SóProvas


ID
2337079
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
EBSERH
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      SOMOS OS MAIORES INIMIGOS DE NOSSA POSSIBILIDADE DE PENSAR

                                                                                                  Contardo Calligaris

       Um ano atrás, decidi seguir os conselhos de meu filho e abri uma conta no Facebook. A conta é no nome da cachorra pointer que foi minha grande companheira nos anos 1970 e funciona assim: ninguém sabe que é minha conta, não tenho amigos, não posto nada e não converso com ninguém. Uso o Face apenas para selecionar um “feed” de notícias, que são minha primeira leitura rápida de cada dia.

      Meu plano era acordar e verificar imediatamente os editoriais e as chamadas dos jornais, sites, blogs que escolhi e, claro, percorrer a opinião de meus colunistas preferidos, nos EUA e na Europa. Alguns links eu abriria, mas sem usurpar excessivamente o tempo dedicado à leitura do jornal, que acontece depois, enquanto tomo meu café.

      Tudo ótimo, no melhor dos mundos. Até o dia em que me dei conta do seguinte: sem que esta fosse minha intenção, eu tinha selecionado só a mídia que pensa como eu – ou quase. Meu dia começava excessivamente feliz, com a sensação de que eu vivia (até que enfim) na paz de um consenso universal.

      Mesmo na minha juventude, eu nunca tinha conhecido um tamanho sentimento de unanimidade. Naquela época, eu lia “L’Unità” e, a cada dia, identificava-me com o editorial. Não havia propriamente colunistas: a linguagem usada no jornal inteiro já continha e propunha uma visão do mundo. Ora, junto com “L’Unità” eu sempre lia mais um jornal – o “Corriere della Sera”, se eu estivesse em Milão, o “Journal de Genève”, em Genebra, e o “Le Monde”, em Paris. Nesses segundos jornais, eu verificava os fatos (não dava para acreditar nem mesmo no lado da gente) e assim esbarrava nos colunistas – em geral laicos e independentes, sem posições partidárias ou religiosas definidas.

      Em sua grande maioria, eles não escreviam para convencer o leitor: preferiam levantar dúvidas, inclusive neles mesmos. E era isso que eu apreciava.

      Hoje, os colunistas desse tipo ainda existem, embora sejam poucos. Eles estão mais na imprensa tradicional; na internet, duvidar não é uma boa ideia, porque é preciso criar e alimentar os consensos do “feed” do Face.

      O “feed” do Face, elogiado por muitos por ser uma espécie de jornal sob medida, transforma-se, para cada um, numa voz única, um jornal que apresenta apenas uma visão, piorado por uma falsa sensação de pluralidade (produzida pelo número de links).

      A gente se queixa que a mídia estaria difundindo uma versão única e parcial de fatos e ideias, mas a realidade é pior: não são os conglomerados, somos nós que, ao confeccionar um jornal de nossas notícias preferidas, criamos nosso próprio isolamento e vivemos nele. Como sempre acontece, somos nossos piores censores, os maiores inimigos de nossa possibilidade de pensar.

      De um lado, o leitor do “feed” não se informa para saber o que aconteceu e decidir o que pensar, ele se informa para fazer grupo, para fazer parte de um consenso. Do outro, o comentarista escreve, sobretudo para ser integrado nesses consensos e para se tornar seu porta-voz. O resultado é uma escrita extrema, em que os escritores competem por leitores tanto mais polarizados que eles conseguiram excluir de seu “jornal” as notícias e as ideias com as quais eles poderiam não concordar: leitores à procura de quem pensa como eles.

      Claro, que não é um caso de ignorância completa, mas a internet potencializa a vontade de se perder na opinião do grupo e de não pensar por conta própria. Essa vontade é a mesma que tínhamos no meu tempo de juventude – se não cresceu. O que temos, na verdade, é uma paixão pelo consenso.

      Entre consensos opostos, obviamente, não há diálogo nem argumentos, só ódio.

      Em suma, provavelmente, o resultado último da informação à la carte (que a internet e o “feed” facilitam) será a polarização e o tribalismo.

