SóProvas


ID
2871613
Banca
FUNCAB
Órgão
PC-ES
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O homem cuja orelha cresceu

            Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite, estava fazendo hora extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos, ganhava pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como de cachorro. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Ficou só olhando. Elas cresciam, chegavam à cintura. Finas, compridas, como fitas de came, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário de material também. O melhor era correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na rua. Se tivesse um amigo, ou namorada, iria mostrar o que estava acontecendo. Mas o escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório. Colegas, não amigos. Ele abriu a camisa, enfiou as orelhas para dentro. Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse machucado.

            Quando chegou na pensão, a orelha saía pela perna da calça. O escriturário tirou a roupa. Deitou-se, louco para dormir e esquecer. E se fosse ao médico? Um otorrinolaringologista. A esta hora da noite? Olhava o forro branco, incapaz de pensar, dormiu de desespero.

            Ao acordar, viu aos pés da cama o monte de uns trinta centímetros de altura. A orelha crescera e se enrolara como cobra. Tentou se levantar. Difícil. Precisava segurar as orelhas enroladas. Pesavam. Ficou na cama. E sentia a orelha crescendo, com uma cosquinha. O sangue correndo para iá, os nervos, músculos, a pele se formando, rápido. Às quatro da tarde, toda a cama tinha sido tomada pela orelha. O escriturário sentia fome, sede. Às dez da noite, sua barriga roncava. A orelha tinha caído para fóra da cama. Dormiu.

            Acordou no meio da noite com o barulhinho da orelha crescendo. Dormiu de novo e quando acordou na manhã seguinte, o quarto se enchera com a orelha. Ela estava em cima do guarda-roupa, embaixo da cama, na pia. E forçava a porta. Ao meio-dia, a orelha derrubou a porta, saiu pelo corredor. Duas horas mais tarde, encheu o corredor. Inundou a casa. Os hóspedes fugiram para a rua. Chamaram a polícia, o corpo de bombeiros. A orelha saiu para o quintal. Para a rua.

            Vieram os açougueiros com facas, machados, serrotes. Os açougueiros trabalharam o dia inteiro cortando e amontoando. O prefeito mandou dar a carne aos pobres. Vieram os favelados, as organizações de assistência social, irmandades religiosas, donos de restaurantes, vendedores de churrasquinho na porta do estádio, donas de casa. Vinham com cestas, carrinhos, carroças, camionetas. Toda a população apanhou carne de orelha. Apareceu um administrador, trouxe sacos de plástico, higiênicos, organizou filas, fez uma distribuição racional.

            E quando todos tinham levado carne para aquele dia e para os outros, começaram a estocar. Encheram silos, frigoríficos, geladeiras. Quando não havia mais onde estocar a carne de orelha, cham aram outras cidades. Vieram novos açougueiros. E a orelha crescia, era cortada e crescia, e os açougueiros trabalhavam. E vinham outros açougueiros. E os outros se cansavam. E a cidade não suportava mais carne de orelha. O povo pediu uma providência ao prefeito. E o prefeito ao governador. E o governador ao presidente.

            E quando não havia solução, um menino, diante da rua cheia de carne de orelha, disse a um policial: “Por que ó senhor não mata o dono da orelha?”

(Ignácio de Loyoia Brandão, Os melhores contos de Ignácio de Loyola Brandão. Seleção de Deonísio da Silva. São Paulo: Global, 1993. p.135.) 


“Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam.” Considerando a norma-padrão da língua portuguesa no período transcrito do texto, afirma-se corretamente que:

Alternativas
Comentários
  • MAS > Coordenativa adversativa

    E > Coordenativa aditiva


    Gab.: B

  • Conjunções coordenativas aditivas: e, nem, não só...mas também, não só....como também, Bem como...

    Conjunções coordenativas adversativas: mas, contudo, todavia, no entanto, entretanto, não obstante...


  • Lembrando que a conjunção "e" em algumas construções pode ter sentido adversativo.

  • Takurmes, não seria ossod??

  • Oi, Futuro TJ. tem razao, ali é objeto direto. vou alterar lá, valeu,

  • Gente, o Takurmes F. comentou sobre a letra A que a frase é uma oração subordinada adjetiva restritiva. Mas não seria uma oração coordenada???

  • Não Fernanda, "que as orelhas cresciam" oração subordinada substantiva.

  • TArkumes, ta errrado man: Percebeu "que as orelhas cresciam", percebeu isso, isso ou isto o que? que as orelhas cresciam. adjetiva vc substitui por qual, o qual a qual.

  • Takurmes se confundiu na explicação da A e da E.

    Na A ele disse que era adjetiva e na E ele disse que é substantiva.


    No caso, pra mim é um oração subordinada substantiva objetiva direta.

  • GABARITO: B

  • Letra A OSSOD

  • gab = letra B

    "Mas" é conjunção coordenativa adversativa e "e" conjunção coordenativa aditiva.

  • GB/B

    PMGO

  • "MAS" adversidade e aditiva 

          (+ )        ( -)

    ► João estuda, mas não passa. (adversidade)

    -Vírgula obrigatória 

    ►João não só estuda, mas (também) trabalha ( Adição)

    -Também estiver subentendido 

    -Na oração anterior vir "não só" , "não somente" e "Não apenas" é líquido e certo que o mas é adição .

    ► Ela é linda, mas é alta

    -mas é adversidade porque não veio nenhum dos termos anteriores, embora o contexto lhe dê uma impressão de adição não veio os três termos antes é adversidade.

    Não entendi como a B seria a resposta correta já que na frase não possui nenhum dos termos mencionados. Não voltei ao texto para avaliar se existe esse termo ou alguns deles

  • Na A é Oração Subordinada Substantiva objetiva direta.

  • O pretérito mais que perfeito não se perdura no tempo. Ele traz um ação já concluída antes de outra, também do passado.

  • BIZU pra decorar se sao coordenadas ou subordinadas

    Coordenadas --> VC (conjuções que começam com vogais e C das conclusivas)

    começam com Vogal --> Adversativas, Alternativas, Aditiva, Explicativa

    Subordinadas --> sao as que nao se adequam à regra acima.

    algumas delas --> Comparativas, Consecutiva, proporcionais, finais, condicionais

  • pra mim é um oração subordinada substantiva na letra A

  • Gabarito : B.

    Oração Coordenada Sindética Adversativa.

    Bons Estudos !!!

  • “Mas o peso foi aumentando /e ele percebeu que as orelhas cresciam.”

    Dica corta na conjunção.

    Só será coordena se eu conseguir escrever separada a frase.

    Mas o peso foi aumentado.

    Ele percebeu que as orelhas cresciam.

    pronto consegui.

    Gabarito= B

    oração= tem verbo

    Coordenada= independência sintática (consigo escrever separada a frase)

    Oração coordenada Sintética (pois tem conjunção).

    Avante guerreiros, espero ter ajudado.

  • " A advocacia não é profissão de covardes."

  • Comentário sobre o erro da letra D: foi aumentando - ideia de continuidade é equivalente a "aumentava".

    "Aumentara" seria equivalente a "tinha aumentado".

  • Reportem abuso no comentário da Takurmes, ele tá errado e pode induzir outros colegas ao erro. Vejam o vídeo comentado da questão, vale muito a pena.