SóProvas


ID
1774570
Banca
FUNCAB
Órgão
ANS
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                   Arquimedes, o bom repórter

      Faz parte do meu ofício inventar. Mentir, sem qualquer consideração teológica. Preencher as páginas em branco, esforçando-me por criar heróis mesquinhos e sublimes. Um ofício que se funde com as adversidades do cotidiano e que, pautado por uma estética insubordinada, comporta todas as escalas morais, afugenta os ideários uniformizadores.

      A literatura brota de todos os homens, de todas as épocas. Sua ambígua natureza determina que os escritores integrem uma raça fadada a exceder-se. Seus membros, como uma seita, vivem na franja e no âmago da realidade, que constrange e ilumina ao mesmo tempo. E sem a qual a criação fenece. A arte dos escritores arregimenta a sucata e o sublime, o que se oxida em meio aos horrores, o que se regenera sob o impulso dos suspiros de amor. Apalpa a matéria secreta que sangra e aloja-se nos porões da alma.

      Há muito sei que a escrita não poupa o escritor. E que, ao ser um martírio diário, coloca-o a serviço do real. E enquanto este mero exercício de acumular palavras, de dar-lhes sentido, for um ato de fé no humano, a literatura seguirá sendo protagonista do enigma que envolve vida e morte. Uma arte que geme, emite sinais, desenha signos, e que constitui uma salvaguarda civilizadora perante a barbárie. Em cujas páginas batalha-se pelo provável entendimento entre seres e situações intoleráveis. Como se por meio de certos recursos estéticos fosse possível conciliar antagonismos, praticar a tolerância, ativar sentimentos, testar os limites da linguagem e da ambiguidade da solidão humana. Salvar, enfim, os seres trágicos que somos.

      Não sei ser outra coisa que escritora. Já pelas manhãs, enquanto crio, apalpo emoções benfazejas, sentimentos instáveis, a substância sob o abrigo do sinistro e da esperança. Tudo o que a realidade abusiva refuta. É mister, contudo, combater os expurgos estéticos para narrara história jamais contada.

      A criação literária, porém, que se faz à sombra da comunidade humana, aproximou-me sempre daqueles cujas experiências pessoais eram vizinhas no ato de escrever. Por isso, desde a infância, senti-me irmanada aos jornalistas no uso das palavras e na maneira de captar o mundo. E a tal ponto vinculada aos jornais que nos vinham a casa, já pelas manhãs, que disputava com o pai o privilégio de lê-los antes dele. De aproximar-me destas páginas vivazes que, arrancando-me da sonolência, proclamavam que a vida despertara antes de mim. O drama humano não tinha instante para começar, precedera-me há horas, há milênios.

PIÑON, Nélida. Aprendiz de Homero. Rio de Janeiro: Editora Record, 2008, p. 81-82, fragmento. 

Dos períodos compostos transcritos a seguir, aquele que está estruturado em relações de subordinação e coordenação entre as orações é:

Alternativas
Comentários
  • Letra d

    "Apalpa a matéria secreta que sangra e aloja-se nos porões da alma."



    Apalpa a matéria secreta (aquela que, a qual) sangra: Oração subordinada adjetiva

    E - síndeto de conjunção coordenada
    e aloja-se nos porões da alma: Oração coordenada sindética aditiva


  • Porquê as alternativas A e E também não possuem essa relação de coordenação e subordinação??

  • a)subordinada

    b)coordenada

    c)coordenada

    d)gabarito

    e)subordinada

    *caso me equivoquei em alguma,peço q m enviem inbox

    Iuri a A e a E não tem coordenação, elas são dependentes umas das outras,logo subordinadas~~> na A lê-se: há mto sei disso. e na E lê-se: sua ambígua natureza determina isso. (qdo tiver o QUE e vc conseguir substituir por isso e der sentido na frase a oração é subordinada.

  • NAS LETRAS A) E E) TEMOS UMA ORAÇÃO PRINCIPAL E UMA ORAÇÃO SUBORDINADA. A ORAÇÃO SUBORDINADA SÓ EXISTE PORQUE A PRINCIPAL A EXIGE, COMPLETANDO SUA ESTRUTURA. 
    A COLEGA SASÁ BEM EXPLICOU A SUBORDINAÇÃO EXISTENTE NELAS. EU COMPLEMENTO COM O SEGUINTE: NAS DUAS ALTERNATIVAS TEMOS ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS SUBJETIVAS, POIS EXERCEM FUNÇÃO SINTÁTICA DE SUBSTANTIVO. MAIS: TEMOS SUJEITO ORACIONAL EM AMBAS.

    GABARITO: D

  • Gabarito D

    "Apalpa a matéria secreta que sangra..."

    O que pode ser substituído por pronome relativo (a qual), logo O.S. Adjetiva. Como  o que não está isolado por vírgulas é Restritiva.

    "...e aloja-se nos porões da alma."

    O conectivo e passa ideia de adição portanto O.C. S. Aditiva.

  • questão repetida..

  • Ótima explicação do professor Alexandre!!!!!

    "Apalpa a matéria secreta que ( substituir a qual - relação /subordinada comparativa)sangra  e (coordenada aditiva) aloja-se nos porões da alma." LETRA D

  • Na letra C , existe coordenação sem síndeto, isso está claro. Porém, na sequência, surge o trecho: "esforçando-me por criar heróis mesquinhos e sublimes" Não há nesse trecho uma adverbial final?  

  • Também tenha a dúvida da Priscila... Tb enxerguei uma oraçãoo subordinada ali no finalzinho.

  • Quanto a alternativa "C":

    Se fossemos reescreve-la em ordem direta ficaria assim (pelo menos no meu entender):

    Eu me esforço para preencher paginas em branco ao criar heróis mesquinhos e sublimes

    Principal                    adverbial final                                    adverbial temporal

    Portanto, existe uma oração principal e duas orações subordinadas adverbiais (uma final e outra temporal).