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ID
4942681
Banca
CETRO
Órgão
TCM-SP
Ano
2006
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto a seguir para responder à questão.


    Como nosso modo de ser ainda é bastante romântico, temos uma tendência quase invencível para atribuir aos grandes escritores uma quota pesada e ostensiva de sofrimento e de drama, pois a vida normal parece incompatível com o gênio. Dickens desgovernado por uma paixão de maturidade, após ter sofrido em menino as humilhações com a prisão do pai; Dostoievsky quase fuzilado, atirado na sordidez do presídio siberiano, sacudido pela moléstia nervosa, jogando na roleta o dinheiro das despesas de casa; Proust enjaulado no seu quarto e no seu remorso, sufocado de asma, atolado nas paixões proibidas – são assim as imagens que prendem nossa imaginação.

    Por isso, os críticos que estudaram Machado de Assis nunca deixaram de inventariar e realçar as causas eventuais de tormento, social e individual: cor escura, origem humilde, carreira difícil, humilhações, doença nervosa. Mas depois dos estudos de JeanMichel Massa é difícil manter este ponto de vista. 

    Com efeito, os seus sofrimentos não parecem ter excedido aos de toda gente, nem a sua vida foi particularmente árdua. Mestiços de origem humilde foram alguns homens representativos no nosso Império liberal. Homens que, sendo da sua cor e tendo começado pobres, acabaram recebendo títulos de nobreza e carregando pastas ministeriais. Não exageremos, portanto, o tema do gênio versus destino. Antes, pelo contrário, conviria assinalar a normalidade exterior e a relativa facilidade da sua vida pública. Tipógrafo, repórter, funcionário modesto, finalmente alto funcionário, a sua carreira foi plácida. A cor parece não ter sido motivo de desprestígio, e talvez só tenha servido de contratempo num momento brevemente superado, quando casou com uma senhora portuguesa. E a sua condição social nunca impediu que fosse íntimo desde moço dos filhos do Conselheiro Nabuco, Sizenando e Joaquim, rapazes finos e cheios de talento.

    Se analisarmos a sua carreira intelectual, verificaremos que foi admirado e apoiado desde cedo, e que aos cinqüenta anos era considerado o maior escritor do país, objeto de uma reverência e admiração gerais, que nenhum outro romancista ou poeta brasileiro conheceu em vida, antes e depois dele. (...) Quando se cogitou fundar a Academia Brasileira de Letras, Machado de Assis foi escolhido para seu mentor e presidente, posto que ocupou até morrer. Já então era uma espécie de patriarca das letras, antes dos sessenta anos.  

    Patriarca (sejamos francos) no bom e no mau sentido. Muito convencional, muito apegado aos formalismos, era capaz, sob este aspecto, de ser tão ridículo e mesmo tão mesquinho quanto qualquer presidente de Academia. Talvez devido a certa timidez, foi desde moço inclinado ao espírito de grupo e, sem descuidar as boas relações com grande número, parece que se encontrava melhor no círculo fechado dos happy few. A Academia surgiu, na última parte de sua vida, como um desses grupos fechados onde a sua personalidade encontrava apoio; e como dependia dele em grande parte o beneplácito para os membros novos, ele atuou com uma singular mistura de conformismo social e sentimento de clique, admitindo entre os fundadores um moço ainda sem expressão, como Carlos Magalhães de Azeredo, só porque lhe era dedicado e ele o estimava –, motivos que o levaram a dar ingresso alguns anos depois a Mário de Alencar, ainda mais medíocre. No entanto, barrava outros de nível igual ou superior, como Emílio de Meneses, não por motivos de ordem intelectual, mas porque não se comportavam segundo os padrões convencionais, que ele respeitava na vida de relação.

    Sendo assim, parece não haver dúvida que a sua vida foi não apenas sem aventuras, mas relativamente plácida, embora marcada pelo raro privilégio de ser reconhecido e glorificado como escritor, com um carinho e um preito que foram crescendo até fazer dele um símbolo do que se considera mais alto na inteligência criadora.

CANDIDO, Antonio. Esquema de Machado de Assis. In: Vários escritos. 3ª ed. ver. e ampl. São Paulo: Duas Cidades, 1995.

Sobre o terceiro parágrafo do texto acima, levando-se em consideração as recomendações da gramática normativa tradicional, é correto afirmar que

Alternativas
Comentários
  • Bem resumidamente explico o que leva a alternativa C) ser correta.

    A) portanto não serve para enfatizar nada e, sim, serve para concluir algo. ERRADA

    B) 3ª pessoa do plural = eles. Logo, deveria ser conviriam para concordar. ERRADA.

    C) Introduz uma explicação de como foi a carreira do indivíduo. CORRETA

    D) Não faz referência a homens.., pois, se fizesse, deveria ser suas vidas (concordando em número) ERRADA

    Com quem sua faz referência: - Só lendo o texto para saber rsrs. Creio que concorda com a pessoa da qual fala o texto.

    E) Tipógrafo = regra das proparoxítonas, “repórter + funcionário = regra das paroxítonas. ERRADA

    GABARITO C)

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  • GABARITO C

    A) no quarto período, as vírgulas que isolam a conjunção “portanto” são dispensáveis, já que esse termo, na frase, serve apenas para enfatizar o imperativo negativo de “exagerar”.

    Não exageremos, portanto, o tema do gênio versus destino. Antes, pelo contrário (...)

    As vírgulas não são dispensáveis , uma vez que as conjunções coordenativas conclusivas, se deslocadas para qualquer parte da oração, são separadas por vírgula sempre: “Os atores fizeram um grande espetáculo; toda a plateia, portanto, os aplaudiu efusivamente (toda a plateia os aplaudiu efusivamente, portanto). (903 )

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    B) o verbo “convir”, no quinto período, está na terceira pessoa do plural por concordar com o termo “o tema do gênio versus destino”.

    conviria assinalar a normalidade exterior e a relativa facilidade da sua vida pública. 

    1º A concordância não é com “o tema do gênio versus destino”.

    2º  não está na terceira pessoa do plural 

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    C) no sexto período, a vírgula que antecede a oração “a sua carreira foi plácida” pode ser trocada, sem prejuízo semântico para o texto, por dois pontos.

    Segundo a gramática, usamos dois pontos para introduzir Introduzir uma explicação ou enumeração.

    ex: Não é homem inteligente: Apenas estuda muito.

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    D) o pronome possessivo “sua”, no quinto período, faz referência aos “homens que acabaram recebendo títulos de nobreza e carregando pastas ministeriais”.

    Sua - Não faz referência a Homens

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    E) as palavras “tipógrafo”, “repórter” e “funcionário”, no sexto período, inserem-se numa progressão semântica e são acentuadas pelo mesmo motivo.

    Tipógrafo - proparoxítona

    Repórter - paroxítona terminada em R

    Funcionário - Paroxítona terminada em ditongo.

    Bons estudos!

  • Na Alternativa D, o pronome possessivo “sua”, no quinto período, faz referência a MACHADO DE ASSIS. Para verificar isso, tem que ler o parágrafo anterior.

    BONS ESTUDOS!!!