SóProvas


ID
5171782
Banca
IPEFAE
Órgão
Prefeitura de Campos do Jordão - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Educação hipster ou não?


Leandro Karnal, O Estado de S. Paulo

20 de fevereiro de 2019 | 02h00


O ano letivo engrena e chega a um novo momento para pensar na imensa tarefa de educar. Se você é mãe ou pai responsável, deve ter medo. Se você for um professor de qualidade, pode estar apreensivo.

Quem sabe a responsabilidade da escola na definição do futuro de alguém tem apreensões.

Não existe receita. Vamos trazer dados objetivos para que cada mãe e cada pai, cada escola e cada professor possam acrescentar sua visão de mundo e complementar (ou contradizer) o que proponho a seguir.


1) Alguém é educado da mesma maneira que alguém peca na liturgia católica: “Por pensamentos e palavras, atos e omissões”. Você educa pelo que diz, pelo que omite, pelo que faz e até por pensamentos, já que eles provocam marolas no olhar ou são pais de gestos concretos. Ao dirigir, você está educando um filho que está na cadeirinha do banco de trás. Ao entrar na sala de aula, sua roupa, seu tom de voz, sua postura, seu sorriso ou seu azedume estão educando. O chamado “currículo oculto” é, quase sempre, o mais poderoso da educação.


2) Educação deve ser um equilíbrio entre o prazer lúdico que produz muito conhecimento e, por vezes, a insistência do esforço que não está acompanhado de resultado imediato. Focar em sorrisos 100% do tempo atende o aluno-consumidor e não ao ser humano maduro. É errado supor que tudo deva ser sofrimento e equivocado dizer que só tem valor quando fazemos com gargalhadas. A “chatice” nunca é um bom projeto, mas o gosto do esforço deve e pode ser estimulado.


3) A sala de aula e as atividades culturais declaradas são importantes, porém existe a autonomia do indivíduo. O desejo de consumo, por exemplo, é quase igual para todos os alunos ao emergirem do Ensino Médio. Nenhuma aula disse que o smartphone X era o melhor, mas o mundo inteiro disse algo assim. Isso deve nos deixar um pouco menos preocupados: fazemos muito, não controlamos tudo. Nem todos os desejos e as repulsas dos alunos derivam do gosto dos pais ou da orientação dos professores.


4) Muitos pais de classe média e alta dão celulares bem cedo para os filhos sob o argumento de que “todos os colegas possuem um”. A ida para a Disney segue lógica similar. Uma roupa da moda acaba sendo imposta porque a criança/adolescente ficaria deslocada/do em outro traje. Quem pensa assim está produzindo uniformidade, time, torcida ou batalhão militar. Uma parte do sucesso no futuro dependerá de autonomia, inteligência, originalidade. Em resumo, querer tudo igual torna seu filho e sua filha iguais em demasia e, como tal, mais aptos à repetição. Ser “hipster” no sentido original e positivo da palavra, é uma estratégia boa de sucesso. Pensar de forma autônoma dá mais futuro.


5) Se alguém de 14 anos fosse maduro e equilibrado, soubesse aprender por si e fosse sábio, pais e professores poderiam ser dispensados. Um médico é procurado por doentes. Educar é lidar com imaturidade, inconstância, crises artificiais, egoísmos, narcisos feridos, incapacidade de ver o outro e uma insegurança brutal que se traveste de arrogância. Pais e mães têm poder sobre os filhos porque os filhos necessitam do poder. São seres únicos, ainda que sejam na teoria e na prática incapazes judicialmente. Professores estão ali para fazer parte do processo longo, penoso e desgastante de pressionar o carvão para que surja algum diamante. É por serem difíceis que a criança e o jovem necessitam de você.


6) Não cansarei de repetir: não educo para suprir dores da minha educação, para sublimar o que ouvi no passado ou para ressignificar minhas frustrações. Educo um ser único, especial, parte da minha biografia, todavia autônomo nas coisas boas e ruins. Educo para o futuro, educo-me junto, reaprendo valores, entendo que gerações anteriores tinham vantagens e defeitos e, por fim, pratico a suprema lição ecológica: amparar o animal selvagem ferido é, exclusivamente, para reinseri-lo na natureza. O grande objetivo de toda educação é liberar o educando no mundo selvagem e complicado. O cativeiro protege e imbeciliza. A jaula é desejo de controle do proprietário, raramente um anelo do bicho. Bichos/animais no mesmo parágrafo que alunos e filhos? Se alguma fera lê o Estadão eu peço desculpas. Foi um pleonasmo didático.


