SóProvas


ID
910138
Banca
FCC
Órgão
DPE-SP
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

       Alguns mapas e textos do século XVII apresentam-nos a vila de São Paulo como centro de amplo sistema de estradas expandindo-se rumo ao sertão e à costa. Os toscos desenhos e os nomes estropiados desorientam, não raro, quem pretenda servir-se desses documentos para a elucidação de algum ponto obscuro de nossa geografia histórica. Recordam-nos, entretanto, a singular importância dessas estradas para a região de Piratininga, cujos destinos aparecem assim representados em um panorama simbólico. 
      Neste caso, como em quase tudo, os adventícios deveram habituar-se às soluções e muitas vezes aos recursos materiais dos primitivos moradores da terra. Às estreitas veredas e atalhos que estes tinham aberto para uso próprio, nada acrescentariam aqueles de considerável, ao menos durante os primeiros tempos. Para o sertanista branco ou mamaluco, o incipiente sistema de viação que aqui encontrou foi um auxiliar tão prestimoso e necessário quanto o fora para o indígena. Donos de uma capacidade de orientação nas brenhas selvagens, em que tão bem se revelam suas afinidades com o gentio, mestre e colaborador inigualável nas entradas, sabiam os paulistas como transpor pelas passagens mais convenientes as matas espessas ou as montanhas aprumadas, e como escolher sítio para fazer pouso e plantar mantimentos. 
      Eram de vária espécie esses tênues e rudimentares caminhos de índios. Quando em terreno fragoso e bem vestido, distinguiam- se graças aos galhos cortados a mão de espaço a espaço. Uma sequência de tais galhos, em qualquer floresta, podia significar uma pista. Nas expedições breves serviam de balizas ou mostradores para a volta. Era o processo chamado ibapaá, segundo Montoya, caapeno, segundo o padre João Daniel, cuapaba, segundo Martius, ou ainda caapepena, segundo Stradelli: talvez o mais generalizado, não só no Brasil como em quase todo o continente americano. Onde houvesse arvoredo grosso, os caminhos eram comumente assinalados a golpes de machado nos troncos mais robustos. Em campos extensos, chegavam em alguns casos a extremos de sutileza. Koch-Grünberg viu uma dessas marcas de caminho na serra de Tunuí: constava simplesmente de uma vareta quebrada em partes desiguais, a maior metida na terra, e a outra, em ângulo reto com a primeira, mostrando o rio. Só a um olhar muito exercitado seria perceptível o sinal. 

      (Sérgio Buarque de Holanda. Caminhos e fronteiras. 3.ed. S. Paulo: Cia. das Letras, 1994. p.19-20)

Atente para as afirmações abaixo sobre a pontuação empregada em segmentos do texto.

I. Recordam-nos, entretanto, a singular importância dessas estradas para a região de Piratininga, cujos destinos aparecem assim representados em um panorama simbólico. (1o parágrafo)

A vírgula colocada imediatamente depois de Piratininga poderia ser retirada sem alteração de sentido.

II. Eram de vária espécie esses tênues e rudimentares caminhos de índios. (3o parágrafo)

A inversão da ordem direta na construção da frase acima justificaria a colocação de uma vírgula imediatamente depois de espécie, sem prejuízo para a correção.

III. Era o processo chamado ibapaá, segundo Montoya, caapeno, segundo o padre João Daniel, cuapaba, segundo Martius, ou ainda caapepena, segundo Stradelli: talvez o mais generalizado, não só no Brasil como em quase todo o continente americano. (3o parágrafo)
Os dois-pontos poderiam ser substituídos por um travessão, sem prejuízo para a correção e a clareza.

Está correto o que se afirma APENAS em

Alternativas
Comentários
  • Explicando o Item: III
    O travessão é um traço maior que o hífen e costuma ser empregado:
    1 - no discurso direto, para indicar a fala da personagem ou a mudança de interlocutor nos diálogos.
    — O que é isso, mãe?
    — É o seu presente de aniversário, minha filha.
    2 - para separar expressões ou frases explicativas, intercaladas.
    "E logo me apresentou à mulher, — uma estimável senhora — e à filha." (Machado de Assis)
    3 - para destacar algum elemento no interior da frase, servindo muitas vezes para realçar o aposto.
    "Junto do leito meus poetas dormem — o Dante, a Bíblia, Shakespeare e Byron — na mesa confundidos." (Álvares de Azevedo)

    4 - para substituir o uso de parênteses, vírgulas e dois-pontos, em alguns casos. (Hipótese da questão)
    "Cruel, obscena, egoísta, imoral, indômita, eternamente selvagem, a arte é a superioridade humana — acima dos preceitos que se combatem, acima das religiões que passam, acima da ciência que se corrige; embriaga como a orgia e como o êxtase." (Raul Pompeia)

    Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/fono/fono34.php
  • Olá, pessoal!!
    Primeiramente, quero agradecer à Elaine o seu ótimo comentário!


