SóProvas


ID
4521898
Banca
CONTEMAX
Órgão
Prefeitura de Pedra Lavrada - PB
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Cultura clonada e mestiçagem

    Levantar hoje a questão da cultura é colocar-se em uma encruzilhada para a qual convergem, embora também se oponham, o avanço da globalização e a persistência das identidades nacionais. Mas a cultura não pode mais, presentemente, construir-se sem uma tensão constitutiva, existencial e vital entre o universal, o regional, o nacional e o comunitário.

     Apesar de as culturas se manterem arraigadas em seus contextos nacionais, torna-se cada vez mais difícil acreditar que os conceitos tradicionais de identidade, povo ou nação sejam "intocáveis". De fato, jamais nossas sociedades conheceram ruptura tão generalizada com tradições centenárias. Devemos, porém, indagar se as evoluções contemporâneas, em geral apresentadas como possíveis ameaças a essas tradições, inclusive a do Estado-nação, não constituiriam terrenos férteis para a cultura, ou seja, favoráveis à coexistência das diversidades. Um duplo obstáculo seria então evitado: a coesão domesticada e a uniformização artificial.

      O primeiro obstáculo advém da fundamentação do modelo hegemônico de identificação em uma cultura única, total, dominante, integrativa. Esta era percebida como algo estático e definitivo. Era brandida como uma arma, cujos efeitos só hoje avaliamos: neste século, vimos as culturas mais sofisticadas curvarem-se à barbárie; levamos muito tempo até perceber que o racismo prospera quando faz da cultura algo absoluto. Conceber a cultura como um modo de exclusão conduz inevitavelmente à exclusão da cultura. Por isso, o tema da identidade cultural, que nos acompanha desde as primeiras globalizações, é coisa do passado.

        Mas a cultura não deve emancipar-se da identidade nacional deixando-se dominar pela globalização e pela privatização. As identidades pós-nacionais que estão surgindo ainda não demonstraram sua capacidade de resistir à desigualdade, à injustiça, à exclusão e à violência. Subordinar a cultura a critérios elaborados nos laboratórios da ideologia dominante, que fazem a apologia das especulações na bolsa, dos avatares da oferta e da demanda, das armadilhas da funcionalidade e da urgência, equivale a privá-la de seu indispensável oxigênio social, a substituir a tensão criativa pelo estresse do mercado. Neste sentido, dois grandes perigos nos ameaçam. O primeiro é a tendência atual a considerar a cultura um produto supérfluo, quando, na realidade, ela poderia representar para as sociedades da informação o que o conhecimento científico representou para as sociedades industriais. Frequentemente se esquece que reparar a fratura social exige que se pague a fatura cultural: o investimento cultural é também um investimento social.

     O segundo perigo é o "integrismo eletrônico". Das fábricas e dos supermercados culturais emana uma cultura na qual o tecnológico tem tanta primazia que se pode considerá-la desumanizada.

     Mas como "tecnologizar" a cultura reduzindo-a a um conjunto de clones culturais e pretender que ela continue a ser cultura? A cultura clonada é um produto abortado, porque, ao deixar de estabelecer vínculos, deixa de ser cultura. O vínculo é seu signo característico, sua senha de identidade. E esse vínculo é mestiçagem - portanto o oposto da clonagem. A clonagem é cópia; e a mestiçagem, ao contrário, cria um ser diferente, embora também conserve a identidade de suas origens. Em todas as partes onde se produziu, a mestiçagem manteve as filiações e forjou uma nova solidariedade que pode servir de antídoto à exclusão.

         Parafraseando Malraux, eu diria que o terceiro milênio será mestiço, ou não será.


PORTELLA, Eduardo. Texto apresentado na série Conferências do Século XXI, realizada em 1999, e publicado em O

Correio da Unesco, jun., 2000

Analise os itens abaixo e assinale a alternativa INCORRETA:

Alternativas
Comentários
  • Queremos a alternativa incorreta;

    A) O vocábulo destacado em “Devemos, porém, indagar se as evoluções contemporâneas, (...)” (2º parágrafo) assume um papel coesivo sequencial com valor condicional.

    → Incorreto, o se em destaque é uma conjunção subordinativa integrante, que introduz uma oração subordinada. Não é classificado como conjunção de valor condicional.

    GABARITO. A

  • Complemento : as conjunções : se , como ,que = isso ( conjunções integrantes que iniciam orações substantivas )

  • Não vi ditongo em mestiçagem.

  • onde tem ditongo em mestiçagem ?

  • Em mestiçagem, na última sílaba, o E é a vogal e o M é a semivogal.

  • Fernanda, o digongo em "mestiçagem" existe! e está no "em", quando temos "em", "am", por exemplo, no final das palavras, temos o chamado ditongo nasal.

    Desta forma, a letra D está correta.

  • Lembremos da fonética em mestiçagEI.
  • GABARITO -A

    a) Devemos, porém, indagar se as evoluções contemporâneas...

    Devemos indagar / isto...

    Há uma conjunção integrante que introduz o que vai ser dito..

    A melhor classificação seria oração subordinada substantiva objetiva direta.

