SóProvas


ID
1774834
Banca
FUNCAB
Órgão
Faceli
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                    A língua que somos, a língua que podemos ser

                                             (Eliane Brum)

      A alemã Anja Saile é agente literária de autores de língua portuguesa há mais de uma década. Não é um trabalho muito fácil. Com vários brasileiros no catálogo, ela depara-se com frequência com a mesma resposta de editores europeus, variando apenas na forma. O discurso da negativa poderia ser resumido nesta frase: “O livro é bom, mas não é suficientemente brasileiro". O que seria “suficientemente brasileiro"? 

      Anja (pronuncia-se “Ânia") aprendeu a falar a língua durante os anos em que viveu em Portugal (e é impressionante como fala bem e escreve com correção). Quando vem ao Brasil, acaba caminhando demais porque o tamanho de São Paulo sempre a surpreende e ela suspira de saudades da bicicleta que a espera em Berlim. Anja assim interpreta a demanda: “O Brasil é interessante quando corresponde aos clichês europeus. É a Europa que define como a cultura dos outros países deve ser para ser interessante para ela. É muito irritante. As editoras europeias nunca teriam essas exigências em relação aos autores americanos, nunca".

      Anja refere-se ao fato de que os escritores americanos conquistaram o direito de ser universais para a velha Europa e seu ranço colonizador― já dos brasileiros exige-se uma espécie de selo de autenticidade que seria dado pela “temática brasileira". Como se sabe, não estamos sós nessa xaropada. O desabafo de Anja, que nos vê de fora e de dentro, ao mesmo tempo, me remeteu a uma intervenção sobre a língua feita pelo escritor moçambicano Mia Couto, na Conferência Internacional de Literatura, em Estocolmo, na Suécia. Ele disse: 

       — A África tem sido sujeita a sucessivos processos de essencialização e folclorização, e muito daquilo que se proclama como autenticamente africano resulta de invenções feitas fora do continente. Os escritores africanos sofreram durante décadas a chamada prova de autenticidade: pedia-se que seus textos traduzissem aquilo que se entendia como sua verdadeira etnicidade. Os jovens autores africanos estão se libertando da “africanidade". Eles são o que são sem que se necessite de proclamação. Os escritores africanos desejam ser tão universais como qualquer outro escritor do mundo. (...) Há tantas Áfricas quanto escritores, e todos eles estão reinventando continentes dentro de si mesmos.

[...]

       — O mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de contadores de histórias. (...) O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. Os autores africanos que não escrevem em inglês – e em especial os que escrevem em língua portuguesa – moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio.

[...] 

        Talvez os indígenas sejam a melhor forma de ilustrar essa miopia, forjada às vezes por ignorância, em outras por interesses econômicos localizados em suas terras. Parte da população e, o que é mais chocante, dos governantes, espera que os indígenas – todos eles – se comportem como aquilo que acredita ser um índio. Portanto, com todos os clichês do gênero. Neste caso, para muitos os índios não seriam “suficientemente índios" para merecer um lugar e para serem escutados como alguém que tem algo a dizer.

       Outra parte, que também inclui gente que está no poder em todas as instâncias, do executivo ao judiciário, finge que os indígenas não existem. Finge tanto que quase acredita. Como não conhecem e, pior que isso, nem mesmo percebem que é preciso conhecer, porque para isso seria necessário não só honestidade como inteligência, a extinção progressiva só confirmaria uma ausência que já construíram dentro de si.

[...] 

Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/ eliane-brum/noticia/2012/01/lingua-que-somos-lingua-que-podemos-ser.html>

No último período do texto, identifica-se:

Alternativas
Comentários
  • Na minha opinião seria a letra "D", pois existe sim pelo menos uma locução verbal no período citado pelo enunciado. Fiquei com dúvidas! :/


  • "Outra parte, que também inclui gente que está no poder em todas as instâncias, do executivo ao judiciário, finge que os indígenas não existem. Finge tanto que quase acredita. Como não conhecem e, pior que isso, nem mesmo percebem que é preciso conhecer, porque para isso seria necessário não só honestidade como inteligência, a extinção progressiva só confirmaria uma ausência que já construíram dentro de si. "


    Alguém sabe o porquê de não ser gabarito letra D ?

  • A palavra "preciso", neste caso, não está empregada como verbo, por isso que não forma a locução verbal.

  • Segundo PESTANA, 2013

    1) Silepse de Número

    Usa-se um vocábulo em número diferente da palavra a que se refere para concordar com o sentido que ela tem.

    Flor tem vida muito curta, logo murcham.

    – Toda aquela multidão veementemente se insurgiu contra o governo. Estavam sedentos por justiça.

    Na questão:

    Como não conhecem e, pior que isso, nem mesmo percebem que é preciso conhecer, porque para isso seria necessário não só honestidade como inteligência, a extinção progressiva só confirmaria uma ausência que já construíram dentro de si. 

    Referindo-se à : gente que está no poder


    Acho que é isso, se alguém puder confirmar

  • O que é Silepse?

  • Lidia, Silepse é concordância ideológica, ou seja, deve concordar com algo que não foi escrito (que está oculto) na sentença. Temos silepse de gênero, número e pessoa. 

  • A silepse é a concordância que se faz com o termo que não está expresso no texto, mas sim com a ideia que ele representa. É uma concordância anormal, psicológica, espiritual, latente, porque se faz com um termo oculto, facilmente subentendido. Há três tipos de silepse: de gênero, número e pessoa.