      Eu mesmo me surpreendo: em geral, acho chatérrimos os profetas do apocalipse, que estão com medo de que o mundo se torne líquido ou coisa que valha. Mas, por uma vez, a contemporaneidade me deixa, digamos, pensativo.

Texto adaptado de: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalli-garis/2016/09/1817706-somos-os-maiores-inimigos-de-nossa-possibili-dade-de-pensar.shtml

Referente ao trecho “Eu mesmo me surpreendo: em geral, acho chatérrimos os profetas do apocalipse, que estão com medo de que o mundo se torne líquido ou coisa que valha.”, é correto afirmar que

Alternativas
Comentários
  • GABARITO LETRA C.

     

    A expressão “em geralpode ser substituída, sem prejuízo de valor para a compreensão do texto, pela palavra “geralmente” e as palavras “chatérrimos” e “líquido” têm acentuação justificada pela mesma regra.

     

    >>EXPLICAÇÃO:


    1- expressões SINÔNIMAS podem ser sempre substituídas entre sí que não causam prejuízo na compreensão textual. 
    Sinônimos de "Em geral": de modo geral, geralmente, comumente, usualmente, habitualmente.

     

    2- Chatérrimos e Líquidos são proparoxítonas, portanto, ambas acentuadas pela mesma regra.

     

    Nos encontramos na posse. Avante amigos ;)

  • Dígrafo consonantal: É a presença de duas letras que representam um único som. Alguns dígrafos são inseparáveis, entretanto, há aqueles que não devem ficar juntos na divisão silábica. 

    Carro

    ssaro

    Abelha

    Guerrear

    Um conhecimento só é válido quando compartilhado

  • Vamos ao que segue....

     

    A- a palavra “surpreendo” possui tanto encontro consonantal quanto dígrafo e “profetas” está flexionada no feminino plural.

    ERRADA - Surpreendo tem encontro consonantal e dígrafo (primeira parte correta), mas "profetas" é MASCULINO (os profetas)

     

    B - a palavra “mesmo” é invariável e tanto a palavra “apocalipse” quanto a palavra “profetas” possuem dígrafo

    ERRADA - "mesmo" é invariável por ser um advérbio (primeira parte certa). Mas "apocalipse" e "profetas" NÃO possuem dígrafo.

     

    C -  a expressão “em geral” pode ser substituída, sem prejuízo de valor para a compreensão do texto, pela palavra “geralmente” e as palavras “chatérrimos” e “líquido” têm acentuação justificada pela mesma regra.

    CORRETA

     

    D - o verbo “acho” é transitivo direto e o verbo “surpreendo” está na forma nominal do particípio passado.

    ERRADA - O verbo "acho" é VTD (primeira parte certa). "Surpreendo" está no PRESENTE.

     

    E - tanto a expressão “me surpreendo” como a expressão “se torne” são reflexivas, ou seja, o sujeito pratica e, ao mesmo tempo, sofre a ação e o sujeito do verbo “estão” é “chatérrimos”.

    ERRADO - "me surpreendo" é reflexiva (peirmiera parte certa). "se torne" NÃO é reflexiva, pois o sujeito do v erbo não faz e sofre a ação ao mesmo tempo.

     

    Espero ter ajudado...

     

    Abraço

  • CHA-TÉR-RI-MO - PROPAROXÍTONA

     

    LÍ-QUI-DO - PROPAROXÍTONA

  • CHA-TÉR-RI-MO - PROPAROXÍTONA

     

    LÍ-QUI-DO - PROPAROXÍTONA

  • c-

    Locuções adverbiais podem ser substuídas por um advérbio equivalente na maioria dos casos: geralmente -> em geral. raramente -> em raros casos etc.Todas as proparóxítonas são acentuadas

  • Sobre a letra B a palavra mesmo é variável pois se fosse uma mulher escreveria ''eu mesma'', o erro está em dizer que a palavra  ''profeta'' possui dígrafo.

  • QUESTAO TOP CARA AOCP

  • Galera, gostaria de esclarecer a questão do MESMO ser invariável.