    ---------------------------------------------

    b) A inserção do artigo definido “o” depois do pronome “cujos” na passagem “(...) cujos efeitos só hoje avaliamos (...)” (3º parágrafo) implicaria grave problema gramatical.

    São regras do cujo:

    1º Não deve haver artigo após o " cujo" .

    2º O cujo indica posse e liga ( regra ) substantivos.

    A moça cuja bolsa era vermelha

    3º A concordância do Cujo é com termo subsequente.

    -------------------------------------------------------

    c) As orações destacadas nos excertos “(...) vimos as culturas mais sofisticadas curvarem-se à barbárie (...)” (3º parágrafo) e “(...) perceber que o racismo prospera.” (3º parágrafo) assumem o mesmo papel sintático.

    ( Nós ) Vimos / isso / as culturas mais sofisticadas curvarem-se à barbárie

    Oração subordinada substantiva Objetiva direta

    levamos muito tempo até perceber / isso / que o racismo prospera 

    Oração subordinada substantiva Objetiva direta

    ---------------------------------------------------------------

    d) Todos os seguintes vocábulos retirados do texto “mestiçagem”, “globalização”, “persistência” e “nacionais” apresentam ditongo em sua estrutura.

    UMA DICA DO MEU PROFESSOR : Geralmente confundimos O EM com dígrafo , né?

    Mas quando esse cara aparece no final da sílaba = Ditongo nasal.

    EX: sabem;

    cantam;

    falam;

    ----------------------------------------------

    e) Cuidado com esse camarada!

    Nos prefixos com o "CO "

    1) Pelo Acordo Ortográfico de 2008, o prefixo co sempre se acopla à palavra seguinte diretamente, sem intermediação de hífen. Exs.: cobeligerante, cocontratado, codemandante, cofundador, cogerência, cotutor.

    2) Não se abre exceção nem mesmo para a hipótese de ser o elemento seguinte iniciado por vogal. Exs.: coacusado, coadministrador, coapelante, coarrendante, coautor, coeditor, coeducador, coexistência, coigual, coindicação, coobrigar, cooperação, coordenação, counívoco.

    3) Para a hipótese de ser o segundo elemento iniciado por r ou s, dobram-se tais consoantes para permanência do som do vocábulo original. Exs.: correferência, correlação, corresponsabilidade, corréu, cossecante, cossegurador, cossignatário.

    4) Duas observações importantes: a) quando o segundo elemento tem h, perde-se esse h, e se juntam os elementos sem hífen (coabitar, coerdeiro); b) ainda que o segundo elemento se inicie pela mesma vogal que encerra o prefixo, mesmo assim não há hífen (coobrigado, cooperar, coordenação).

  • Eu sabia que Am Em EIm Om e Um eram digrafos , mas ditongos ? essa é nova pra mim.

  • Há inúmeras temáticas abarcadas pela questão, a saber:

    → Classificação da partícula "se", que pode exercer o papel de elemento expletivo, pronome reflexivo, conjunção integrante, conjunção condicional, etc.;

    → Classificação de orações subordinadas substantivas, que exercem várias funções sintáticas: sujeito, predicado, objeto (direto ou indireto), complemento nominal, etc.;

    → Fonologia, especialmente o ditongo (encontro de duas vogais na mesma sílaba).

    a) O vocábulo destacado em “Devemos, porém, indagar se as evoluções contemporâneas, (...)” (2º parágrafo) assume um papel coesivo sequencial com valor condicional.

    Incorreto. Trata-se de uma conjunção integrante, ou seja, introduz uma oração subordinada substantiva objetiva direta (objeto direto);

    b) A inserção do artigo definido “o” depois do pronome “cujos” na passagem “(...) cujos efeitos só hoje avaliamos (...)” (3º parágrafo) implicaria grave problema gramatical.

    Correto. Após o pronome relativo "cujo", não se insere artigo definido de nenhum tipo, p.ex. o, os, a, as;

    c) As orações destacadas nos excertos “(...) vimos as culturas mais sofisticadas curvarem-se à barbárie (...)” (3º parágrafo) e “(...) perceber que o racismo prospera.” (3º parágrafo) assumem o mesmo papel sintático.

    Correto. Ambos os segmentos sublinhados são objetos diretos oracionais (oração subordinada substantiva objetiva direta) do respectivo verbo a que se referem;

    d) Todos os seguintes vocábulos retirados do texto “mestiçagem”, “globalização”, “persistência” e “nacionais” apresentam ditongo em sua estrutura.

    Correto. Nesta ordem estão os ditongos: "em" (no final da palavra afigura-se ditongo, e não dígrafo vocálico), "-ão", "-ia" e "-ai";

    e) O vocábulo destacado na passagem “(...) favoráveis à coexistência das diversidades.” (2º parágrafo) está corretamente grafado da mesma forma que o vocábulo “coerdeiro”.

    Correto. O prefixo "co-" aglutina-se sempre ao elemento seguinte, ainda que este comece com vogal idêntica: coocupante, coobrigar. Se começar com "h", esta é suprimida: coabitação, coabitante, etc.

