Leia atentamente o poema A Flor e a Náusea, publicado em 1945, de Carlos Drummond de Andrade, escritor brasileiro, para responder à questão.
A Flor e a Náusea
Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre: Não, o
tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas,
alucinações e espera. O tempo pobre, o
poeta pobre fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são
surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova. As
coisas. Que tristes são as coisas,
consideradas sem ênfase.
Vomitar este tédio sobre a cidade. Quarenta
anos e nenhum problema resolvido, sequer
colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida. Todos
os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais E
soletram o mundo, sabendo que o
perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim. Ao
menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo e dou a poucos
uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua! Passem de
longe, bondes, ônibus, rio de aço do
tráfego. Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem
os negócios, garanto que uma flor
nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país
às cinco horas da tarde e lentamente
passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças
avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se
no mar, galinhas em pânico. É feia.
Mas é uma flor. Furou o asfalto, o
tédio, o nojo e o ódio.
Leia atentamente as afirmações a seguir:
I – A aproximação das palavras “melancolia”
e “mercadoria”, no terceiro verso, somadas à
informação presente no primeiro verso, mostram o
apreço do eu lírico pelo mundo mercantilizado e
capitalista.
II – Na terceira estrofe, percebe-se que a
esperança do eu lírico para a mudança do cenário
em que está inserido é pequena, dado que o
único elemento que consola os doentes é o sol,
embora tal consolo não produza muito efeito.
III – Na quarta estrofe, destaca-se a solidão
vivenciada pelo momento histórico, a ditadura
militar, já que as pessoas não conversam, não
trocam correspondências e se informam apenas
pelos jornais.
É (São) correta(s) a(s) afirmação(ões):