     

    Se o mesmo for um advérbio, realmente será invariável, como todos os advérbios o são.

     

    No entanto, no caso da questão, o mesmo não é um advérbio, é um pronome, VARIÁVEL, substituível pela palavra "próprio".

     

    Assim, na frase "Eu mesmo me surpreendo", seria naturalmente possível a variação para "Ela mesma se superpreende" ou "Eles mesmos se surpreendem".

  • Na letra E chatérrimos  não é sujeito do verbo estão.
    Ordem direta: Os profetas do apocalipse acho chatérrimos.E reparem que o sujeito do verbo achar ( Eu ) está elíptico
    Se alguém achar que estou equivocada me avise, mas acho que este que retoma os profetas.

  • O verbo é pronominal (me surpreendo). Certo galera?
  • GALERA ATENÇÃO AOS COMENTÁRIOS

    Devido aos erros encontrados nos comentários, feitas as devidas vênias (e abrindo possibilidade para o próprio erro), venho tentar esclarecer:

    "MESMO" não é advérbio nem pronome. Fica claro que não é advérbio, pois varia (Se o narrador fosse mulher, seria "Eu mesma", por exemplo). Também não é pronome pelo fato de ser PALAVRA DENOTATIVA DE REALCE. Notem que pronomes não podem ser retirados das sentenças e estas permanecerem com sentido completo. (Havia muita gente lá -> havia gente lá; Não lhe comprei o vestido -> não comprei o vestido etc etc). Percebam que a supressão do pronome faz com que a frase perca parcial ou totalmente seu sentido, o que NÃO ACONTECE COM PALAVRAS DENOTATIVAS DE REALCE que, por natureza, realçam, reforçam a ideia tratada. A função do MESMO na frase é reforçar a ideia de surpresa. Tanto é que a frase poderia ser reescrita como "Eu me surpreendo", sem perda de sentido, apenas perda do realce.

    Quanto à análise da Letra E, o verbo "surpreender" é, SIM, reflexivo. Isto porque admite outras conjugações não pronominais (Ex: Surpreendi os namorados se beijando -> sujeito EU; OD os namorados se beijando. NÃO HÁ PRONOME em relação ao verbo surpreender) Percebam que, para ser um verbo pronominal, essas hipóteses não podem existir, de maneira que o verbo é SEMPRE acompanhado de um pronome (suicidar-se, esforçar-se, queixar-se, candidatar-se etc).
    Já o verbo "tornar-se" é pronominal, uma vez que é impossível formular uma frase sem utilizar o pronome anexo. (se duvida, tente formular haha)

    Espero ter ajudado e peço desde já desculpas por eventuais erros.
    Grande abraço

  • Ao que tudo indica as provas de Nivel superior da AOCP SÃO INFINITAMENTE melhor formuladas do que as provas de nível médio.

     

    Tanto essa prova em tela quanto a prova de "INSTITUTO AOCP - 2017 - EBSERH - Analista Administrativo - Administração (HUJB – UFCG)"  vieram bem diferentes do padrão de formulação das provas de nível médio.

     

    As provas de nível médio sempre tem umas questões bizarras , alternativas subjetivas e mal formuladas , e as vezes até erros conceituais que são dados como certo.   

     

    I

  • Complementando..

    Classes da palavra "mesmo":

     

    1) Pronome - possível substituir por "próprio". ex: Ela mesma fez o relatório.

     

    2) Adjetivo - mesmo sentido de "igual". ex: Estudamos na mesma escola.

     

    3) Advérbio - possível substituir por "realmente". ex: Ele é mesmo confiável?

     

    4) Conjunção - possível substituir por "embora". ex: Mesmo chateado, ele a procurou.

     

    Fonte: Rafaela Mota

  • A) "Surpreendo" realmente possui encontro consonantal [PR] e Dígrafo [EN]. "Profetas" não está flexionada no feminino, pois é um substantivo sobrecomum.

    .

    B) "Mesmo" realmente é invariável. "Apocalipse" possui encontro vocálico [PS] e "profetas" possui encontro vocálico [PR].

