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ID
3862240
Banca
FEPESE
Órgão
Prefeitura de Concórdia - SC
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto  O conceito de língua

Língua é um conceito inalcançável por critérios apenas linguísticos. Falantes de diferentes variedades se reconhecem, por razões históricas, socioculturais e políticas, como falantes da mesma língua, ainda que haja poucas semelhanças léxico-gramaticais entre as variedades e, em certas situações, não haja sequer mútua inteligibilidade, como no caso dos falantes de chinês; ou dos falantes do iraquiano e do marroquino que se consideram todos falantes de árabe.

A língua “comum”, a que se dá um nome singular (português ou a língua portuguesa, por exemplo), é, de fato, um ente construído pelo imaginário social que, por um complexo entrelaçamento de fatores históricos, políticos e socioculturais, idealiza um objeto uno onde não há, efetivamente, unidade. O imaginário social se utiliza de uma rede conceitual para manter essa idealização em pé. Um dos mecanismos operativos aí presentes é confundir uma determinada variedade com a própria língua – é a chamada ideologia da língua-padrão/norma-padrão (cf. Milroy, 2011). Ao identificar a língua exclusivamente com as formas padronizadas, esse modelo ideológico desqualifica a heterogeneidade linguística e os processos de variação e mudança.

Do ponto de vista estritamente linguístico, a realidade recortada e identificada como uma língua é constituída por um conjunto de variedades, de normas, de gramáticas. Se não perdermos de vista essa perspectiva da heterogeneidade intrínseca do que chamamos de língua, podemos, em princípio, continuar a usar, por razões práticas, esse termo e suas designações singulares. Dizer isso não implica afirmar que a constituição e o funcionamento sociocultural do ente língua não sejam relevantes.

Destrinçar o emaranhado de critérios culturais e políticos que historicamente dá forma ao conceito imaginário de língua, assim como explicar seu funcionamento sociocultural constituem tarefas da Linguística. Nesse caso, os linguistas não podem trabalhar de forma isolada. Precisam se associar aos historiadores, antropólogos, sociólogos e psicólogos sociais. Só uma investigação multidisciplinar pode esclarecer essa intrincada questão.

FARACO, Carlos Alberto; ZILLES, Ana Maria. Para conhecer norma linguística. São Paulo: Contexto, 2017. p. 29-31. Adaptado.

Considere o trecho abaixo (1º parágrafo do texto 1) em seu contexto.

Falantes de diferentes variedades se reconhecem, por razões históricas, socioculturais e políticas, como falantes da mesma língua, ainda que haja poucas semelhanças léxico-gramaticais entre as variedades e, em certas situações, não haja sequer mútua inteligibilidade, como no caso dos falantes de chinês.

Analise as afirmativas abaixo:

1. Os segmentos “por razões históricas, socioculturais e políticas” e “em certas situações” são constituintes circunstanciais que estão sintaticamente intercalados na frase.
2. O vocábulo “como”, nas duas ocorrências, funciona como conjunção comparativa.
3. O verbo haver, nas duas ocorrências da forma “haja”, funciona como verbo existencial e é impessoal.
4. A preposição “por” introduz uma informação que expressa o lugar onde os falantes se reconhecem, em determinado tempo, como usuários de uma mesma língua.
5. O conector “ainda que” introduz uma oração subordinada cujo conteúdo é contrário ao da afirmação contida na oração principal, mas que não é suficiente para anular este último.

Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas.

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: D

     Falantes de diferentes variedades se reconhecem, por razões históricas, socioculturais e políticas, como falantes da mesma língua, ainda que haja poucas semelhanças léxico-gramaticais entre as variedades e, em certas situações, não haja sequer mútua inteligibilidade, como no caso dos falantes de chinês.

    1. Os segmentos “por razões históricas, socioculturais e políticas” e “em certas situações” são constituintes circunstanciais que estão sintaticamente intercalados na frase → CORRETO. Trata-se de termos que vem intercalados entre a oração.
    2. O vocábulo “como”, nas duas ocorrências, funciona como conjunção comparativa → INCORRETO. No primeiro caso, o "como" indica o modo como se reconhecem; ele não possui valor semântico de modo e não comparativo.
    3. O verbo haver, nas duas ocorrências da forma “haja”, funciona como verbo existencial e é impessoal → CORRETO. Em ambos casos, é um verbo impessoal, não possui sujeito e é usado com o sentido de "existir".
    4. A preposição “por” introduz uma informação que expressa o lugar onde os falantes se reconhecem, em determinado tempo, como usuários de uma mesma língua → INCORRETO. A preposição "por" introduz um adjunto adverbial de causa. Expressa a causa que faz com que os falantes se reconheçam.
    5. O conector “ainda que” introduz uma oração subordinada cujo conteúdo é contrário ao da afirmação contida na oração principal, mas que não é suficiente para anular este último → CORRETO. Trata-se de uma conjunção subordinada concessiva. As conjunções subordinativas concessivas introduzem uma oração que expressa ideia contrária à da principal, sem, no entanto, impedir sua realização. São elas: embora, ainda que, apesar de que, se bem que, mesmo que, por mais que, posto que, conquanto.

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!