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ID
5057518
Banca
IPEFAE
Órgão
Prefeitura de Andradas - MG
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o conto, de Heloísa Seixas, publicado na revista Domingo do Jornal do Brasil em 02/04/2006, para responder a questão.. 

Viajante

Lá está ela.
Vergada, sim – mas soberba. O cabelo branco preso num coque no alto da cabeça, o corpo muito magro apoiado na bengala. Parada junto ao meio-fio, do outro lado da rua, prepara-se para atravessar.
Eu a vejo de longe, mas sua presença se impõe. O vestido é simples, de algodão talvez, um corte reto, sem mangas, sem bolsos. Os sapatos, um mocassim preto, de gáspea alta, pesado mas firme, talvez pela necessidade de um bom apoio para pés tão incertos, tão cansados. Na mão direita, a bengala; na esquerda, uma sacola de plástico, de supermercado. Tudo muito prosaico, simples, e no entanto há uma aura de majestade ali.
Agora, o sinal abriu. E ela começa a atravessar. 
Da outra calçada, parada, observo. Ela desce o meio-fio com um passo leve, incerto, quase etéreo. Começo a me preocupar. Sei que aquele sinal é um sinal de pedestre e, como vivemos sob a tirania do automóvel, ele abre e fecha muito rápido. Os carros não podem esperar. Não vai dar tempo, penso. Mas a mulher não parece se importar.
Um passo depois do outro, lá vai ela, com todo o vagar do mundo, apoiando-se em sua bengala. E o sinal começa a piscar, anunciando que o tempo do ser humano se esgota, que este precisa abrir caminho para a máquina.
Estremeço, pensando: preciso fazer alguma coisa. Mas não faço. Continuo imóvel, pregada ao chão.
Pronto. O sinal fechou. E ela ainda está no meio da rua. Mas nenhum carro avança, parecem contidos pela realeza da mulher. E ela segue, sem apressar o passo, sem olhar para os lados, sem temor algum. Parece maior do que todos nós, do que o mundo inteiro, parece nos falar de uma outra maneira de viver, mais amena, mais gentil. Viajante do tempo, é como se caminhasse por uma Ipanema de setenta anos atrás. 
Só quando afinal sobe na calçada do outro lado, só então, os automóveis arrancam. E eu a vejo afastar-se, no mesmo e imperturbável passo.
Talvez eu devesse ter ido ao seu encontro, tentado ajudar. Mas não pude. Sua dignidade, tamanha, me intimidou. E fiquei ali, imóvel, esmagada pela imponência daquela mulher-navio que, impávida e majestosa, singrava o tempo.
Disponível em: https://heloisaseixas.com.br/contos-minimos/2006-2/ 

Assinale a alternativa correta.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO - D

    A) Em “Parada junto ao meio-fio, do outro lado da rua, prepara-se para atravessar”, a partícula se indica oração sem sujeito.

    Segundo F. Pestana quando o Verbo é VI + SE ou VTI +SE = índice de indeterminação do sujeito.

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    B) Em “parecem contidos pela realeza da mulher”, o verbo na terceira pessoa do plural marca sujeito indeterminado.

    O sujeito pode aparecer como indeterminado quando o temos VI ou VTI + SE ou Verbo na terceira quando não podemos determiná-lo pelo contexto.

    NÃO É O CASO!

    Mas nenhum carro avança, parecem contidos pela realeza da mulher.

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    C) Em “Sua dignidade, tamanha, me intimidou”, o sujeito do verbo destacado está oculto.

    O que me intimidou?

    Sua dignidade tamanha. ( Sujeito )

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    D) Em “Parece maior do que todos nós, do que o mundo inteiro, parece nos falar de uma outra maneira de viver, mais amena, mais gentil. Viajante do tempo, é como se caminhasse por uma Ipanema de setenta anos atrás”, os verbos destacados compartilham do mesmo sujeito.

    O SUJEITO É OCULTO. ( Não está expresso, mas pode ser retomado )

    E ela segue, sem apressar o passo, sem olhar para os lados, sem temor algum. Parece maior do que todos nós, do que o mundo inteiro, parece nos falar de uma outra maneira de viver, mais amena, mais gentil. Viajante do tempo, é como se caminhasse por uma Ipanema de setenta anos atrás. 

  • Que texto bom!

  • quem nao leu o texto marcou a B. Eu ia marcar ela, mas decidir ler e marquei a correta D. Quixadá/CE PMCE ai voou eu.
  • (Gab D)

    A) Em “Parada junto ao meio-fio, do outro lado da rua, prepara-se para atravessar”, a partícula se indica oração sem sujeito. Errado, temos um sujeito sim, que no caso é o 'objeto do verbo', mais conhecido como oração subordinada substantiva subjetiva, onde o objeto do verbo é o próprio sujeito, isso acontece quando? Quando temos um verbo transitivo direto+se.

    B) Em “parecem contidos pela realeza da mulher”, o verbo na terceira pessoa do plural marca sujeito indeterminado. Errado, temos um sujeito oculto desinencial. 'Eles' parecem...

    C) Em “Sua dignidade, tamanha, me intimidou”, o sujeito do verbo está oculto. Não, uma pergunta rápida, quem me intimidou? Sua dignidade tamanha e como núcleo do sujeito, "A dignidade."