    .

    C) "Em geral", no contexto, realmente pode intercambiar com "geralmente", pois indica uma situação ampla. "Chatérrimos" e "líquidos" são proparoxítonas terminadas em "OS".  [GABARITO]

    .

    D) "acho" realmente é VTD [Quem acha acha alguma coisa]. "Surpreendo" não está no particípio, mas no gerúndio [NDO].

    .

    E) "Me surpreendo" é pronome reflexivo (ele surpreende a si mesmo - ele mesmo se surpreende). "Se torne" também é reflexivo, pois o os profetas têm medo de que o mundo [SE TORNE - a si mesmo (o mundo), líquido ou coisa que valha]. O sujeito que pratica ação não é o mencionado, mas sim o pronome relativo "QUE", o qual apresenta como referencial "profetas do apocalipse".

    .

    Espero ter ajudado. 

    "Everything i do, i do it big. "

  • Mesmo É VARIÁVEL (eu mesmo/ela mesma/eles mesmos...) porque tem valor de PRONOME DEMONSTRATIVO ACIDENTAL
  • William Simmer,

    [PS] de apocalipse e [PR] de profetas é ENCONTRO CONSONANTAL e não encontro vocálico.

  • GABARITO C

     

    Dígrafo é quando duas letras emitem um único som! Teste os dígrafos dessas palavras: assar, banho, arroz, querido.

    Então, quando isso ocorre, chamamos de dígrafo, o qual compreende o seguinte grupo de letras: lhnhchrrssqu e gu (seguidos de e ou i), scxcxs.

  • 1 - Oque um encontro consonantal ?

    É a sequência de duas ou mais consoantes numa palavra, sem a existência de uma vogal intermediária.

    2 - O que é um dígrafo ?

    Encontro de duas letras em um único som.

    Surpreendo

  • Às vezes, MESMO funciona como pronome demonstrativo. Aí, concorda em gênero e número com o substantivo a que se refere: o mesmo jogoa mesma camisa, os mesmos jogadores, as mesmas partidas.

    1. chatérrimo e líquido são acentuadas pelos mesmo motivo, são proparoxítonas e TODAS as proparoxítona são acentuadas.

  • GAB C. São proparoxítonas, por isso são acentuadas; em geral pode ser substituída por geralmente.

  • gab c

  • GABARITO: LETRA C

    A opção C está correta. Estão incorretas as demais opções, porque

    A) a palavra “surpreendo” apresenta encontro consonantal rp e dígrafo en, mas o feminino plural de “profetas” é “profetizas”;

    B) a palavra “mesmo”, no trecho destacado no enunciado, pode variar em gênero e número, dependendo de a que pessoa o pronome “eu” se refere, e as palavras “apocalipse” e “profetas” não possuem dígrafos, somente encontros consonantais “ps” e “pr”, respectivamente;

    D) o verbo “acho” é transitivo direto, mas o verbo “surpreendo” está no presente do indicativo (“surpreendido” é o particípio do verbo “surpreender”);

    E) as expressões “me surpreendo” e “se torne” são reflexivas, mas o sujeito do verbo “estão” é o pronome relativo “que”, cujo antecedente é “profetas”.

    FONTE: Evanildo Bechara para concursos : ENEM, vestibular e todo tipo de prova de Língua Portuguesa.

  • 1 - Mesmo não é advérbio, mas sim, pron. demonstrativo. A feminina poderia dizer: "eu mesma me surpreendo."

    2- "Surpreendo-me" não se trata de uma voz reflexiva, há uma voz ativa e o verbo é pronominal acompanhado de parte integrante.

  • a expressão “em geral” pode ser substituída, sem prejuízo de valor para a compreensão do texto, pela palavra “geralmente” e as palavras “chatérrimos” , e “líquido” têm acentuação justificada pela mesma regra

    Faltou essa vírgula em vermelho bem ali pra melhorar a compreensão dessa questão, por isso tava parecendo sem sentido, cada vez mais acredito que os examinadores são estagiários que ainda estão na graduação, assim a banca economiza dinheiro