    Silepse de Gênero

    Os gêneros são masculino feminino. Ocorre a silepse de gênero quando a concordância se faz com aideia que o termo comporta. Exemplos:

    1) A bonita Porto Velho sofreu mais uma vez com o calor intenso.
    Nesse caso, o adjetivo bonita não está concordando com o termo Porto Velho, que gramaticalmente pertence ao gênero masculino, mas com a ideia contida no termo (a cidade de Porto Velho).

    2) Vossa excelência está preocupado.
    Nesse exemplo, o adjetivo preocupado concorda com o sexo da pessoa, que nesse caso é masculino, e não com o termo Vossa excelência.

    Silepse de Número

    Os números são singular plural. A silepse de número ocorre quando o verbo da oração não concorda gramaticalmente com o sujeito da oração, mas com a ideia que nele está contida. Exemplos:

    procissão saiu. Andaram por todas as ruas da cidade de Salvador.
    Como vai a turmaEstão bem?
    povo corria por todos os lados e gritavam muito alto.

    Note que nos exemplos acima, os verbos andaramestão gritavam não concordam gramaticalmente com os sujeitos das orações (que se encontram no singular, procissãoturma povo, respectivamente), mas com a ideia de pluralidade que neles está contida. Procissão, turma e povo dão a ideia de muita gente, por isso que os verbos estão no plural.

    Silepse de Pessoa

    Três são as pessoas gramaticais: a primeira, a segunda e a terceira. A silepse de pessoa ocorre quando há um desvio de concordância. O verbo, mais uma vez, não concorda com o sujeito da oração, mas sim com a pessoa que está inscrita no sujeito
    Exemplos:

    O que não compreendo é como os brasileiros persistamos em aceitar essa situação.
    Os agricultores temos orgulho de nosso trabalho.
    "Dizem que os cariocas somos poucos dados aos jardins públicos." (Machado de Assis)

    Observe que os verbos persistamostemos e somos não concordam gramaticalmente com os seus sujeitos (brasileirosagricultores e cariocas que estão na terceira pessoa), mas com a ideia que neles está contida (nós, os brasileiros, os agricultores e os cariocas).

  • Acertei, mas o comentário do colega Marcelo elucidou ainda mais a questão.

  • Na letra d) Se pararmos para analisar o trecho no qual há uma possível locução verbal poderemos ver que não se trata de locução:

    "...nem mesmo percebem que é preciso conhecer..."

    Separando essa Oração Subordinada Ob. Direta da Principal e da conjução integrante:

    ...é preciso conhecer... Perguntando ao verbo: O que é preciso? Isso é preciso. Conhecer é Or. Sub. Subst. Sujetiva Reduzida de Infinitivo.

  • Marquei D.
    A questão diz q é a análise do último período, então a B não pode ser a resposta. Não?
    Já não sei mais nada kkkk

  • LEGAL!!!

  • HOORRRRÍÍÍÍÍVVVVEEEEEELLLLLLL

  • A questão menciona o ÚLTIMO PERÍODO. No entanto, deveria mencionar o ÚLTIMO PARÁGRAFO.
    Analisando o ÚLTIMO PARÁGRAFO percebemos então a silepse.
    Vejam:

    Outra parte, que também inclui GENTE que está no poder em todas as instâncias, do executivo ao judiciário, finge que os indígenas não existem. Finge tanto que quase acredita. Como não CONHECEM e, pior que isso, nem mesmo PERCEBEM que é preciso conhecer, porque para isso seria necessário não só honestidade como inteligência, a extinção progressiva só confirmaria uma ausência que já CONSTRUÍRAM dentro de si. 

    Na silepse (concordância ideológica) a estrutura GENTE CONHECE / GENTE PERCEBE / GENTE CONTRÓI (3ªp Singular) é feita na 3ª p Plural.
     

  • período ou parágrafo?

  •  "Outra parte, que também inclui gente que está no poder em todas as instâncias, do executivo ao judiciário, "Outra parte," finge que os indígenas não existem. "Outra parte," finge tanto que quase acredita. Como não conhecem e, pior que isso, "outra parte," nem mesmo percebem que é preciso conhecer, porque para isso seria necessário não só honestidade como inteligência, a extinção progressiva só confirmaria uma ausência que já construíram dentro de si. 

    [...] " Acredito que o termo que está em silepse e com o qual as três oração concordam em gênero, número e pessoa é "outra parte".

  • Como (Eles) não conhecem e, pior que isso, (Eles) nem mesmo percebem que é preciso conhecer, porque para isso seria necessário não só honestidade como inteligência, a extinção progressiva só confirmaria uma ausência que (Eles) já construíram dentro de si.

  • A palavra preciso é o predicativo do sujeito conhecer.

    É preciso conhecer ---> Conhecer é preciso.

    v.l p.s sujeito

  • Conhecem, percebem, e construíram indicam as três ocorrências de silpese, porquanto o verbo não está concordando em número com o sujeito "uma outra parte...", que se encontra no singular.

    Rumo à PMSC 2019

  • Galera, há oito semanas, comecei utilizar os MAPAS MENTAIS PARA CARREIRAS POLICIAIS, e o resultado está sendo imediato, pois nosso cérebro tem mais facilidade em associar padrões, figuras e cores.

    Estou mais organizado e compreendendo grandes quantidades de informações;

    Retendo pelo menos 85% de tudo que estudo;

    E realmente aumentou minha capacidade de memorização e concentração;

     Obs.: Alguns mapas mentais estão gratuitos o que já permite entender essa metodologia.

    Super método de aprovação para carreiras policiais, instagram: @veia.policial

    “FAÇA DIFERENTE”

    SEREMOS APROVADOS EM 2021!

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