SóProvas


ID
463864
Banca
CESGRANRIO
Órgão
Transpetro
Ano
2011
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                       Um pouco de silêncio
Nesta trepidante cultura nossa, da agitação e do barulho, gostar de sossego é uma excentricidade.
Sob a pressão do ter de parecer, ter de participar, ter de adquirir, ter de qualquer coisa, assumimos uma infinidade de obrigações. Muitas desnecessárias, outras impossíveis, algumas que não combinam conosco nem nos interessam.
Não há perdão nem anistia para os que ficam de fora da ciranda: os que não se submetem mas questionam, os que pagam o preço de sua relativa autonomia, os que não se deixam escravizar, pelo menos sem alguma resistência.
O normal é ser atualizado, produtivo e bem-informado. É indispensável circular, estar enturmado. Quem não corre com a manada praticamente nem existe, se não se cuidar botam numa jaula: um animal estranho.
Acuados pelo relógio, pelos compromissos, pela opinião alheia, disparamos sem rumo – ou em trilhas determinadas – feito hamsters que se alimentam de sua própria agitação.
Ficar sossegado é perigoso: pode parecer doença. Recolher-se em casa, ou dentro de si mesmo, ameaça quem leva um susto cada vez que examina sua alma.
Estar sozinho é considerado humilhante, sinal de que não se arrumou ninguém – como se amizade ou amor se “arrumasse" em loja. [...]
Além do desgosto pela solidão, temos horror à quietude. Logo pensamos em depressão: quem sabe terapia e antidepressivo? Criança que não brinca ou salta nem participa de atividades frenéticas está com algum problema.
O silêncio nos assusta por retumbar no vazio dentro de nós. Quando nada se move nem faz barulho, notamos as frestas pelas quais nos espiam coisas incômodas e mal resolvidas, ou se enxerga outro ângulo de nós mesmos. Nos damos conta de que não somos apenas figurinhas atarantadas correndo entre casa, trabalho e bar, praia ou campo.
Existe em nós, geralmente nem percebido e nada valorizado, algo além desse que paga contas, transa, ganha dinheiro, e come, envelhece, e um dia (mas isso é só para os outros!) vai morrer. Quem é esse que afinal sou eu? Quais seus desejos e medos, seus projetos e sonhos?
No susto que essa ideia provoca, queremos ruí- do, ruídos. Chegamos em casa e ligamos a televisão antes de largar a bolsa ou pasta. Não é para assistir a um programa: é pela distração.
Silêncio faz pensar, remexe águas paradas, trazendo à tona sabe Deus que desconcerto nosso. Com medo de ver quem – ou o que – somos, adia-se o defrontamento com nossa alma sem máscaras.
Mas, se a gente aprende a gostar um pouco de sossego, descobre – em si e no outro – regiões nem imaginadas, questões fascinantes e não necessariamente ruins.
Nunca esqueci a experiência de quando alguém botou a mão no meu ombro de criança e disse: — Fica quietinha, um momento só, escuta a chuva chegando.
E ela chegou: intensa e lenta, tornando tudo singularmente novo. A quietude pode ser como essa chuva: nela a gente se refaz para voltar mais inteiro ao convívio, às tantas fases, às tarefas, aos amores.
Então, por favor, me deem isso: um pouco de silêncio bom para que eu escute o vento nas folhas, a chuva nas lajes, e tudo o que fala muito além das palavras de todos os textos e da música de todos os sentimentos. LUFT, Lya. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 41. Adaptado.

Embora no texto “Um pouco de silêncio" predomine o emprego da norma-padrão, em algumas passagens se cultiva um registro semiformal.

O fragmento transposto corretamente para a norma-padrão é:

Alternativas
Comentários
    • a) “Quem não corre com a manada (...)” (L. 15) / Quem não corre à manada
    • incorreto: verbo correr não aceita apreposição (neste caso)
    •  
    • b) “notamos as frestas (...)” (L. 36) / notamos às frestas
    • incorreto: verbo notar é t.d., então não pede preposição
    •  
    • c) “Chegamos em casa (...)” (L. 48) / Chegamos a casa
    • correto:
    • verbo chegar pede a preposição a, indicando deslocamento (como a maioria dos verbos de movimento)
    • palavra casa não aceita artigo quando não está determinada, assim não pode aparecer crase
    •  
    • d) “(...) assistir a um programa:” (L. 49-50) / assistir à um programa
    • incorreto: não aparece artigo definido diante de artigo indefinido, então também não aparece crase


    • e) “trazendo à tona (...)” (L. 52) / trazendo há tona
    • incorreto: à tona é uma locução (adv.) feminina, que leva(m) crase, mas é o v. haver, empregado no sentido de existir, o que não encaixa na oração
    •  
    • a) “Quem não corre com a manada (...)” (L. 15) / Quem não corre à manada
    • O verbo correr é intransitivo  (regido pelas  preposições "com e de":
    • b) “notamos as frestas (...)” (L. 36) / notamos às frestas
    • verbo transitivo direto, não rege preposição
    • c) “Chegamos em casa (...)” (L. 48) / Chegamos a casa (correta)
    • Ele chegou a casa. 
      O verbo chegar é intransitivo, logo quem  chega, chega a algum lugar, a
      Tal construção existe tanto no Brasil quanto em Portugal, apesar de oralmente (e culturalmente) o brasileiro utilizar a oração "chegar em casa".

