SóProvas


ID
464224
Banca
CESGRANRIO
Órgão
Transpetro
Ano
2011
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                       Um pouco de silêncio
Nesta trepidante cultura nossa, da agitação e do barulho, gostar de sossego é uma excentricidade.
Sob a pressão do ter de parecer, ter de participar, ter de adquirir, ter de qualquer coisa, assumimos uma infinidade de obrigações. Muitas desnecessárias, outras impossíveis, algumas que não combinam conosco nem nos interessam.
Não há perdão nem anistia para os que ficam de fora da ciranda: os que não se submetem mas questionam, os que pagam o preço de sua relativa autonomia, os que não se deixam escravizar, pelo menos sem alguma resistência.
O normal é ser atualizado, produtivo e bem-informado. É indispensável circular, estar enturmado. Quem não corre com a manada praticamente nem existe, se não se cuidar botam numa jaula: um animal estranho.
Acuados pelo relógio, pelos compromissos, pela opinião alheia, disparamos sem rumo – ou em trilhas determinadas – feito hamsters que se alimentam de sua própria agitação.
Ficar sossegado é perigoso: pode parecer doença. Recolher-se em casa, ou dentro de si mesmo, ameaça quem leva um susto cada vez que examina sua alma.
Estar sozinho é considerado humilhante, sinal de que não se arrumou ninguém – como se amizade ou amor se “arrumasse" em loja. [...]
Além do desgosto pela solidão, temos horror à quietude. Logo pensamos em depressão: quem sabe terapia e antidepressivo? Criança que não brinca ou salta nem participa de atividades frenéticas está com algum problema.
O silêncio nos assusta por retumbar no vazio dentro de nós. Quando nada se move nem faz barulho, notamos as frestas pelas quais nos espiam coisas incômodas e mal resolvidas, ou se enxerga outro ângulo de nós mesmos. Nos damos conta de que não somos apenas figurinhas atarantadas correndo entre casa, trabalho e bar, praia ou campo.
Existe em nós, geralmente nem percebido e nada valorizado, algo além desse que paga contas, transa, ganha dinheiro, e come, envelhece, e um dia (mas isso é só para os outros!) vai morrer. Quem é esse que afinal sou eu? Quais seus desejos e medos, seus projetos e sonhos?
No susto que essa ideia provoca, queremos ruí- do, ruídos. Chegamos em casa e ligamos a televisão antes de largar a bolsa ou pasta. Não é para assistir a um programa: é pela distração.
Silêncio faz pensar, remexe águas paradas, trazendo à tona sabe Deus que desconcerto nosso. Com medo de ver quem – ou o que – somos, adia-se o defrontamento com nossa alma sem máscaras.
Mas, se a gente aprende a gostar um pouco de sossego, descobre – em si e no outro – regiões nem imaginadas, questões fascinantes e não necessariamente ruins.
Nunca esqueci a experiência de quando alguém botou a mão no meu ombro de criança e disse: — Fica quietinha, um momento só, escuta a chuva chegando.
E ela chegou: intensa e lenta, tornando tudo singularmente novo. A quietude pode ser como essa chuva: nela a gente se refaz para voltar mais inteiro ao convívio, às tantas fases, às tarefas, aos amores.
Então, por favor, me deem isso: um pouco de silêncio bom para que eu escute o vento nas folhas, a chuva nas lajes, e tudo o que fala muito além das palavras de todos os textos e da música de todos os sentimentos. LUFT, Lya. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 41. Adaptado.

A mudança na pontuação mantém o sentido da frase original, preservando a norma-padrão da língua, em:

Alternativas
Comentários
  • a) “Nesta trepidante cultura nossa, da agitação e do baru lho, gostar de sossego é uma excentricidade
    A expressão “da agitação e do barulho” caracteriza o nome “cultura” e deve ser separada por vírgulas.

     b) “algumas que não combinam conosco (,) nem nos interessam.”

    Com a conjunção nem repetida, a vírgula é optativa. Exemplos de uso: Nem isso nem aquilo. 
    Imagino que seja pelo "não" antes e o "nem depois", por isso a vírgula foi considerada opcional (não "negação" = nem)
    De todo modo não vejo alteração de sentido pelo uso da vírgula antes de "nem"


    c)“Quem não corre , com a manada praticamente nem existe,” 
    Não se separa o verbo do seu complemento


    Quando não há vírgula, temos uma informação mais específica: não se trata simplesmente de quem não corre, mas sim de quem não corre com manada. Ao ser usada a vírgula depois do verbo “corre”, vemos que a informação sobre quem não corre, em um sentido mais amplo, mais geral: quem não pratica o ato de correr simplesmente.

    d) 
    “disparamos sem rumo – ou em trilhas determinadas – feito hamsters (...)”
    O travessão é usado para isolar palavras ou expressões no interior da fala.

    A expressão “ou em trilhas determinadas”, ao ser colocada entre travessões, ganha um destaque que se perde quando esses travessões não são mais usados.

    e)Estar sozinho, é considerado humilhante.
    Jamais separa sujeito do verbo ( "O que Deus uniu o homen não separaaaa)

  • Gabarito letra b)

    a) “Nesta trepidante cultura nossa, da agitação e do baru- lho, gostar de sossego é uma excentricidade.” (L. 1-2) / Nesta trepidante cultura nossa, da agitação e do barulho gostar de sossego é uma excentricidade. ERRADO. (Não se usa vírgula entre verbo e sujeito).

    b) “algumas que não combinam conosco nem nos interessam.” (L. 6-7) / algumas que não combinam conosco, nem nos interessam. CORRETO.

    c) “Quem não corre com a manada praticamente nem existe,” (L. 15-16) / Quem não corre, com a manada praticamente nem existe, ERRADO. (Não se usa vírgula entre o verbo e o sujeito).

    d) “disparamos sem rumo – ou em trilhas determinadas – feito hamsters (...)” (L. 19-20) / disparamos sem rumo ou em trilhas determinadas feito hamsters ERRADO. (

    e) “Estar sozinho é considerado humilhante,” (L. 26) / Estar sozinho, é considerado humilhante, ERRADO. (Sujeito e verbo não podem ser separados por vírgula).


    Estando a oração em ordem direta (seus termos se sucedem na seguinte progressão: sujeito > verbo > complementos do verbo (objetos) > adjunto adverbial), isto é, sem inversões ou intercalações, o uso da vírgula é, de modo geral, desnecessário. Assim:

    1. Não se usa vírgula separando termos que, do ponto de vista sintático, ligam-se diretamente entre si:

    a) Entre sujeito e predicado. Ex. Todos os alunos da sala (sujeito) foram advertidos (predicado).

    b) Entre o verbo e seus objetos. Ex. O trabalho custou (VTDI) sacrifício (OD) aos realizadores (OI).

    2. Entre nome e complemento nominal; entre nome e adjunto adnominal.

    Ex. A surpreendente (Adj. adnominal) reação (nome) do governo (Adj. adnominal) contra os sonegadores (Compl. nominal) despertou reações entre os empresários.

    Forte abraço e bons estudos a todos!

    Fonte: http://www.brasilescola.com/gramatica/uso-da-virgula.htm