que amanhã eu entrego tudo o que falta”; “Semana que vem nos encontramos, está combinado”; “Apenas um mês e… férias!”; “Daqui a um ano eu me preocupo com isso”. Um cotidiano voltado para um tempo incerto, mas que arquitetamos como algo sólido. E tudo o que é sólido se desmancha no ar, não é mesmo? Ah, se pudéssemos ao menos ver o tempo, senti-lo nas mãos, calculá-lo de fato! [...]

      Saber sobre tudo que possa vir a ocorrer é um grande desejo. Ele anima as filas em videntes e debates sobre as centúrias de Nostradamus. Infelizmente, pela sua natureza e deficiência, toda profecia deve ser vaga. “Vejo uma viagem no seu futuro”, afirma a mística intérprete das cartas. Jamais poderia ser: no dia 14 de março de 2023, às 17h12, você estará no Largo do Boticário, no Rio de Janeiro, lendo o conto A Cartomante, de Machado de Assis. Claro que mesmo uma predição detalhada seria problemática, pois, dela sabendo, eu poderia dispor as coisas de forma que acontecessem como anunciado.

      Entender o passado em toda a sua vastidão e complexidade, perceber o quanto ele ainda é presente, é o sonho de todos os historiadores, desejo maior de todos os que lotam os consultórios de psicólogos e psicanalistas. [...] Ao narrar o que vi e vivi, dependo da memória. Aquilo de que nos lembramos ou nos esquecemos nem sempre depende de nossa vontade ou escolhas. Quando digo: quero me esquecer disso ou daquilo, efetivamente estou me lembrando da situação. Alguns eventos são tão traumáticos que, como esquadrinhou Freud um século atrás, são bloqueados pela memória. Escamoteados pelo trauma, ficam ali condicionando nossas ações e não ações no presente. [...]

(Adaptado de https://entrelacosdocoracao.com.br/2018/03/o-aleph -e-o-hipopotamo-i/ - Acesso em 26/03/2018)

Assinale a alternativa correta.

Alternativas
Comentários
  • a- Os termos estão entre vírgulas porque são informações intercaladas, ou melhor são advérbios de tempo " às 17h12" ou de lugar " no Rio de Janeiro", por exemplo.

     

    b- O verbo ver na primeira frase é transitivo direto, já na segunda frase é Intransitivo, isto é, não precisa de complemento.

     

    c- Haver no sentido de existir é impessoal, logo não concorda com os demais termos, já que é Verbo Transitivo Direto, podendo sem problemas ser substituindo por "existissem".

     

     

  • Em relação ao item "d" acredito que o "Ele" se refere ao termo antecedente que seria " grande desejo" . 

  • letra (e) a alternativa troca obj... Direto para Indireto!

  • d) Ele >>> o tempo futuro

  •  c) VER HAVER NO SENTIDO DE EXISTIR - GABARITO

    Em “[...] Arrastam-se como se houvesse bolas de ferro em suas engrenagens.”, o verbo “haver” poderia ser substituído por “existissem”, sem gerar prejuízo gramatical ao texto. 

  • Na letra e tornar-se impróprio o uso pronominal, alterando a ênclise para próclise 

  • Ótima questão!!

  • aff :c kkkkk

  •  “[...] ‘Vejo uma viagem no seu futuro’ [...]”, o verbo “ver” apresenta a mesma regência e transitividade que na frase “Aquele senhor não vê mais”.

    "Vejo": Sentido de vislumbrar.

    "vê": Sentido de enxergar.

     

  • Em “[...] no dia 14 de março de 2023, às 17h12, você estará no Largo do Boticário, no Rio de Janeiro, lendo o conto A Cartomante, de Machado de Assis.”, é obrigatória a presença das vírgulas porque os constituintes frasais estão ligados por processo de subordinação. (as vírgulas são obrigatórias em virtude do advérbio de tempo, lugar e um aposto explicativo).

     

     b) Em “[...] ‘Vejo uma viagem no seu futuro’ [...]”, o verbo “ver” apresenta a mesma regência e transitividade que na frase “Aquele senhor não vê mais”.(VER= VTD e VÊ= VI).

     

     c)Em “[...] Arrastam-se como se houvesse bolas de ferro em suas engrenagens.”, o verbo “haver” poderia ser substituído por “existissem”, sem gerar prejuízo gramatical ao texto. GABARITO (verbo haver subsitituído pelo verbo existir ocorre a concordância). 

     

     d)Com base nas relações de concatenação de ideias estabelecidas entre os elementos textuais, depreende-se que a expressão “ele”, em “Ele anima as filas em videntes e debates sobre as centúrias de Nostradamus.” (6º parágrafo), refere-se ao tempo.(não seria ao tempo, mas a expressão "um grande desejo").

     

     e)O excerto “Ah, se pudéssemos ao menos ver o tempo, senti-lo nas mãos, calculá-lo de fato!” poderia ser reescrito, sem prejudicar a correção gramatical ou mudar seu sentido, da seguinte maneira: “Ah, se pudéssemos ao menos ver o tempo, lhe sentir nas mãos, calcular-lhe de fato!”. (não se ínicia frase com pronome oblíquo átono: ênclise proibida).

