SóProvas


ID
5057515
Banca
IPEFAE
Órgão
Prefeitura de Andradas - MG
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o conto, de Heloísa Seixas, publicado na revista Domingo do Jornal do Brasil em 02/04/2006, para responder a questão.. 

Viajante

Lá está ela.
Vergada, sim – mas soberba. O cabelo branco preso num coque no alto da cabeça, o corpo muito magro apoiado na bengala. Parada junto ao meio-fio, do outro lado da rua, prepara-se para atravessar.
Eu a vejo de longe, mas sua presença se impõe. O vestido é simples, de algodão talvez, um corte reto, sem mangas, sem bolsos. Os sapatos, um mocassim preto, de gáspea alta, pesado mas firme, talvez pela necessidade de um bom apoio para pés tão incertos, tão cansados. Na mão direita, a bengala; na esquerda, uma sacola de plástico, de supermercado. Tudo muito prosaico, simples, e no entanto há uma aura de majestade ali.
Agora, o sinal abriu. E ela começa a atravessar. 
Da outra calçada, parada, observo. Ela desce o meio-fio com um passo leve, incerto, quase etéreo. Começo a me preocupar. Sei que aquele sinal é um sinal de pedestre e, como vivemos sob a tirania do automóvel, ele abre e fecha muito rápido. Os carros não podem esperar. Não vai dar tempo, penso. Mas a mulher não parece se importar.
Um passo depois do outro, lá vai ela, com todo o vagar do mundo, apoiando-se em sua bengala. E o sinal começa a piscar, anunciando que o tempo do ser humano se esgota, que este precisa abrir caminho para a máquina.
Estremeço, pensando: preciso fazer alguma coisa. Mas não faço. Continuo imóvel, pregada ao chão.
Pronto. O sinal fechou. E ela ainda está no meio da rua. Mas nenhum carro avança, parecem contidos pela realeza da mulher. E ela segue, sem apressar o passo, sem olhar para os lados, sem temor algum. Parece maior do que todos nós, do que o mundo inteiro, parece nos falar de uma outra maneira de viver, mais amena, mais gentil. Viajante do tempo, é como se caminhasse por uma Ipanema de setenta anos atrás. 
Só quando afinal sobe na calçada do outro lado, só então, os automóveis arrancam. E eu a vejo afastar-se, no mesmo e imperturbável passo.
Talvez eu devesse ter ido ao seu encontro, tentado ajudar. Mas não pude. Sua dignidade, tamanha, me intimidou. E fiquei ali, imóvel, esmagada pela imponência daquela mulher-navio que, impávida e majestosa, singrava o tempo.
Disponível em: https://heloisaseixas.com.br/contos-minimos/2006-2/ 

Considere o seguinte trecho do texto e assinale a alternativa correta.

“Sei que aquele sinal é um sinal de pedestre e, como vivemos sob a tirania do automóvel, ele abre e fecha muito rápido.”

Alternativas
Comentários
  • GABARITO - C

    “Sei que aquele sinal é um sinal de pedestre e, como vivemos sob a tirania do automóvel, ele abre e fecha muito rápido.”

    A) A conjunção e estabelece uma relação de oposição entre “Sei que aquele é um sinal de pedestre” e “ele abre e fecha muito rápido”.

    Não estabelece relação de Oposição, mas adição.

    ------------------------------------------------------------------------------

    B) O pronome ele retoma o substantivo automóvel mencionado na oração anterior.

    Sinal de pedestre

    ------------------------------------------------------------------------------

    C) A conjunção como estabelece uma relação de causa e efeito entre a tirania do automóvel e a rapidez do sinal.

    Causaisintroduzem uma oração que é causa da ocorrência da oração principal. São elas: porque, que, como (= porque, no início da frase), pois que, visto que, uma vez que, porquanto, já que, desde que, etc.

    Fazendo uma troca rápida...

    Como vivemos sob a tirania do automóvel.

    Já que vivemos sob a tirania do automóvel.

  • Assertiva c

    Sei que aquele sinal é um sinal de pedestre e, como vivemos sob a tirania do automóvel, ele abre e fecha muito rápido.”

    A conjunção como estabelece uma relação de causa e efeito entre a tirania do automóvel e a rapidez do sinal

  • GAB C

    Uma estratégia interessante nessas questões que apresentam as conjunções causais.

    Para achar essa "ideia" (Causa e consequência) é só pensar em :

    O fato de .... fez com que ....

    O fato de vivermos em sob uma tirania do automóvel, faz com que ele abra e feche muito rápido.

  • A questão é de morfologia e quer que marquemos a alternativa correta em relação à oração “Sei que aquele sinal é um sinal de pedestre e, como vivemos sob a tirania do automóvel, ele abre e fecha muito rápido.”. Vejamos:

     . 

    A) A conjunção e estabelece uma relação de oposição entre “Sei que aquele é um sinal de pedestre” e “ele abre e fecha muito rápido”.

    Errado. A conjunção "e", nesse caso, não estabelece oposição, mas, sim, ADIÇÃO. Trata-se, portanto, de uma conjunção coordenativa aditiva.

    Conjunções coordenativas aditivas: têm valor semântico de adição, soma, acréscimo...

    São elas: e, nem (e não), não só... mas também, mas ainda, como também, ademais, além disso, outrossim...

    Ex.: Estudaram muito e passaram no concurso.

     . 

    B) O pronome ele retoma o substantivo automóvel mencionado na oração anterior.

    Errado. O pronome "ele" retoma "sinal de pedestre": ele (o sinal de pedestre) abre e fecha muito rápido.

     . 

    C) A conjunção como estabelece uma relação de causa e efeito entre a tirania do automóvel e a rapidez do sinal.

    Certo. Temos, nesse caso, uma conjunção subordinativa causal. O "como" estabelece uma relação de causa e efeito entre "tirania do automóvel" e "rapidez do sinal". O fato, o motivo de vivermos na tirania (dominação) do automóvel (essa é a causa), faz com que o sinal de pedestres abra e feche muito rápido (esse é o efeito).

    Conjunções subordinativas causais: têm valor semântico de causa, motivo, razão...

    São elas: porque, porquanto, como, uma vez que, visto que, já que, posto que, por isso que, na medida em que, dado que...

    Ex.: Como você está estudando bastante, suas chances de passar em concurso são enormes.

     . 

    D) O pronome aquele retoma o substantivo meio-fio mencionado anteriormente.

    Errado. O pronome "aquele" retoma o "sinal que abriu", que é um sinal de pedestre: "Agora, o sinal abriu. E ela começa a atravessar. Da outra calçada, parada, observo. Ela desce o meio-fio com um passo leve, incerto, quase etéreo. Começo a me preocupar. Sei que aquele sinal é um sinal de pedestre...".

     . 

    Referência: CEGALLA, Domingos Pascoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, 48.ª edição, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.

     . 

    Gabarito: Letra C

  • GABARITO: C

    Direto: Sempre substitua por o fato de... (causa) fez com que... (consequência)

    "como vivemos sob a tirania do automóvel, ele abre e fecha muito rápido.”

    "o fato de vivermos sob a tirania do automóvel (causa), fez com que ele abrisse e fechasse muito rápido (consequência)"

    Bons estudos! :)