    Letra A

  • Lembremos que DITONGO é o encontro de 2 sons vocálicos na mesma sílaba.

  • O "m", quando tem som de "i" e está apoiado numa vogal, vira semivogal: "Mestiçagei"

    O prefixo "co" aglutina-se com o segundo elemento: co + herdeiro -coerdeiro

  • Patética essa questão.

  • LETRA A

  • QUERO COMENTÁRIOS EM VÍDEOS

  • Ditongo Fonético!

  • "Devemos, porém, indagar se as evoluções contemporâneas, (...)” (2º parágrafo). O vocábulo em destaque é uma conjunção integrante e introduz uma Oração subordinada Substantiva Objetiva Direta. Não tem valor condicional.

    GABARITO: A

    "DESISTIR NUNCA; RETROCEDER JAMAIS. FOCO NO OBJETIVO SEMPRE."

  • O que isso tem a ver com Fonética?

  • LETRA A

  • Gente, alguém me explica o por que da alternativa D está certa. Eu não vejo ditongo em todas as palavras

  • Pq a letra E está errada ?

  • Como que "mestiçagem" possui ditongo se não tem nem uma vogal do lado da outra na palavra?

  • Na palavra MESTIÇAGEM o ditongo está grifado em vermelho. Lembrem-se de que as letras -m e -n podem ser consoantes (no início de palavras ou sílabas), semivogais (semivogal porque acompanha vogal e soa como uma, porém com menos tonicidade) ou constituir dígrafos vocálicos (dígrafo porque são duas letras que representam um único som e vocálico porque o som que representa é de uma vogal). Basta olhar a pronúncia:

    • MESTIÇAGEM - /m/,/e/,/s/,/t/,/i/,/S/,/a/,/j/,/~e/,/i/.

    > Veja que o m no final da palavra serve para nasalizar a vogal e também funciona como semivogal. Observe mais exemplos:

    • CANTAM - /c/,/ã/,/t/,/ã/,/u/ <=> o n da palavra faz parte de um dígrafo vocálico e serve apenas para nasalizar a vogal; o m é uma semivogal e tem som de u (ou de o, não importa). :. CANTAM tem 6 letras, 5 fonemas.

    • TAMBÉM - /t/,/ã/,/b/,/~e/,/i/ <=> o primeiro m constitui um dígrafo vocálico, já o segundo é uma semivogal e tem som de i. :. TAMBÉM tem 6 letras, 5 fonemas.

    • PARABÉNS - /p/, /a/, /r/, /a/, /b/, /~e/, /i/, /s/ <=> o n é uma semivogal e tem som de i. :. PARABÉNS tem 8 letras, 8 fonemas.

    • BANANA - /b/, /ã/, /n/, /ã/, /n/, /a/ <=> observe que as duas letras "n" são consoantes, pois estão em início de sílabas e seus sons são pronunciados, mesmo que também sirvam para nasalizar as vogais antecedentes. :. BANANA tem 6 letras, 6 fonemas.

    • QUINTO - /K/, /~i/, /t/, /o/ <=> o n da palavra faz parte de um dígrafo vocálico e serve apenas para nasalizar a vogal; observe também que QU também é um dígrafo, porém um dígrafo consonantal, pois as duas juntas representam um único som, que é de uma consoante (neste caso o K). :. QUINTO tem 6 letras, 4 fonemas.
  • essa é pra entrar com recursos

  • EM (EN)

    AM (AN)

    no final das frases constituem encontros vocálicos!

  • Olá, pessoal. Eu também errei essa questão, embora tivesse estudado ela há um certo tempo rsrsrs.

    "AM" ou "EM", em final de palavras, formam, na fonética, os sons de "/ãu/" e "/ẽi/", respectivamente. Daí porque dizer que existe ditongo, mesmo que nasal.

    "(...) Geralmente os ditongos nasais são aqueles que aparecem seguidos de "m" e de "n" na mesma sílaba (frequente, quando), são aqueles que levam o acento til (anão, mãe, mão) e o "ui" juntos na mesma sílaba (muito).

    Observação:

    Além dessas ocorrências, temos também as formas "em", "en", "am", e "ens" em final de palavras.

    Exemplo clássico desse caso: "também" (tã/bẽi), "mestiçagem" (mes/ti/ça/gẽi)

    A palavra "também" possui o ditongo nasal "em". Isso acontece porque a consoante "m" dessa sílaba, por estar em final de palavra, tem o som de "ei", como se estivéssemos dizendo "tambei". Portanto, pela característica sonora, dizer "também" é o mesmo que dizer "tambei" e, portanto, temos o ditongo "ei", que em linguagem fonética é representado por [ey], pelos fonemas /e/ e /y/. Não se esqueça que essa propriedade ocorre com as formas "em", "en", "am" e "ens" em final de palavras (...)"

    FONTE: <ttp://www.blogdogramaticando.com/2012/10/ditongo.html>. Acessado em 03 de maio de 2021.

  • Qual papel sintático é esse da letra c??

  • Coesão Sequencial - Eles são representados pelas conjunções, pelos advérbios e preposições, e podem exprimir ideias diversas (e não por pronome se).