       "a casa" só vai ter crase se casa tiver um adjunto adnominal (um modificador) como em "chegou/fui/vou à casa de pedro", mas "chegou/fui/vou a casa.
    • d) “(...) assistir a um programa:” (L. 49-50) / assistir à um programa (errada)
    • incorreto: A crase não deve ser empregada junto a alguns pronomes indefinidos.
    • Nos sentidos de presenciar, estar presente a, comparecer, assistir é Transitivo Indireto e exige a preposição a.

    • e) “trazendo à tona (...)” (L. 52) / trazendo há tona (incorreto)
    • ha é vervo haver = existir
  • Só um detalhe:

    c) “Chegamos em casa (...)” (L. 48) / Chegamos a casa (correta)

    "Chegar" é intransitivo. Quem chega, chega.
    O verbo pede preposição "a" (direção, destino) mas nem toda preposição é o indicativo de que o verbo tenha objeto indireto.
    No caso, "a casa" é circunstância de local (onde?). A carga semântica da preposição é direção, destino.

    []s

  • Não se usa crase:

    Antes da palavra "casa" no sentido de "próprio lar":
    Chegamos a casapode-se substituir por -> Chegamos em casa.
     
    Antes da palavra "terra" no sentido de "solo": Os marinheiros voltaram a terra. (terra no sentido de solo, chão firme, porém não especificada). Caso "terra" fosse especificado então se utilizaria crase. Ex.: "Irei à terra de meus pais" (terra no sentido de solo, chão firme, porém especificada). Se "Terra" for um substantivo, também se utilizaria a crase. Ex: "Os astronautas voltaram à Terra".

  • O verbo chegar é usado, majoritariamente, como verbo intransitivo. Contudo, pode atuar também como verbo transitivo direto, estabelecendo regência sem a presença de uma preposição, e como verbo transitivo indireto, estabelecendo regência com as preposições a, de, para, em,...

    Verbo chegar como verbo intransitivo

    O verbo chegar é intransitivo, não necessitando de complementos verbais, com os seguintes sentidos:

    - Quando indica a ação completa de ir a algum lugar.

    Ele ainda não chegou.

    Você chegou cedo hoje!

    - Quando indica o ato de acontecer, tendo início no tempo.

    O verão chegou!

    As férias já chegaram!

    Verbo chegar sem regência de preposição

    O verbo chegar apresenta uma transitividade direta, não necessitando da presença de uma preposição, quando indica o ato de aproximar ou movimentar alguma coisa.

    Chega o teu banco para perto do meu.

    Chega as tuas mãos para lá!

    Verbo chegar com regência da preposição a

    O verbo chegar apresenta uma transitividade indireta, estabelecendo regência com a preposição a com os seguintes sentidos:

    - Quando indica o ato de se aproximar de um lugar para onde se foi.

    Cheguei ao aeroporto às duas da manhã.

    Ninguém chegou à festa na hora marcada.

    - Quando indica o ato de atingir ou alcançar um determinado lugar, valor ou importância.

    Chegamos ao fim do trajeto.

    A dívida do condomínio chega a vinte mil reais.

    Você nunca chegará aos pés dele.

    Atenção: preposição em!

    Embora o uso da preposição a seja o correto, há uma preferência entre os falantes para o uso da preposição em nesses sentidos. Embora esse uso já esteja consagrado pelo uso, deverá ocorrer apenas em contextos informais.

    Já cheguei em casa.

    Ainda não cheguei no trabalho.

    O trem chegou no fim da linha.

    Você não chega nos meus pés.

     

    Fonte: https://www.conjugacao.com.br/regencia-do-verbo-chegar/

  • O verbo chegar pode ser:
    - Transitivo indireto: Quando significa valor de limite.
    ex.: Seu estudo chegou ao extremo do saber.

    - Intransitivo: Quando indica movimento a um destino. Neste caso, usa-se a preposição a. Com a ideia de movimento do local de origem, deve-se usar e preposição de.
    ex: Chegamos a casa.
          Chegamos de Fortaleza.
     

  • c-

    chegar a casa - cheguei a minha casa

    mas....

    chegar à casa do joao.