7) Há pais, professores, mães e outros educadores que criam fronteiras e regras bem demarcadas. Há quem prefira laços mais frouxos. Há os que ligam de meia em meia hora e há os que se controlam. As linhas variam e dependem de muitos fatores. Só existe uma questão que jovens não perdoarão no futuro: a indiferença. Dá para superar um pai controlador, difícil encarar o omisso. Educar é um projeto enorme e duradouro. Já escrevi que há mais gente fértil no mundo do que vocações autênticas de pai e de mãe. Há mais gente com diploma de licenciatura do que professores de verdade. Sua linha pode variar. O que nunca será esquecido é se você esteve presente, integral, empenhado e com todo o seu corpo e alma no momento. Pode errar junto, nunca distante.


A escola e a família podem muito, mas não podem tudo. Você é responsável e seu papel fundamental, todavia o mundo lhe excede, o futuro não lhe pertence e o ser humano não é determinado pelos pais e professores. Tente fazer o melhor, haverá erros e lacunas enormes, mas tudo pode ser reparado se existiu um projeto genuíno de estimular liberdade, conhecimento, curiosidade e valores coerentes. O resto? Devemos dar uma chance profissional a terapeutas e psicólogos. A vida sempre será o maior professor de todos nós. É preciso ter esperança.


FONTE: https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,educacao-hipster-ou-nao,70002727727

As orações, tanto as subordinadas quanto as coordenadas, estabelecem relações significativas entre si. Assim, na passagem "Você educa pelo que diz, pelo que omite, pelo que faz e até por pensamentos, já que eles provocam marolas no olhar ou são pais de gestos concretos”, sobre os termos em destaque, é correto afirmar que:

Alternativas
Comentários
  • troca "que" por "qual" pronome relativo

  • GABARITO C

    Achei difícil essa questão, não entendi o porquê de ser pronome relativo. Por gentileza se algum colega souber e puder comentar para nos ajudar.

    Bons estudos!

  • também não entendi

  • O pronome relativo que está retomando o pronome demonstrativo o que foi aglutinado em pelo (por + o)

    É o mesmo que: "Você educa por AQUILO que diz, por AQUILO que omite, por AQUILO que faz.."

    Sempre que o o puder ser substituído por aquilo, ele será pronome demonstrativo.

    Assim, analisando somente o primeiro caso, já que os demais serão iguais:

    Você educa por aquilo. Você diz aquilo. >> unindo as orações com o pronome relativo: "Você educa por aquilo que diz" , que é o mesmo que "Você educa pelo que diz", retornando com o pronome demonstrativo original. Podemos, ainda, dizer a respeito da função sintática do pronome relativo. Como o aquilo na segunda oração é objeto direto, o que na oração subordinada tem função sintática de objeto direto.

  • Apenas P.R ( pronome relativo) introduz orações subordinadas adjetivas.

  • O correto não seria: você educa por isso( trocando o que por isso)? Não entendi essa questão
  • GABARITO: C

    Pronome Relativo: Tem duas funções:

    -Introduz Oração Subordinada Adjetiva

    -Retoma o termo anterior

    Restritiva: NÃO há pontuação

    Explicativa: TEM pontuação

    O PRONOME RELATIVO pode ser de:

    COESÃO REFERENCIAL: (pegará a função de sujeito, retoma o antecedente)

    [O QUAL, A QUAL, OS QUAIS, AS QUAIS]

    COESÃO SEQUENCIAL: (acrescenta novas informações)

    Ex: Sou o que sou (Sou aquilo que sou) substituído por [O,A, OS, AS +QUE, AQUILO, AQUELE]

    OBS: Sintaticamente sempre vai exercer função de ADJUNTO ADNOMINAL

  • Não sei se consigo ajudar, mas:

    Toda oração subordinada adjetiva vem precedida de pronome relativo que.

    Sei que a oração é subordinada adjetiva quando é possível se substituir o "que" pelo qual.

    Caso não fosse possível substituição seria uma conjunção integrante (que antecede orações subordinadas substantivas).

    Que é um pronome relativo quando:

    • substitui um substantivo, evitando a sua repetição;
    • estabelece uma relação com o substantivo que substitui;
    • aparece após o substantivo que substitui;
    • pode ser substituído por o qual, a qual, os quais ou as quais. ()

    DICA:

    Que: após substantivo = pronome relativo.

    Que: após verbos = conjunção integrante.