     

    ERROS ME INFORMEM 

  • Quanto a letra D), acredito que o termo "Ele" se refira ao "futuro", que indiretamente pode ser entendido como o "grande desejo" de saber sobre tudo que possa vir a ocorrer.

    E o futuro? Como nos projetamos nesse tempo que ainda não existe… “Pode deixar que amanhã eu entrego tudo o que falta”; “Semana que vem nos encontramos, está combinado”; “Apenas um mês e… férias!”; “Daqui a um ano eu me preocupo com isso”. Um cotidiano voltado para um tempo incerto, mas que arquitetamos como algo sólido. E tudo o que é sólido se desmancha no ar, não é mesmo? Ah, se pudéssemos ao menos ver o tempo, senti-lo nas mãos, calculá-lo de fato! [...]

    Saber sobre tudo que possa vir a ocorrer é um grande desejo. Ele anima as filas em videntes e debates sobre as centúrias de Nostradamus.

  • amigos (as), acertei a questão, mas fiquei com uma duvida quanto a questão E, ao meu ver e entendimento os verbos sentir e calcular são VTD, pois, remetem a "o tempo", neste caso então não se admite o pronome oblíquo átono LHE, fora o "lhe" colocacado em próclise em lhe sentir nas mãos, que não se ínicia frase com pronome oblíquo átono.

     

    digam-me se minha opinião tem relevância quanto a questão, sou concurseiro e quero aprender cada vez mais, por isso, estou sujeito a muitos erros.

  •  c) VER HAVER NO SENTIDO DE EXISTIR - GABARITO

    Em “[...] Arrastam-se como se houvesse bolas de ferro em suas engrenagens.”, o verbo “haver” poderia ser substituído por “existissem”, sem gerar prejuízo gramatical ao texto.

  • Paulo alves, o pronome lhe somente se encaixa em verbos transitivos indiretos e CALCULAR É vtd. acho que é por isso.

  • Fiquei entre a C e a D, com preguiça de ler o texto marquei a D mesmo e errei.

    Mas tá obvio que lendo o texto a resposta seria a C, pois se refere ao futuro

  • Também acredito que o termo anafórico refere-se à palavra futuro. Veja: 

     

    Saber sobre tudo que possa vir a ocorrer é um grande desejo.O futuro anima as filas em videntes e debates sobre as centúrias de Nostradamus. Infelizmente, pela sua natureza e deficiência, toda profecia deve ser vaga

  • SOBRE A LETRA "D", VEJA QUE SE REFERE AO FUTURO E NÃO AO TEMPO.

  • O excerto “Ah, se pudéssemos ao menos ver o tempo, senti-lo nas mãos, calculá-lo de fato!” poderia ser reescrito, sem prejudicar a correção gramatical ou mudar seu sentido, da seguinte maneira: “Ah, se pudéssemos ao menos ver o tempo, lhe sentir nas mãos, calcular-lhe de fato!”.

    O "LHE" passa pra terceira pessoa.

  • Verbo HAVER no sentido de “ocorrer” ou “existir”, é impessoal. Isso significa que permanece na terceira pessoa do singular, pois não tem sujeito.

    Já “existir” e “ocorrer” têm sujeito e, portanto, flexionam-se de acordo com o número e a pessoa.

    Ex:
    Ocorrerão mudanças.
    Existirão mudanças.

    Com o verbo “haver”, a regra é diferente – permanece no singular:

    Ex:
    Haverá mudanças.

     

    Não se pode, no entanto, afirmar que o verbo “haver” nunca vai para o plural. Ele pode, por exemplo, desempenhar a função de verbo auxiliar (que indica pessoa, tempo e modo verbal; sinônimo de “ter” nos tempos compostos). Nesse caso, o verbo é conjugado no plural.

     

    Ex:

    Eles haviam chegado cedo.
    Eles tinham chegado cedo.

    Além disso, como verbo pessoal (com sujeito), pode assumir o sentido de “obter”, “considerar”, “lidar”, ainda que esses usos sejam menos recorrentes:

    Houveram (= “obter”)  do juiz a comutação da pena (sujeito: “comutação da pena”).
    Nós havemos (= “considerar”) por honesto. (sujeito: “nós”).
    Os alunos houveram-se (= “lidar”) muito bem nos exames. (sujeito: “os alunos”)

  • "Lhe" faz as vias de OI. Não tem como ser usado com o verbo sentir (não no contexto, ao menos), que no texto é VTD; além disso, está no início de frase (pós vírgula), então deve-se usar ênclise.

  • RESP-. 

     c) Em “[...] Arrastam-se como se houvesse /existissem bolas de ferro em suas engrenagens.”, o verbo “haver” poderia ser substituído por “existissem”, sem gerar prejuízo gramatical ao texto. . O VERBO EXISTIR ESTÁ NO PLURAL, PERFEITO!

  • Verbo HAVER no sentido de “ocorrer” ou “existir”, é impessoal. Isso significa que permanece na terceira pessoa do singular, pois não tem sujeito.

    Já “existir” e “ocorrer” têm sujeito e, portanto, flexionam-se de acordo com o número e a pessoa.

    Ex: Ocorrerão mudanças.

    Existirão mudanças.

    Com o verbo “haver”, a regra é diferente – permanece no singular:

    Ex: Haverá mudanças.