SóProvas


ID
1774831
Banca
FUNCAB
Órgão
Faceli
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                    A língua que somos, a língua que podemos ser

                                             (Eliane Brum)

      A alemã Anja Saile é agente literária de autores de língua portuguesa há mais de uma década. Não é um trabalho muito fácil. Com vários brasileiros no catálogo, ela depara-se com frequência com a mesma resposta de editores europeus, variando apenas na forma. O discurso da negativa poderia ser resumido nesta frase: “O livro é bom, mas não é suficientemente brasileiro". O que seria “suficientemente brasileiro"? 

      Anja (pronuncia-se “Ânia") aprendeu a falar a língua durante os anos em que viveu em Portugal (e é impressionante como fala bem e escreve com correção). Quando vem ao Brasil, acaba caminhando demais porque o tamanho de São Paulo sempre a surpreende e ela suspira de saudades da bicicleta que a espera em Berlim. Anja assim interpreta a demanda: “O Brasil é interessante quando corresponde aos clichês europeus. É a Europa que define como a cultura dos outros países deve ser para ser interessante para ela. É muito irritante. As editoras europeias nunca teriam essas exigências em relação aos autores americanos, nunca".

      Anja refere-se ao fato de que os escritores americanos conquistaram o direito de ser universais para a velha Europa e seu ranço colonizador― já dos brasileiros exige-se uma espécie de selo de autenticidade que seria dado pela “temática brasileira". Como se sabe, não estamos sós nessa xaropada. O desabafo de Anja, que nos vê de fora e de dentro, ao mesmo tempo, me remeteu a uma intervenção sobre a língua feita pelo escritor moçambicano Mia Couto, na Conferência Internacional de Literatura, em Estocolmo, na Suécia. Ele disse: 

       — A África tem sido sujeita a sucessivos processos de essencialização e folclorização, e muito daquilo que se proclama como autenticamente africano resulta de invenções feitas fora do continente. Os escritores africanos sofreram durante décadas a chamada prova de autenticidade: pedia-se que seus textos traduzissem aquilo que se entendia como sua verdadeira etnicidade. Os jovens autores africanos estão se libertando da “africanidade". Eles são o que são sem que se necessite de proclamação. Os escritores africanos desejam ser tão universais como qualquer outro escritor do mundo. (...) Há tantas Áfricas quanto escritores, e todos eles estão reinventando continentes dentro de si mesmos.

[...]

       — O mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de contadores de histórias. (...) O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. Os autores africanos que não escrevem em inglês – e em especial os que escrevem em língua portuguesa – moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio.

[...] 

        Talvez os indígenas sejam a melhor forma de ilustrar essa miopia, forjada às vezes por ignorância, em outras por interesses econômicos localizados em suas terras. Parte da população e, o que é mais chocante, dos governantes, espera que os indígenas – todos eles – se comportem como aquilo que acredita ser um índio. Portanto, com todos os clichês do gênero. Neste caso, para muitos os índios não seriam “suficientemente índios" para merecer um lugar e para serem escutados como alguém que tem algo a dizer.

       Outra parte, que também inclui gente que está no poder em todas as instâncias, do executivo ao judiciário, finge que os indígenas não existem. Finge tanto que quase acredita. Como não conhecem e, pior que isso, nem mesmo percebem que é preciso conhecer, porque para isso seria necessário não só honestidade como inteligência, a extinção progressiva só confirmaria uma ausência que já construíram dentro de si.

[...] 

Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/ eliane-brum/noticia/2012/01/lingua-que-somos-lingua-que-podemos-ser.html>

Considere os períodos a seguir e proceda à sua análise sintática.

I. Anja fala alemão e também sabe português.

II. Anja, além de falar alemão, também sabe português. 

Alternativas
Comentários
  • Errei a questão pensando no seguinte:

    I- A conjunção "e" é uma conjunção coordenada aditiva.

    II- "Além ... também" dá ideia de adição.

    Corrijam-me por favor se eu estiver equivocado. 

  • Até que alguém me prove o contrário , eu creio que essa letra C está errada, pra mim as duas são por coordenação aditivas.

  • Acho que a segunda é subordinada adjetiva explicativa. 

  • Eu concordo com Rômulo e André.


    Oração coordenada sindética aditiva: transmite uma ideia de adição à oração anterior. 


    As principais são: e, nem, também, bem como, não só...mas também, não só...como também, tanto…como, não só…mas ainda, não só...bem como, assim... como, etc. 


    Na minha opinião o gabarito seria letra A


    Alguém poderia explicar o porquê da letra C?

  • Gabarito letra ( C )


    1º Oração Coordenada Sindética Aditiva 

    2º Oração Subordinada Substantiva Apositiva , sendo :

     Anja também sabe português. = Oração Principal

    , além de falar alemão, = Aposto


    Acredito que seja isso. 

  • Acho que a segunda oração é adjetiva explicativa, o examinador quis dificultar a questão e suprimiu o termo que. Para facilitar deveria está escrita assim: Anja, que além de falar alemão, também sabe português.

  • Acredito que seja isto:

     Anja, além de falar alemão, também sabe português

    "além de falar alemão" é uma oração reduzida de infinitivo (explicitada pelo verbo falar) que pode ser desenvolvida para "que também fala alemão", ou seja, trata-se de uma Oração Subordinada Adjetiva Explicativa Reduzida de Infinitivo.

  • essas banca fazem o que quer...aonde que explicativa cade o que na segunda oração...na minha opinião ambas são aditivas....

  • I - O.C. Aditiva "e";


    II - O.S. Adj. Explicativa, observe que está na forma reduzida de infinitivo ("... , além de falar alemão, ..."). Na forma desenvolvida seria: ... , que fala alemão, ...

  • rapaz o caba tem que engolir cada piti de banca...realmente a segunda claramente é uma adição.

  • Segundo a gramática de Fernando Pestana:

    1- As orações reduzidas de infinitivo podem ser: SUBSTANTIVAS, ADVERBIAIS e ADJETIVAS (hipótese do item 2 - repare que estas só podem ser orações subordinadas);

    2- As orações reduzidas do gerúndio podem ser: COORDENADAS ADITIVAS, SUBSTANTIVAS APOSITIVAS, ADJETIVAS OU ADVERBIAIS (aqui, admite-se a coordenação);

    3- As orações reduzidas do particípio podem ser: ADJETIVAS OU ADVERBIAIS (só podem ser orações subordinadas)

     

    logo, não é totalmente correto (segundo a referida gramática) afirmar que as orações reduzidas estão só para a subordinação, porque as reduzidas do gerúndio aceitam coordenação, as que admitem apenas a subordinação são as reduzidas do INFINITIVO e do PARTICÍPIO.

  • Fui pego pela vírgula kkkkkkk

  • Perfeito o raciocínio de alguns colegas no comentário: A II é uma oração subordinada reduzida de infinitivo.

  • Fico aliviado em ter errado ao marcar a A, por outro lado preocupação com o que as bancas fazem.

  • EU PENSEI ASSIM: ALÉM DE FALAR ALEMÃO... PRECISARIA DUMA ORAÇÃO(SUBORDINADA) PARA COMPLETAR O" ALÉM DE".

  • Marquei a alternativa A.

    Alguém sabe explicar, fiquei bem confusa