    Vou explicar por que os itens I e II estão errados! ;)
    I. Recordam-nos, entretanto, a singular importância dessas estradas para a região de Piratininga, cujos destinos aparecem assim representados em um panorama simbólico. (1o parágrafo) 
    A vírgula colocada imediatamente depois de Piratininga
    poderia ser retirada sem alteração de sentido. Errada. Apesar de não se prejudicar a correção gramatical com a retirada da vírgula, mudar-se-ia o sentido. Sem vírgula(s), temos uma oração adjetiva restritiva. Com vírgula(s), temos uma oração adjetiva explicativa.

    II. Eram de vária espécie esses tênues e rudimentares caminhos de índios. (3o parágrafo) 
    A inversão da ordem direta na construção da frase acima justificaria a colocação de uma vírgula imediatamente depois de espécie, sem prejuízo para a correção. Errada. Caso a vírgula fosse colocada,
    separar-se-ia o sujeito do predicado. O que pode ser colocado entre vírgulas é o adjunto adverbial, mas este não existe na frase.

    Espero que tenham entendido! ;)
    Abraços, amigos!


    http://concurseiro24horas.com.br/curso/50/simulado-com-questoes-de-portugues-para-tribunais.html 
  • no item 2 o erro está no verbo, pois é verbo de ligação.
    segundo a gramática, ao inverter a ordem direta da frase, pode-se colocar a vírgula entre o predicado e o sujeito, porém essa regra nao cabe quando o verbo for de ligação.

    exemplo:
    Triste com a notícia, o rapaz deixou a sala em silêncio. (aqui pode-se colocar a vírgula depois do predicativo deslocado, VEJA QUE O VERBO NÃO É DE LIGAÇÃO)

    ou seja, se for verbo de ligação não se pode fazer este esquema de uso da vírgula.
  • Vem cá: no item II, "vária espécie" foi grafado corretamente? Na prova está escrito assim mesmo?

    Considerei-a errada por isso, pelo erro de concordância. Já que devia estar grafado várias espécies.
  • GABARITO: LETRA "A", de aprovação! :)

    I. Como cujos destinos aparecem assim representados em um panorama simbólico é uma oração subordinada adjetiva explicativa, a retirada da vírgula antes dela a tornaria restritiva, alterando seu sentido original.

    II. O termo esses tênues e rudimentares caminhos de índios é o sujeito da frase, logo não pode ser antecedido de vírgula.

    III. Os dois-pontos iniciam uma explicação. Como o travessão também cumpre essa função, a substituição de um sinal por outro está correta.
  • Não deveria ser duplo travessão?!

  • Elaine Santos, quando é final de frase pode colocar apenas um travessão.

  • Gabarito A   (mas...)

     

    A lagoa que a meninada esperta do bairro costumava visitarfoi aterrada.  

    Gramática de J Nicola e Infante​

    As gramaticas divergem-se.

     

    "Só tem poder quem age"

     

     

  • I. Recordam-nos, entretanto, a singular importância dessas estradas para a região de Piratininga, cujos destinos aparecem assim representados em um panorama simbólico. Aqui o sentido é da importância das estradas para Piratininga

    I. Recordam-nos, entretanto, a singular importância dessas estradas para a região de Piratininga cujos destinos aparecem assim representados em um panorama simbólico. Aqui o sentido é de as estradas estão representadas num parorama simbólico.

    o resto já foi explicado em outros comentários.

    gabarito A.

  • “Às vezes, para dar maior realce a uma conclusão, que

    representa a síntese do que se vinha dizendo, usa-se o travessão

    simples em lugar dos dois pontos.

    Ex.: Deixai-me chorar mais e beber mais,

    Perseguir doidamente os meus ideais,

    E ter fé e sonhar — encher a alma.” (CUNHA, 1985)